quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Não é coincidência

Ele vinha caminhando pela avenida. Na sua cabeça vinham todas as obrigações que precisava fazer do outro lado da cidade. Máscara no rosto, álcool gel no bolso. Há dias não saia de casa para nada. Pelo menos ele poderia sentir a brisa matinal quando passasse pela ponte sobre o rio.

Quase ninguém na rua. Sua surpresa, no entanto, foi perceber que naquele vazio de pessoas havia uma figura solitária na calçada, parada em pé ao lado da mureta lateral da ponte bem no meio do caminho. Ela estava concentrada, olhos fixos no horizonte. Ele pode perceber isso, pois, a cada passo que dava, aquela pessoa se mantinha imobilizada.

A distância e a idade não permitiram que ele reconhecesse logo a pessoa. Mas a medida que se aproximava, não lhe restaram dúvidas. Era a “menina” Érica, dos seus tempos em que ele era assessor e ela do grupo de jovens. Vez ou outra eles se falavam por mensagens no celular. A graça de tudo é que ainda se referiam um ao outro como “menino” e “menina”, embora ela estivesse na casa dos 30 e ele na dos 40.