sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Vida e morte do grupo


Igreja não é destino, já dizia um pároco que me acompanhou há algum tempo. Mal comparando é como se fosse um posto de gasolina. Ninguém vai para o posto para permanecer o tempo todo lá, a não ser os funcionários. Posto de gasolina é lugar de passagem, as pessoas abastecem seus veículos e vão para seus destinos. O combustível é essencial para o desenrolar da viagem, sem ele, os veículos não andam. Assim também é a nossa comunidade de fé. Não vamos para lá para ficar entre as quatro paredes. A evangelização do mundo acontece fora delas. Mas é importante que se celebre a fé. Isso nos anima a continuar e não nos deixa abater diante dos problemas que todos os dias aparecem”.

Este parágrafo é de um artigo deste blog que tratava da Igreja como fonte da espiritualidade pejoteira. As duas questões que trataremos hoje dizem respeito direta e indiretamente ao assunto deste exemplo: qual o espaço de sermos cristãos católicos e até quando o grupo deve existir?

37.    Evangelizar quem? E por quê?


O texto que abre este artigo é bem claro na resposta. A grande missão de todo cristão católico acontece fora das paredes da Igreja. E a tal “grande missão” não é abarrotar o templo de novos e fervorosos seguidores, porque isto acaba por ser uma consequência. Quem vive no dia a dia seguindo a prática de Jesus e os valores do Reino acaba se tornando uma semente no meio da sociedade e anima outras pessoas neste mesmo seguimento, não pelo discurso, mas pela vivência.

A maioria dos grupos de jovens que eu conheci tem uma prática quase que totalmente dentro da estrutura das igrejas, seja animando outras pastorais, celebrações, quermesses ou outras práticas religiosas. É uma área de “conforto”, onde as reações são praticamente previsíveis e constantes. Iniciar uma prática fora dos muros é dar um passo no escuro.

Não há como negar que seja um desafio fazer pastoral com quem teve pouca ou nenhuma vida comunitária. Mas aí é que está a beleza e a riqueza desta prática: descobrir, através deste desafio que existe vida fora da Igreja e um universo pastoral a ser encarado.

Conheci dezenas de jovens que se encantaram com o trabalho concreto de fazer pastoral com tantos outros jovens que não conhecem a vida e a prática de Jesus. Eles são destinatários preferenciais. Com esta percepção, abre-se um vasto caminho de engajamento dentro da verdadeira ação da Igreja.

A PJ está fervilhando de novas experiências, de novos caminhos que os jovens estão buscando de compromisso com a transformação social. Um grupo missionário pode se tornar uma sementeira para novos grupos nascidos fora dos muros da Igreja, prontos para crescer e frutificar. É a mesma experiência de Paulo fundando comunidades nos primeiros anos do cristianismo.

38.     Quanto tempo deve durar o meu grupo?

Não se assuste quando digo que um grupo de jovens deve morrer. Um grupo de jovens não vive para sempre porque não se é jovem para sempre. Claro que há comunidades em que existem grupos de jovens com 15 ou 20 anos. Mas não permaneceu o mesmo grupo por todo este tempo. Na verdade, o que se manteve foi o nome, com uma alternância entre seus membros.

Mas um grupo tem que morrer. Morre porque a vida do grupo deve ser um processo de amadurecimento do jovem que o leva a fazer um projeto de vida, com desafios pessoais e comunitários. No grupo, o jovem deve ir avançando em sua consciência através da discussão de temas e de ações que envolvem o meio social em que ele vive. Não há um tempo pré-estabelecido para viver este processo, portanto.

Nesta etapa final de amadurecimento do grupo passa-se a refletir mais sobre temas como o desemprego, a fome, a política, etc. e a assumir atividades que têm em vista a mudança social, tais como o engajamento em campanhas políticas por candidatos que buscam mudar a situação do país em favor dos trabalhadores e dos excluídos; campanhas pela melhoria do ensino da escola do bairro, realização de jornais ou de programas de rádio para conscientizar a população etc.

Em geral, o grupo começa a viver uma crise em consequência dos compromissos que assume. Tem que enfrentar a oposição de alguns membros da Igreja, que não possuem uma visão mais aberta da realidade, e até mesmo de alguns padres. Os integrantes que só querem saber de diversão, ao perceberem as mudanças no grupo, acabam se afastando ou criticam o coordenador. Muitos definem determinadas atividades no grupo “mas na hora, só uma meia dúzia assume...” Tudo isso caracteriza um momento de crise que pode ser positiva na medida em que indica uma transformação que está acontecendo no grupo.

É hora de separar o “o joio do trigo”, aqueles que realmente estão comprometidos com o projeto de Jesus ficam, os outros saem. Mas isso não significa necessariamente uma perda, quer dizer que aqueles que saíram foram até o limite do que podiam oferecer. Levarão sempre consigo as coisas que aprenderam, e é até possível que voltem depois de um tempo. Os que ficam, aprenderão que estar no caminho do Reino exige renúncias e muita disposição para lutar. Porém, quando começam a colher os frutos de suas ações sentem-se recompensados e novamente cheios de esperança.

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