quinta-feira, 21 de julho de 2011

É a vista de um ponto


Eu me recordo bem de um dos encontros de formação que fizemos no Instituto Paulista de Juventude. Era um grupo de 50 jovens que batizamos de Ruah. Ao término daquele fim de semana, no momento de oração final, posicionamos 50 velas de tal maneira que elas formavam o nome do grupo. Contudo quando as pessoas entravam na sala, parecia apenas que eram velas posicionadas umas ao lado das outras, ao acaso. Contudo, ao se posicionarem num local estrategicamente pensado, era possível ter clareza da mensagem por trás daquela organização.

Assim foi no encontro, assim também é no restante de nossa vida. Nossa compreensão do mundo que nos cerca é estabelecida pelo nosso posicionamento e pelo olhar que temos a partir de onde estamos. É claro que há uma tendência da sociedade como um todo de padronização das práticas e costumes. Igrejas, escolas, a mídia e instituições em geral tentam normatizar o entendimento da realidade a partir daquilo que elas próprias concebem por padrão.


Jovens que participaram da PJ tem um diferencial neste processo. Eles aprenderam a exercitar a consciência crítica. Não é que olham tudo com ceticismo e desconfiança, mas sabem aplicar a frase de Leonardo Boff de que “todo ponto de vista é a vista de um ponto”, a partir do ponto de vista dos empobrecidos, excluídos e vitimizados. 

Ah! Então é um olhar puramente social? Um olhar para grandes agrupamentos humanos, muitas vezes deixados de lado nas decisões e distribuição da riqueza das nações? Não, não, não... O olhar pejoteiro vai além disso. É um olhar de quem sabe que Deus está do lado dessa gente que sofre. “Eu vi a miséria do meu povo, ouvi seus clamores, conheço seu sofrimento. Desci para libertá-lo e para fazê-lo ir a uma terra onde corre leite e mel” (conf. Ex 3, 7-8). 

Deus está ao lado do que sofre e está naquele que sofre. “Pois eu estava com fome e me destes de beber, com sede e me destes de beber, era estrangeiro e me acolhestes, estava sem roupas e me vestiram, doente e cuidaram de mim, preso e foram me visitar. (...) Todas a vezes que fizeram isso ao menor dos meus irmãos, foi a mim que fizeram” (O texto todo está em Mateus 25, 31-46).

E é um Deus que pede não a conversão externa, mas a mudança interior, verdadeira. Pois não é “todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’ que entrará no Reino dos Céus, mas quem obedece ao Pai”. (Mt 7,21). Ele deseja que rasguemos nossos corações (Jl 2,13), que façamos este processo de mudança, de conversão e que procuremos enxergar o mundo através do Seu olhar.

Então o jeito pejoteiro de olhar o mundo é através do olhar a partir do excluído, vítima de um sistema social injusto, contrário ao plano de Deus. E este mesmo Deus nos pede que nos convertamos pessoalmente e tentemos reverter este sistema de coisas, pois Ele mesmo é parceiro deste povo sofrido? Sim, é isto, mas vai além!

Neste mundo de exclusão, a PJ enxerga no jovem, em especial no mais pobre, a vítima principal. A sociedade sabe que o jovem tem um grande potencial. Mas ela não o entende. E tem medo do jovem. Por isso ele é a grande vítima. A PJ sabe que é preciso conhece-lo, estar próximo, quere-lo bem, buscar um diálogo.

Neste convívio, para superar o extermínio da juventude ou a sua transformação em massa de manobra, a PJ sabe que o potencial de cada jovem que cruza nossos grupos deve ser descoberto e exercitado para o bem comum para que ele consiga descobrir que é protagonista, não sendo submisso e nem sendo autoritário, mas trabalhando suas particularidades em vista de algo maior.

E a partir deste cuidado com a pessoa, a proposta pedagógica da PJ é que os jovens convivam em pequenos grupos. Neles, os jovens podem se conhecer melhor, aprender uns com os outros, tanto a superar suas próprias limitações como também a descobrir suas qualidades e dons.

E é preciso que consigamos ir além, superando esta visão tímida e limitada. Estudo, convivência, debate, diálogo, leitura, oficinas. É uma exigência natural. Preparar-se bem é uma tarefa importante. Principalmente para nós que costumamos remar contra a maré e a teimamos em olhar sempre de um outro ângulo. 

PS. Do seu ponto de vista, é possível enxergar neste texto as cinco dimensões da formação integral, proposta pela PJ? É possível ver a importância da pessoa, do grupo, da espiritualidade, da política e da capacitação?

PS2. Agradeço ao Fernando a foto que ele me emprestou para este artigo, mesmo que ele não saiba que o fez!!! #Tamojunto!

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