Não são poucas as pessoas que chegam para falar comigo sobre as questões da PJ. Conhecidas ou não, daqui da minha realidade ou não, iniciantes, militantes, assessores, coordenadores, afastados, contrariados, religiosos, consagrados, homens ou mulheres, todo tipo de gente vem falar comigo.
Há um tema recorrente entre estas várias fontes: nossa organização. Para mim, isto acaba indicando uma demanda reprimida e uma necessidade real de se conversar sobre o assunto. Enfim, queria partilhar da mesma perguntar com vocês: a nossa organização pastoral é um peso?
Se alguém lhe diz que a organização da PJ é uma superestrutura, carregada demais, com instâncias, coordenações demais, hierarquias demais, como você responderia?
E, se uma jovem lhe pergunta como deve agir quando é convidada a assumir um serviço pastoral na diocese e tem que se afastar da sua jornada semanal junto ao seu grupo de base, qual seria sua orientação?
E quando um militante se mostra desiludido com os novos líderes que estão nas atuais coordenações de sua região dizendo que estes só buscam status e mordomias, o que dizer disto?
A primeira coisa que deve ficar clara é que nenhuma destas situações é uma palavra final, ou seja, nenhuma delas significa uma morte derradeira no trabalho pastoral. Há possibilidades que podem ser executadas e esclarecimentos que precisam ser feitos.
Proponho três os olhares para podermos lançar luzes sobre estas questões: um olhar sobre a relação missão/estrutura, sobre o papel das instâncias e sobre as pessoas que estão nos papéis de coordenações, representações ou assessorias.
Quando falamos da relação missão/estrutura, é preciso que esteja bem claro quem está a serviço de quem. As instâncias precisam ser facilitadoras do processo de evangelização. Tenho claro para mim (e espero que para você também) que a estrutura, a organização, não é um fim em si mesma. Se ela existe, está aí para facilitar a missão pastoral. E para mim é certo que nossa estrutura não é ruim. Creio que seja ela quem nos garanta a facilidade de termos uma mesma identidade pastoral nos diversos cantos do país.
Quando falamos do papel das instâncias e olhamos para nossa estrutura pastoral, inicialmente eu vejo três coisas. A primeira delas: não é uma superestrutura, como alguns alegam por aí. É uma organização pastoral idêntica a da CNBB: comunidade, paróquia, diocese, regional e nacional (com algumas variações e acréscimos aqui ou ali). Ou seja, é uma estrutura hierárquica sim. E como fazer para que ela não seja um instrumento de determinação ou de poder de umas instâncias sobre as outras. Quando entendemos que poder é igual a serviço.
A segunda coisa que se pode perceber ao olhar para nossas instâncias é que, historicamente, sempre nos orgulhamos de que nosso processo de formação de lideranças é nascido na base, que a nossa formação é integral e que o importante é não queimar etapas. Mas esta não é a realidade em muitos lugares. Conheço algumas dioceses, por exemplo, nas quais não existe coordenação diocesana e são pegos alguns jovens a dedo para começarem o processo de organização diocesana de cima para baixo, ou seja, da diocese para os grupos. Numa primeira fala, não digo que isto seja bom ou ruim. Digo que é uma constatação. E digo que não é assim que aprendi nos meus primeiros anos de pastoral. Se isto é uma nova tendência (ou não), que discutamos em esferas mais amplas da pastoral.
E a terceira coisa que se observa nas instâncias pastorais é que existe a grande tentação de acharmos que uma é mais importante que a outra. Isto se nota de forma bem clara nos discursos que apontam que a “essência” pejoteira está nos grupos de jovens. Não, não está. Não existe pastoral da juventude só com grupos de jovens, como também não existe PJ só com as estruturas. Deixe-me tentar ser mais claro: não existe PJ sem articulação de grupos, não existe PJ sem grupos e grupos isolados são somente grupos isolados. Mas disto eu já tratei noutro texto sobre Identidade e Articulação.
E os nossos representantes? A instância existe. E deve ser ocupada por alguém. Há algumas tentações que atrapalham os processos pastorais. Há quem ache que estas instâncias são algo ruim e para lá mandam jovens que pouco ou nada representam justamente para esvaziá-las. Há quem ache que as estruturas são fontes de status e tentam a todo custo estar lá só para tentarem parecer melhores do que são ou para não retornarem para suas paróquias ou grupos. Em ambos os exemplos, estes não são coordenadores de fato da Pastoral da Juventude. (Já falei disto também sobre o papel das representações).
Um pejoteiro de fato sabe que não é coordenador ou representante para sempre. Sabe que deve ajudar a preparar alguém melhor do que ele para ficar em seu lugar. Sabe que apesar de toda a articulação e do sacrifício que ela traz consigo é preciso estar sempre junto daqueles a quem ele representa. Claro que eu sei que nada disso é algo simples ou tranquilo. Eu já provei do gosto bom da atividade que deu certo e da crítica ácida quando o erro é cometido. E já senti o frescor do carinho alheio quando foi preciso recomeçar e o fogo amigo que sem querer acaba nos queimando e machucando. E digo com toda a certeza, tudo valeu a pena.
Então, retomando, creio que para aqueles que se sentem incomodados seja preciso requalificar melhor a crítica. Não temos uma superestrutura. É a mesma da CNBB. Não temos uma organização hierárquica para mandar e desmandar nas bases. Quando você está num serviço de representação é isto que deve acontecer: estar a serviço de quem você representa e contribuir na coordenação daquela instância, observando a missão da Igreja e contribuindo no processo de evangelização.
E, se me perguntarem se há outra forma de tentarmos organizar a pastoral de forma que seja mais leve a atualizada para os nossos tempos, eu talvez diga que sim. Pessoalmente tenho alguns pensamentos a respeito, mas como o texto de hoje ficou um pouco longo isso vai ficar para o futuro.