terça-feira, 15 de maio de 2012

E nosso coração ardia...


Era por volta das três da tarde. Camila subia a ladeira em direção a praça da matriz. Quando estava quase lá, ela encontra Daniel, parado em frente à banca de jornal tentando se atualizar das últimas notícias através das manchetes do dia anterior. Ela veio por trás dele e o abraçou. Já haviam se passado três meses que eles não se viam, mas o reencontro foi como se tivessem se esbarrado ontem.

O que fora um misto de alegria e surpresa pelo reencontro, foi dando lugar ao desencanto e a melancolia. Há três meses eles haviam dado fim a uma experiência que havia se arrastado por outros tantos 10 meses. Camila e Daniel nunca foram namorados. Eles eram coordenadores do grupo de jovens da matriz.

Muitas perguntas marcavam a conversa deles. “Será que valeu todo empenho, esforço, dedicação, dias e noites em preocupação para que o grupo desse certo?”, “Por que o grupo fracassou?”, “De quem é a culpa?”, “Por que não despertamos neles o gosto para ir além?”.


Eles falavam e caminhavam. Quando chegaram na praça da matriz, eles se sentaram num banco. A praça estava bem cheia, de modo que eles acharam lugar num banco onde um homem estava sentado e lendo um livro.

A tristeza sincera estava estampada no rosto dos dois jovens. Eles continuaram a falar dos tempos iniciais do grupo, das pessoas que faziam parte dele, da rotina dos encontros, das primeiras decepções e do contínuo descrédito que eles carregavam no peito. Estavam tão envolvidos em sua própria conversa que não repararam que o homem ao lado deles, já não estava mais lendo o livro e sim prestando atenção na história que ali se desenrolava.

- E vocês não procuraram ajuda? - quis saber o homem.

- Desculpe-me, mas nós o conhecemos?

- Acho que não. Eu nem sou daqui dessa cidade, vim de longe. Mas de onde vim, problemas com grupos como o de vocês acontecem a todo momento. Meu nome é José. Eu fiquei interessado nesta história, contem-me mais.

Por um motivo desconhecido, eles sentiram confiança de abrir seus corações àquele homem. Contaram tudo o que ocorrera com o grupo, desde o início até a dissolução. Chegaram ao ponto de achar que não tinham capacidade de coordenar qualquer grupo que fosse. José ouviu tudo o que eles disseram, mas não se mostrava mais compadecido daquela situação.

“Não sei o porquê, mas vocês fizeram muita coisa errada. Não sei como esse grupo não acabou antes”. A princípio eles se sentiram incomodados com reação de José, mas ele passou a falar de conceitos e práticas que eles desconheciam.

José comentou sobre as dimensões da formação integral, sobre as etapas da vida de um grupo, sobre o método ver, julgar, agir, rever e celebrar.  Sobre a fé cotidiana, fundamentada na prática e na experiência com Jesus; sobre ser Igreja Jovem, sobre o Reino de Deus. Sua fala era de uma empolgação sincera e os jovens não conseguiam parar de prestar atenção.

Então a tarde caiu e a noite apontou. Uma lua cheia iluminava o céu e José fez sinal de que era chegada a hora dele sair. Camila e Daniel se levantaram e encantados com seu novo amigo disseram para ele ficar um pouco mais. Eles haviam passado a tarde toda conversando. Era preciso comer e beber alguma coisa, afinal, já era noite. Os jovens fizeram questão de convidar José. Havia um bar bem convidativo na praça. Eles foram para lá.

Enquanto bebiam e comiam alguns lanches, José novamente falava sobre a necessidade de se conhecer e amar a juventude, de discutir seus problemas e partilhar seus sonhos, de se articular com outros grupos que partilham desta mesma caminhada, de não estar sozinhos nesta empreitada, de não desanimar nos primeiros obstáculos, porque ninguém disse que fazer pastoral da juventude é algo fácil, mas é algo que vale a pena.

Passada mais duas horas de conversa, entre sucos, cervejas, lanches e porções, José finalmente foi embora. Deixou para trás dois jovens com sorrisos nos lábios e com o coração ardendo de vontade de fazer algo mais.

Eles então se levantaram, foram para a casa da Camila e procuraram na internet alguma referência desta tal Pastoral da Juventude. Encontraram grupos articulados na cidade vizinha e o telefone da jovem que era coordenadora diocesana da PJ. Ligaram para ela e agendaram uma conversa. Queriam agora, mais do que nunca, rearticular a juventude da Matriz.

Um comentário:

  1. Rogério,

    Poético, profético!
    Nessas horas, nosso coração arde ao olhar pra trás, no passado que nos inspira e no presente que nos anima... Obrigado Rogério, por fazer arder nosso coração!

    ResponderExcluir