Era tarde, quase noite. Sexta-feira. Pessoas apressadas nas ruas, mal se olhavam. Cheias de compromissos, pensamentos distantes de seus corpos, passos largos. Alguns se dirigiam aos ônibus, outros caminhavam para as garagens. Um tanto de gente, porém, caminhava sem dar indicação do destino.
José era um destes últimos. Filho de paraguaios, trazia em seu rosto os traços indígenas que reportavam à ancestralidade dos primeiros povos desta América Latina. Também estava apressado. Vinha do trabalho e para economizar alguns trocados, ia a pé para a faculdade. Conseguira bolsa de estudos. Não poderia faltar.
Para ganhar um tempo, resolve sair do itinerário comum e rotineiro e pegar um atalho por baixo do viaduto. Se ele tivesse seguido seu caminho natural, talvez esta história não precisaria ser contada. Alguns jovens apareceram do nada. Sob o viaduto, José foi abordado. Abordado, agredido, insultado, desfigurado.