Eu acompanhei há uns meses uma assembleia de Pastoral da Juventude. Eles usaram o método Ver Julgar Agir para organizar a atividade. Estive presente nos dois primeiros momentos. No levantamento da realidade, os jovens (todos de grupos de base) eram convidados, entre outras coisas, a escreverem num papelzinho uma coisa boa que existia em seu grupo e uma coisa ruim.
Espantou-me, a princípio, ao ver que em mais da metade dos grupos foi apresentada a fofoca como sendo uma das coisas ruins que existiam em seus grupos. Digo que fiquei espantado inicialmente, mas depois pude refletir melhor e ver que não é tão espantoso assim.
O que é a tal da fofoca? Fofocar é falar, comentar, especular sobre a vida de outras pessoas, sem o compromisso com fatos concretos, apenas com a própria opinião. É como se fosse um achismo sobre a vida alheia, sem que o alheio fosse consultado a respeito.
E por que ela incomodou tanto os grupos de jovens daquela assembleia? Ora, fofoca não incomoda você? Ela desagrega e é oportunidade para que espalhem toda sorte de comentários a respeito das pessoas em pauta. Num grupo isso é ruim, pois pode criar rivalidades, “panelinhas” fechadas e desconfiança. Isto tudo atrapalha o grupo a chegar ao seu objetivo comum.
Se num grupo qualquer a fofoca já é ruim, imagine num grupo cristão? Imaginou, não é? Você até sabe contar um ou outro caso, certo? Fofoca é algo extremamente democrático. Está em todas as classes sociais, faixas etárias, níveis de maturidade, orientação sexual, opção futebolística ou etapas de grupos. Há sempre alguém que conheça idosas, homens, jovens, militantes, ateus, cristãos, corinthianos, (ou de qualquer outro rótulo que você queira escolher) que um dia já fofocaram no grupo em que essa pessoa fez parte.
Mas se ela desagrega, por que insistimos em falar da vida dos outros? Porque é no outro que nós nos reconhecemos. O próximo é nosso espelho onde podemos ver nossas qualidades ou repudiar nossos defeitos. E se há a possibilidade de que se veja no outro algo que seja reflexo daquilo que não gostamos em nós, é melhor jogar os refletores todos nele e que eu fique na penumbra.
Essa é uma possibilidade. A outra é mostrar para a “opinião pública” que a tal pessoa (vítima da fofoca) não é tão perfeita, tão legal, tão bacana assim. É o que vai na linha das revistas de “celebridades”. É o ato de destronar os ídolos e colocá-los novamente no mesmo patamar dos seres humanos “normais”.
Fofoca seria então um ato de justiça ou ação evangélica (Derruba do trono os poderosos, cantado por Maria no Magnificat)? Poderia até ser, se não fosse um detalhe já dado no início deste texto. Fofoca não tem necessariamente a ver com a verdade dos fatos, somente com suposições ou com fatos distorcidos. E é isso que incomoda nos grupos.
E o que aqueles grupos que citaram este problema poderiam fazer? Um grupo de jovens da PJ é um espaço de crescimento, de formação integral. As pessoas que participam dele não são perfeitas ou ideais e por isso cometem deslizes. Porém, nem tudo deve ser justificado por esta razão. Por ser um espaço de crescimento, de formação, o grupo tem que ajudar o jovem a ser melhor.
Algo que recomendo são as paradas para as Revisões de Vida. Retiros também são momentos significativos para estas reflexões sobre o caminhar particular e coletivo. Se o meu defeito atrapalha o andamento do grupo e o grupo me pede para melhorar, o meu amor pelo grupo e pelo projeto me fará mudar e melhorar. Revisões de vida e retiros são dois elementos que devem fazer parte sempre dos calendários dos grupos.
Mas é preciso também cuidar do cotidiano do grupo. Não dá para esperar o retiro para resolver os problemas e nem fazer revisão de vida toda a semana. Estamos falando de grupos de jovens e não de terapia em grupo.
Se a coordenação ou as lideranças do grupo percebem que há algo mal esclarecido acontecendo, é preciso trazer os fatos à luz. É preciso trazer as pessoas envolvidas para dizerem o que é a verdade. É preciso não deixar morrer ou fraquejar a confiança que os jovens depositam no grupo.
E uma última coisa: não demonizem a fofoca, mas também não a alimentem. Como já disse, ninguém está livre dela. Somos seres falíveis, mas que pela graça divina e pelo apoio dos irmãos e irmãs conseguimos levantar. A verdade é sempre o melhor remédio. Às vezes é amarga, mas com o tempo ajuda a aliviar e a curar. Cultivem a verdade.
Parabéns pelo texto. Obrigada por iluminar as nossas bases. Grande abraço!
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