terça-feira, 10 de abril de 2012

E se não existisse a PJ?

Passamos a pouco pela Semana Santa e quero crer que para muitos de vocês que leem este texto, foram dias de boas e relevantes reflexões. O tríduo pascal reúne as celebrações mais importantes da nossa fé cristã. E nos faz pensar sobre os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus.

Para mim, em particular, estes dias me fazem pensar que, apesar da dor, apesar das tristezas ou do sacrifício, a morte não tem a última palavra. Ela não é o fim das coisas. A vida prevalece afinal. A proposta boa de Jesus não poderia morrer e ficar sepultada naquele buraco na pedra. Não era possível que a morte dominasse Jesus, como lembra Pedro no discurso após o Pentecostes.

O que estaríamos fazendo hoje se a notícia da ressurreição não tivesse se espalhado pelo mundo? É possível que muito de nossa linguagem cultural, simbólica e política seria bem diferente. Mesmo entre aqueles que não creem, a influência cristã é relevante. Nossa sociedade é bem marcada por esta história. Sem a ressurreição toda nossa fé é vazia. E, claro, não existiria também a PJ.

Fazer o exercício do que seria o mundo sem o cristianismo já foi tema de livros e teses. Daria assunto para muita conversa. E se restringíssemos nosso olhar? O que seria um mundo sem PJ? Como você que lê este texto reagiria?

Antes de mais nada, vamos partir de dois pontos óbvios:
  1. A PJ é fruto de um contexto histórico que pediu a sua criação. Se olharmos o caminhar da Igreja no mundo e em especial no Brasil do final dos anos 1950 para cá, veremos que era necessário que algo assim surgisse após as conferências de Medellin e Puebla. Ou seja, pensar que a PJ não existe é deixar de lado toda a reflexão acumulada nestes anos todos e ignorar todo o pensamento da Igreja, em especial da Igreja Latino americana.
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  3. A PJ que engatinhava nos anos 1970, que começou suas articulações maiores nos anos 1980, que encarou suas crises nos anos 1990, que rediscutia sua identidade nos anos 2000 e que olha o presente e futuro com esperança nestes anos de 2010 nunca foi exatamente a mesma, embora não fosse contraditória em sua essência. Ou seja, a história fez com que nos adaptemos aos novos contextos. Não somos os mesmos, iguais ao longo desta caminhada, mas guardamos marcas e sinais comuns e importantes que nos identificam e nos caracterizam.
Deixando claro que estamos ignorando estes dois pontos, façamos o exercício: como seria o trabalho pastoral com a juventude sem a contribuição da PJ. É uma tarefa difícil de ser feita? Infelizmente não é. E explico o motivo.

Há muitas paróquias e dioceses onde a PJ não entra ou não se organiza. Há muitos jovens engajados nas comunidades que sequer sabem a que ela se propõe, que desconhecem sua história e que ignoram as opções da Igreja nestes últimos cinquenta anos. Nestes lugares a PJ não existe.

E como funciona o trabalho com a juventude onde não existe PJ? A tendência maior é pensarmos que as opções pastorais apontariam para o oposto daquilo que a PJ vive e prega:

  • Teríamos grupos de jovens com muitos participantes. Alguns deles teriam uma alta rotatividade de membros. A PJ valoriza pequenos grupos.
  • Não teríamos trabalho articulado entre grupos, paróquias e dioceses. A PJ se dá na articulação entre os grupos.
  • Seriam supervalorizadas as atividades de massa. Elas seriam o mote do trabalho. A PJ crê na importância destas atividades, mas dentro de um processo, não como fim em si mesmas.
  • O trabalho dentro da Igreja seria o ponto forte. A proposta maior seria trazer os jovens do mundo para a Igreja. A PJ acredita na importância da vivência comunitária, mas não como via exclusiva. Ela crê que é importante levar a proposta e experiência vivida na Igreja para fora dos muros eclesiais.
  •  Uma psicoafetividade reprimida. Pouca discussão sobre a vida política e social. A PJ crê na formação integral. Nenhum aspecto deve se sobrepor a outro. Somos seres humanos inteiros e não “departamentalizados”.
Parece um cenário bem ruim, não? Existiria esperança pastoral num mundo sem PJ? Claro que sim! Quem pode prender a esperança? Há quem não conheça o trabalho pejoteiro, mas que teria uma profunda identificação com ele se chegasse a conhecê-lo. Para estas pessoas, falta o contato, a aproximação, a apresentação da proposta. Elas são pejoteiras, mas não sabem ainda.

Onde não existe a PJ é preciso cria-la, inventá-la. Ela é útil e necessária. Importante e significativa, não nos enganemos quanto a isso. Aproveitemos a oportunidade que o ano de 2013 nos apresenta. A Juventude será o grande ponto de pauta nas discussões eclesiais. É preciso que nos organizemos para isso!
 

3 comentários:

  1. Eu adorei!!!
    obrigada.
    concordo que não se pode amar o que não conhecemos.
    Conheci a pj sua proposta e ela entrou na minha vida para ficar...a metodologia o jeito de ser não caduca não envelhece mas se renova com fidelidade criativa todos os dias...

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  2. Mais um ótimo texto do amigo Rogério!
    Parabéns emu amigo...continue a poetizar e proclamar vida em tua escrita!
    abração

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  3. Parabéns pelo texto!
    Ainda este fim de semana estava em um curso para assessores da PJ, e vimos o processo histórico da PJ por Jorge Boran, e tuas palavras complementam/reforçam muito bem o que vimos.
    Continue a animar nossa caminhada com este blog!

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