quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O caminho da vaca


Uma jovem senhora, numa palestra que eu fui, disse certa vez que a PJ não apresenta novidade nenhuma para os jovens. Afirmou que nossas práticas e discursos são os mesmos há 30 ou 40 anos. E que a PJ, suas coordenações e lideranças precisavam ser recauchutados. 

Creio que a maioria dos leitores deste blog não iria concordar com essa jovem senhora. Claro que cada um fala do ponto de vista de sua própria história. E o olhar dela não é nada positivo ou otimista. Mas ela está totalmente certa ou errada? Vamos analisar a fala dela parte por parte para começar.


- A falta de novidade para a juventude
Esta é uma afirmação rasteira que serve para encobrir vários tipos de falhas. Novidade e juventude, embora sejam termos próximos não podem ser associados automaticamente em todos os casos. Há jovens que se interessam por tradições das mais antigas e há jovens sedentos por novidades que são descartadas assim que tomam contato com elas. Então este não é o ponto. E a crítica não cabe aqui, porque já presenciei muitos jovens que desconhecem por completo a contribuição histórica da Pastoral da Juventude para a Igreja, seja na metodologia de grupos, na formação integral ou na elaboração dos projetos de vida. Para estes e tantos outros há sempre novidades.

- Práticas e discursos parados no tempo
Acusar a PJ de não atualizar o seu discurso e a sua prática é também uma afirmação rasteira. O tempo de vida de uma instituição não justifica tal afirmação, afinal a Igreja, os poderes públicos ou a televisão, por exemplo, são mais antigos que a PJ e esta afirmação não recai sobre eles. Há quem possa afirmar, nestes três casos apresentados, que há uma atualização no formato: a forma de agir da Igreja não é a mesma que nos anos de 1940, a participação popular é mais presente hoje nos poderes públicos do que era nos anos de 1920 e a TV é completamente diferente do que na época de sua inauguração no Brasil. Da mesma forma, não há como equiparar a PJ hoje com aquela dos anos de 1980. Nos quatro casos, o formato muda, mas os princípios são mantidos. 

- Lideranças que precisam de uma nova capacitação
Quem é que não concorda com isso? A formação pastoral é constante, permanente, continuada. Ninguém é senhor absoluto da verdade e nem o suprassumo de qualquer assunto. Sempre há novidades, sempre há desafios diferentes surgindo.

Tudo certo então? As críticas apresentadas são vazias, rasteiras e por isso devem ser ignoradas? Seria uma bobagem afirmar que sim. Certamente seria uma falha tirar a razão completa daquela jovem senhora porque estaríamos ignorando o ponto de vista dela. Há muitas situações em vários grupos que se encaixam nas situações por ela descritas.

Conheço umas tantas lideranças e grupos que se encaixariam perfeitamente na descrição dada. Alguns agem desta maneira por ignorância, por falta de atualização, enquanto outros por comodidade. É o que chamamos de Caminho da Vaca.

Diz um conto que há muito tempo uma vaca passava por um trecho de mata um pouco densa a procura de novas pastagens. De tantas vezes passar pelo mesmo caminho acabou tornando aquela via sinuosa a melhor passagem para quem queria chegar ao outro lado da mata. Pastores passaram a usar aquela trilha para levar suas ovelhas até àquele bom lugar. Muitas outras pessoas passavam por ali também. Uns tantos se queixavam das voltas que aquela trilha fazia, mas ninguém tentou um caminho diferente. Afinal, era o caminho conhecido. De uma trilha, acabou virando uma pequena estrada. De estrada, virou alameda. De alameda, virou avenida de uma grande cidade. E continuava ali, torta, sinuosa e fazendo com que centenas de pessoas, todos os dias repetissem o mesmo caminho da vaca.

Certamente há grupos e lideranças como os citados pela jovem senhora do começo do texto. Há de se pensar quantos deles ainda ficam repetindo o mesmo caminho da vaca, ou seja, repetindo fórmulas, frases, jeitos que não cabem para aquela realidade específica, ou que dão voltas e voltas para chegar ao objetivo, quando hoje já se sabe de metodologias, caminhos muito mais eficientes.

Se há algo a ser dito tanto a esta jovem senhora quanto aos grupos pejoteiros é: “não tema o diferente e não tema a novidade”. A crítica vinda num tom respeitoso é sempre bem vinda, por mais doída que seja. E há de se ter abertura para refleti-la, bem como para contra-argumentá-la. O diálogo é sempre uma boa saída. Inclusive para aprendermos a trilhar novos caminhos, fugindo do tão cômodo e conhecido caminho da vaca.

2 comentários:

  1. Querrido Rogério de Oliveira, fico muito feliz ao ler suas postagens. Tenho-o como um conselho particular da vida Pastoral.
    Agradeço a Deus por sua vida e missão de ajudar os outros a não desanimarem!
    "O CAMINHO DA VACA, tem suas vantagens e desvantagens, muito bem colocados por você.
    Tenho grande admiração pela sua pessoa e ponho em pratica as lições que você nos mostra de maneira única.

    ResponderExcluir
  2. cada dia me encanto mais com seus artigos, parabéns pelo seu trabalho.

    Sabe Rogério, as criticas dessa jovem Senhora não são assim tão infundadas. Sabemos que tem muita gente que não leva lá muito jeito para criticar, mas nós assessores, e tenho certeza que os coordenadores também, sabemos perfeitamente do que ela está dizendo. Enfrentamos esses problemas sim, temos que admitir e precisamos buscar soluções, investir mais na formação, mudar nossas posturas, nossos jeito de agir. Trabalhar com a juventude sempre foi complicado e cada dia surge um novo desafio.. temos que mudar.

    ResponderExcluir