segunda-feira, 20 de maio de 2013

Vou cuidar melhor de mim


Partilho com vocês hoje um relato sobre uma moça que conheci. Ela era pejoteira e tinha uma enorme dedicação ao seu trabalho pastoral. Em todas as atividades nas quais era possível ela estar, ela estava. Tomava a frente das reuniões, debatia, assumia responsabilidades, dividia serviços, delegava tarefas. Era certeza sempre encontrá-la na dianteira das atividades ou cuidando da infraestrutura. Era muito perfeccionista. Ela dizia que a vida só vale se se está a serviço.

De repente, ela passou a frequentar pouco as reuniões, encontros, assembleias. Não foi de uma vez, foi lentamente. Quanto os colegas perceberam, ela não vinha mais. Alguns foram atrás de notícias. Afinal, quem assumiria a responsabilidade de tocar para frente “aquela” próxima atividade? 


Ela estava internada. A doença não era muito comum. Os médicos disseram que neste tipo de mal, a ansiedade era um fator complicador. E ela era muito ansiosa. Por este fato, seu estado de saúde havia se agravado. Ela sabia que isto poderia ocorrer, mas não era algo conhecido do grupo e ela mesma não acreditava que tal acontecimento fosse possível.

Quando ela estava no grupo, era cercada de outros jovens. Era um espelho de liderança, muitos gostavam de estar ao lado dela. Havia um grupo relativamente grande de líderes jovens que frequentemente ia a sua casa. Mas agora ela estava doente. Poucos foram visitá-la no hospital. Poucas pessoas entre aquelas que frequentavam a sua casa voltaram lá depois que ela teve alta hospitalar e ficou de repouso doméstico. Nem mesmo os telefonemas ou mensagens no celular foram de fato frequentes. Estavam todos muito ocupados. Afinal as atividades precisavam de uma continuidade e o tempo dessas outras lideranças era reduzido.

Sim, após uma longa recuperação a doença foi controlada a base de remédios e muita fé. E, ao contrário do que muitos de nós poderíamos pensar, ela continuou com seu trabalho pastoral, liderando muitos encontros, estando à frente de muitas atividades. Mas, agora, consciente que todos precisam cuidar melhor de si próprios. 

Ela passou a não se cobrar tanto e não exigir dos colegas o mesmo empenho que tivera outrora. O fato de ter estado doente e internada fez com que ela enxergasse a vida com outros olhos. Ela incentiva os outros a respeitarem os próprios limites. E ainda hoje continua achando que a vida só vale se se está a serviço. E que o serviço só é de qualidade se estamos cuidando bem de nós mesmos e uns dos outros.

Quantos de nós não conhecemos moças como esta ou rapazes com histórias parecidas? Quantos de nós somos ou já fomos assim: voluntariosos, dedicados, com a maior parte da nossa vida mergulhados no trabalho pastoral? Quantos de nós já não ouvimos que deveríamos levar a cama para a Igreja? Quantos somos perfeccionistas, detalhistas, empenhados em sempre fazer o melhor? E quantos se sentem profundamente felizes por tudo isso?

E quantos de nós também nos identificamos com os amigos-fãs? Sempre temos alguém que admiramos profundamente, que gostamos de estar perto, ligar, mandar mensagem, recadinhos nas redes sociais, visitar quando é possível, ouvir uma indicação de filme ou de livro. Alguém em quem nos espelhamos e com quem aprendemos muito?

E, ainda mais, quantos somos aqueles amigos-vacilões? Que consideramos o outro do grupo como um fazedor de coisas, um tarefeiro? Que cobramos presença, comprometimento, atitude e que largamos mão quando o jovem deixa de participar do grupo ou não acompanhamos a jovem que por um motivo grave não vem nas reuniões? Quem deixou de ligar? Eles ou nós? A quem dedicamos o tempo? Às atividades, compromissos, projetos ou às pessoas que dedicam ou dedicaram meses e anos das suas vidas a tudo isso?

Agora, quantos de nós teríamos a fé, a maturidade e o comprometimento de, apesar de ter sofrido tanto, voltar e motivar os outros a repensarem as suas vidas? Quantos deixaríamos de lado a mágoa e voltaríamos às mesmas atividades com o mesmo empenho e com um olhar diferente? Quantos de nós enxergamos a vida com o olhar do cuidado e finitude da própria existência? Quantos cuidamos de nós? Quantos cuidamos dos outros? E quantos ajudamos os outros a cuidarem de si próprios?

Sim, eu ouvi o relato, vi os fatos acontecerem e quanta gente aprendeu com esta moça. Ela ainda carrega a doença dentro de si, mas está controlada. Voltou por duas vezes a manifestar a doença e uma a se internar, mas hoje está bem. Esta foi uma de suas histórias. E ainda hoje eu aprendo muito com ela.

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