Existem músicas que ficam em nossa memória afetiva e que por vezes voltam e ficam “martelando” em nossa cabeça. Para mim, há uma delas que sempre me traz boas recordações. Ela se chama Wave e é de Tom Jobim. Começa mais ou menos assim: “Vou te contar / os olhos já não podem ver / coisas que só o coração pode entender. / Fundamental é mesmo o amor. / É impossível ser feliz sozinho”.
É na lembrança desta música que eu gostaria de falar das nossas realidades de grupos de jovens. É característica da maioria dos jovens estar em grupos. Mas quando estão em grupos, é também característica a interação entre grupos diferentes? É possível ser feliz num grupo fechado? É necessário que os grupos diferentes se inter-relacionem?
É na lembrança desta música que eu gostaria de falar das nossas realidades de grupos de jovens. É característica da maioria dos jovens estar em grupos. Mas quando estão em grupos, é também característica a interação entre grupos diferentes? É possível ser feliz num grupo fechado? É necessário que os grupos diferentes se inter-relacionem?
Eu lembro bem quando me fizeram esta pergunta. Fui direto ao ponto. “Na minha opinião é sim. Próxima pergunta”. Claro que tinha um tom de piada na resposta e depois eu a fundamentei. Todos nós aprendemos a ser mais gente quando vemos e criamos relações com aqueles que são diferentes.
Que é importante conhecer outros grupos, sabemos que é. A questão interessante é entendermos em que momento isso deve se dar. Juventude chama juventude. Os jovens se atraem e se sentem atraídos uns pelos outros. Um grupo que está começando deve procurar conhecer outros grupos? Dentro do método da PJ, eu diria que não. O início de um grupo juvenil é momento de integração e busca por um objetivo comum.
As relações, tanto individuais como grupais, são frutos da troca de impressões e do conhecimento do que é o outro. É preciso ter uma “marca” própria para ir para uma relação com um diferente, mesmo que ela não seja definitiva. Se esta “marca” não existir, corre-se o risco de se anular perante o outro e/ou ser absorvido pelo que ele é ou pelo que acredita.
O que se oferece numa relação? As experiências que se carregam, os tombos e vitórias vividas, os sonhos a serem construídos. Se seu grupo está no início e vocês já querem partir para conhecer outros grupos, correm o risco de não terem o que partilhar enquanto grupo.
Por outro lado, é preciso perceber que os passos devem ser dados. Da mesma maneira que conhecemos gente diferente na nossa vida, é necessário que o grupo abandone a zona de conforto que vive para também se relacionar com grupos diferentes, inclusive para aprenderem qual o perfil de grupos com os quais mais se identificam.
“É impossível ser feliz sozinho”, dizia Tom Jobim. Como cristãos aprendemos que a salvação se dá através do outro (porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim. – Mt 25, 35s). Claro que o outro além de sinal de salvação também é desafio. Desafio porque é diferente e me faz pensar na minha maneira de agir e relacionar-me.
A pastoral da juventude privilegia os pequenos grupos como maneira de se relacionar e formar comunidades de fé. Nos pequenos grupos as pessoas se conhecem melhor e podem aprender a conviver de um jeito melhor. Isto não impede que existam momentos em que vários grupos pequenos se reúnam. Daí pode-se perceber diferenças e semelhanças entre os grupos, trocar dicas, aprender com outras experiências e, claro, conhecer gente nova.
Por isso eu acredito que grupos cristãos fechados demais também tendem a descaracterizar a própria fé. Nossa fé é comunitária, não passa pelo isolamento. Contudo, há momentos em que o grupo deve se fechar sim (quando está tratando de assuntos internos, por exemplo), da mesma maneira que é importante que as pessoas fiquem um pouco isoladas, por vezes, para repensarem as próprias vidas. Se isso for algo pontual, tudo bem. Se for constante, já é de se preocupar.