sábado, 29 de julho de 2017

A cultura nossa de cada dia

Corria o mês de abril do ano de 2010. No dia 21 daquele mês este blog nascia. E vinha ao mundo com uma inquietude que ainda persiste. Por que a Pastoral da Juventude é do jeito que é? E, se tem um jeito, que jeito é esse?

Não eram inquietações aleatórias e soltas no vento. Eu aprendi com muita gente, e ainda aprendo, o que é fazer Pastoral da Juventude. Neste sentido, eu já havia rascunhado alguns textos. Cheguei a pensar em publicá-los um dia. Mas a morosidade para concluir este projeto e uma demanda crescente por indicativos que respondessem a pergunta acima me fizeram tomar outro rumo.

Por onde começar um blog sobre a PJ? Parti da ideia de que a espiritualidade é um dos alicerces da nossa identidade. Os primeiros artigos foram quase todos nessa linha. O texto inaugural questionava: “O que é mesmo Espiritualidade Pejoteira?”. E partiu, como parte a nossa metodologia, a partir da vida. Dizia assim:


Procure um jovem e pergunte para ele o que ele entende por espiritualidade. Muitos não darão nenhuma resposta cheia de discursos teológicos. Outros dirão que tem a ver com “as coisas de Deus” ou que seria fazer a experiência de Deus. (...) Houve jovens que me disseram que espiritualidade é ver, julgar, agir segundo o Evangelho, seguindo aquilo que o Espírito Santo nos inspira, vivendo como filhos de Deus, sentindo a Deus presente em nossa vida por meio de Jesus Cristo”.

Partir da vida, das experiências concretas é a melhor forma de anunciar e testemunhar o Evangelho. Partilhar conhecimento, vivências, o contato, o afeto é o grande ganho pastoral. A proposta de Jesus pode ser reconhecida a partir do nosso cotidiano e é confrontada através dos sinais de vida e morte que passamos.

Ambos os sinais estão presentes por todos os cantos. Ignorar um em razão do outro é um erro, pois estamos imersos nos dois e isso faz com que a sociedade em que vivemos seja do jeito que é. Esse é um aspecto cultural. Se ignorar é um erro, o ato de valorizar alguns sinais, aspectos e vivências pode ser uma saída interessante. Vejamos.

Voamos no tempo, agora para meados do mês de julho de 2017. A jovem Lidiane deixava o serviço da coordenação nacional da PJ durante a Assembleia Regional do Norte 1. Aqui de São Paulo, eu cheguei a acompanhar remotamente a Assembleia que ocorrera em Roraima. 

A PJ é a mesma em todo país, mas em cada canto há particularidades que são próprias de cada região. Havia uma coisa presente naquela assembleia e que acontece muitas outras pelo Brasil afora, como também em nossos seminários, encontros, formações. Em cada localidade em que está organizada, a PJ procura abraçar a cultura local como forma de fortalecimento de nossas raízes e identificação evangélica.

O que isso significa? Que a turma daquela assembleia falava com os e as jovens de lá a partir da realidade em que eles e elas vivem. Assim acontece com a PJ no Nordeste, no Centro Oeste, no Sul e no Sudeste. Parte da riqueza da cultura do Norte estava presente naquela assembleia, pelo que vi nas fotos, pelo que li nos relatos e pelas falas da própria Lidiane.

O primeiro texto do blog dizia que “Se percebemos a presença de Deus no dia a dia das pessoas, notamos que em muitos lugares não há os sinais de vida que estava em Seu plano original. É essa mesma espiritualidade que motiva e movimenta o ser humano à luta pela justiça, pelos direitos dos pobres, para tornar a sociedade mais fraterna e solidária”.

E continuava: “O jovem que vive a Espiritualidade da Pastoral da Juventude tem prazer em celebrar esta fé. Fé que é enriquecida por muitas culturas, visualizada em muitas cores, cheiros e particularidades. Uma espiritualidade que acolhe e dá carinho às pessoas. Que nos move a estar a serviço, em comunhão, com profetismo em defesa da vida até as últimas consequências”.

A PJ, portanto, não faz dualismo e separação entre as coisas de Deus e as coisas do mundo. Vivemos no mundo. Sofremos as injustiças e, por vezes, somos até causadores de algumas. Mas é preciso que sejamos testemunhas dos sinais de vida que o Evangelho aponta.

E, particularmente, não vejo como sermos portadores destes sinais sem partir do chão que pisamos, das relações que fazemos, da cultura que vivemos, fortalecidos pela fé que professamos. Creio que não estou sozinho neste ponto de vista. De ponta a ponta deste país há muitos jovens como a Lidiane e a turma do Norte 1 que professam sua fé e são testemunhas do Reino a partir da realidade em que vivem. Graças a Deus.

2 comentários:

  1. Graças a Deus não estamos sós.
    Cada um de sua forma lutando pela desigualdade.
    Somos fagulhas Divina...somos todos iguais aos olhos do Criador.
    Muita luz em vossos projetos.

    ResponderExcluir
  2. Não estamos mesmo sozinhos. É preciso realmente combater a desigualdade sob a luz do Evangelho. Coragem!

    ResponderExcluir