Enquanto eu escrevia o texto “Pejoteiros, o reencontro”, algumas imagens e situações me vinham à mente, mas não pude escrever tudo o que imaginei. Na verdade, ele foi um apanhado de situações que me serviram de mote para algumas ideias vieram fervilhando na cabeça desde então.
Muito falamos dos bons exemplos e das posturas positivas na pastoral. Do quanto é importante ser assim, falar daquela forma ou agir desta maneira. Mas nem sempre somos tão bons assim. E toleramos as pequenas falhas por sermos todos passíveis de errar. Por vezes fazemos vistas grossas aos desvios dos companheiros e companheiras que coordenam ou lideram nossos grupos. Ou, pior, passamos a ignorar os preceitos pastorais e cristãos e concordamos com algumas atitudes destas mesmas pessoas.
Isso me deixa profundamente chateado, não porque eu seja perfeito, longe disso. Mas nosso testemunho de vida, como já disse aqui, é elemento formador. Você é exemplo para a turma que vem chegando. Que boa leitura esses rapazes farão da sua vida? Como as moças buscarão inspiração naquilo que você faz?
Claro, a raiz disso tudo está no Evangelho e na prática de Jesus. E é aí que mora o “perigo” para você. Na hora em que a turma confrontar os frutos da vida de Jesus com o pomar que você cultiva na sua vida, o que é que eles vão poder colher?
Padre Jorge Boran, em seus escritos, nos presenteou com três maus exemplos de coordenações que ainda hoje insistem em povoar nossos grupos e comunidades. São três casos clássicos que valem a pena ser retomados: o ditador, o paternalista e o liberal.
O ditador é aquele jovem que concentra as decisões em si. Ele manda e os outros obedecem. Os outros só dependem dele e de suas opiniões. Não há protagonismo, há delegação de atividades. A turma pode ser empolgada no começo, mas com o tempo perde a capacidade de iniciativa e caem em formalismos. Há muitos grupos assim. E há muitas lideranças que inconscientemente defendem atitudes centralizadoras, de umas poucas cabeças pensantes e de um grande grupo executor. É um erro pastoral grave.
O paternalista é uma variação do ditador. Na prática, ele não acredita na capacidade criativa dos demais do grupo e assume as decisões. Ele não obriga os jovens pelo poder da imposição, mas pelo caráter afetivo. Todo mundo depende dele e dos seus conselhos de “pai”. No fundo, ele tem medo de que algum novo líder desponte e assuma o grupo. Por isso, as tarefas mais importantes são assumidas por ele. Aquelas mais simples, pelos jovens. Grupos assim pecam enormemente porque esquecem um preceito básico da PJ: um bom coordenador é aquele que prepara outras boas lideranças para ficar no seu lugar.
O liberal, ao contrário dos outros, não centraliza, não impõe, mas também não decide. É um “poste” na coordenação do grupo. Foge dos conflitos. Espera as coisas se resolverem por si sós. É inseguro, não instrui, não motiva. É a reunião pela reunião. Sua única qualidade é o laço afetivo que cria com os demais. Porém isso não sustenta. Sua falha é a omissão. E como existem grupos assim!
Poderia citar outros modelos negativos que, na prática, são um contratestemunho pastoral. Há por exemplo, o líder desagregador que não busca o consenso, a discussão sadia, mas somente a postura irritante em ser “do contra”. Este sujeito não possui a capacidade de empatia, de se colocar no lugar do outro. Por vezes possui um grupo de seguidores que vivem numa lógica autodestrutiva dentro do grupo. Se não for corrigido, levará o grupo ao fim.
Há o “chefe da panela”, que lidera um subgrupo dentro do grupo maior. A falha é justamente achar que este seu pequeno feudo deve se defender e proteger das outras “panelas” do grupo. Então surgem as fofocas, as conversas atravessadas, a pouca integração. Embora estejam no mesmo grupo, faz questão de firmar uma identidade própria e classificar os demais como “os outros”. Sem correção fraterna, também esta é uma postura autodestrutiva.
Por fim (sem esgotar todos os perfis de contratestemunho), há também aquele perfil de coordenação “sedento pelo poder”. Seu foco não está no cumprimento dos objetivos do grupo, da pastoral ou da Igreja. Seu horizonte é subir os degraus e estar próximo de quem manda, é obter o status da glória. Atropela programações e cronogramas para poder inserir intervenções das autoridades, adula padres, coordenadores de comunidades ou pastorais e quer estar bem com qualquer um que mande. O grupo é um instrumento nesta busca pelo poder. Não importam os jovens. Se eles não atrapalharem, este coordenador é até capaz de demonstrar afeto pelo grupo.
Triste isto, não é? O pior é que muitos são assim porque não vivenciaram de fato uma formação pastoral autêntica e completa. Eles não tiveram uma correção fraterna nos momentos de falha, não foram devidamente acompanhados por assessores que quisessem o seu bem, não foram confrontados com a prática e a prática de Jesus. Claro que não é um caminho simples e nem indolor. A pastoral da juventude tem dois instrumentos ricos e importantes que contribuem neste processo: a revisão de vida e a revisão de prática. É preciso usá-los. Corrigir estas posturas é uma das etapas no processo de formação de bons líderes pastorais.