quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Conflitos na comunidade

Todo mundo que faz um trabalho pastoral já passou por isso. Um grupo faz comentários sobre o outro. Uma liderança não simpatiza com a outra. Alguém de um grupo faz algo que o outro grupo não concorda. Começam as fofocas, as intrigas, não se chega numa resolução e a coisa fica tensa.

O risco de alguém sair machucado dessa situação é enorme. E isso deveria sempre nos preocupar, sejamos nós pastoralistas, lideranças, coordenadores, participantes do conselho ou responsáveis de qualquer ordem. Isso deveria nos impactar porque somos seguidores de Jesus, porque abraçamos seu projeto e situações extremas assim, embora sejam humanas, não ajudam na construção de um mundo melhor.

Todos nós sabemos que o relacionamento humano gera tensões, que opiniões diversas sobre um mesmo tema são coisas cotidianas e que por isso devem aparecer. A situação exposta acima, porém, é a consequência ruim de uma discussão mal feita, de uma impressão falsa ou de falta de formação e acompanhamento. Nossa tarefa, como cristãos, é estarmos ligados à verdade e, por causa dela, falar o que se deve, de forma clara, compreensível e direto ao coração.

Jesus deixou um “roteiro” bem simples para quando situações desagradáveis de relacionamento interpessoal acontecessem. Está em Mateus 18,15-17. É uma escalada de possibilidades. Disse Jesus: “Se o seu irmão pecar:
1- vá e mostre o erro dele, mas em particular, só entre vocês dois. Se ele der ouvidos, você terá ganho o seu irmão.
2- Se ele não lhe der ouvidos, tome com você mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas.
3- Caso ele não dê ouvidos, comunique à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele der ouvidos, seja tratado como se fosse um pagão ou um cobrador de impostos”.

Esse é o roteiro. Mas e o espírito da conversa, como deve ser? Onde devemos nos avaliar e ajudar para que o outro possa se avaliar também? Se vocês me permitem uma sugestão, lanço mão de três observações que, acredito, precisam ser citadas.

- Estar numa pastoral é estar a serviço.
Nada é nosso ali, a não ser nossa disposição de fazer o bem da melhor forma possível. A gente se entrega inteiro porque seguimos o exemplo de Jesus que também se entregou inteiro. Fazer pastoral é ter cuidado com o que faz e, muito mais, com as pessoas, sejam elas do nosso grupo ou não.

- Estar a frente de um grupo é estar em evidência
Não pode, no entanto, ser motivo de vaidade pessoal ou de desdém por outras atividades pastorais. Quem está a frente é recebedor de elogios e críticas (mais estas do que aquelas). É preciso, porém, entender que o elogio é direcionado a uma ação bem feita em nome do bem, e não tomar para si. Além disso, precisa estar claro que, enquanto pessoas, somos muito mais do que os cargos e serviços que desempenhamos. Aí está nosso valor.

- Nós somos exemplos e damos testemunho da nossa fé com nossas atitudes.
Meu filho era bem pequeno e muito mais agitado. Numa missa das 18h00 ele ficou reparando na Coroinha e no serviço que ela fazia. Era um olhar de admiração. Percebi e perguntei para ele se estava gostando do serviço que via. Ele confirmou. Perguntei se um dia ele gostaria de ser coroinha. Ele perguntou como faria isso. Eu indiquei a coordenadora do grupo. Ele já a conhecia e disse que falaria com ela, pois ela gostava dele. E assim começou a caminhada.
Conto esta história porque creio que as pessoas olham para nós e precisam ver bons exemplos: de serviço, dedicação, amor ao próximo, cuidado com as pessoas, acolhida, caridade, misericórdia fidelidade ao Evangelho. Isso conquista os corações, cria proximidade, nos motiva a melhorarmos.

Torço que as pessoas compreendam isso um dia. Torço que consigamos gastar nossas energias em coisas que realmente demandem esforço. E que cada grupo e pessoa saiba onde contribuir sem machucar os outros.

Vida em comunidade é vida bonita. É espaço de descoberta e de amadurecimento. É espaço de conflito e de crescimento. Somos humanos e somos diferentes. A multiplicidade de opiniões é saudável. Partilhamos do mesmo Evangelho, da mesma Boa Nova. É de lá que, em nossa diversidade, buscamos a unidade. Na comunidade há lugar para todo mundo. É preciso boa vontade, acompanhamento e formação para nos colocarmos em nossas realidades como discípulos e discípulas de Jesus. Como Igreja em saída.

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