quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Ex-amores pejoteiros

Não, este não é um texto direcionado a você meu caro amigo e minha cara amiga. Não tenho a intenção de contar nenhuma história em particular. Afinal, quem é que nunca sofreu uma desilusão amorosa? Quem nunca sentiu algo por alguém do grupo de base ou da comissão pastoral, fosse essa pessoa integrante do grupo, da coordenação ou da assessoria?
Sei que você pode ter sofrido (ou ainda estar sofrendo) por esta situação mal resolvida (ou bem resolvida para a outra parte interessada, vai saber). Meu interesse aqui não é ficar colocando o dedo sujo na ferida mal cicatrizada, mas o de tentar abrir um pouco o olhar.
Num primeiro momento, vamos conversar sobre quatro casos clássicos de sofredores e sofredoras do amor alheio não correspondido e ver os tipos de reações que estas situações apontam. Nos exemplos, os citados são dois homens e duas mulheres. Podem inverter à vontade.

1- O grudento
No começo podia até ser bacana. Mas ante a decisão dela de interromper o namoro, ele acredita que esta é uma fase que ela está passando e que ele precisa estar junto dela para apoiá-la. No fundo ele sabe que o mais racional seria dar um tempo e deixá-la refletir melhor sobre a situação. Mas a leve sensação de que a garota possa se decidir realmente em recomeçar a vida sem ele é arrepiante.
Ele passa então a cercá-la. Manda presentes. Liga insistentemente. Em qualquer brecha que apareça, ele quer discutir a relação. No grupo, fica uma situação desagradável, porque quase todo o assunto do grudento é sobre a pessoa amada. O que o pobre não percebe é que isso o limita em suas outras relações de amizade e acaba por afastar outras pessoas que podem gostar dele, inclusive a garota em questão.
2- A vítima
Uma garota grudenta pode passar deste estágio para o estágio de vítima. Ou pode também ir direto. Ela pode proclamar aos quatro ventos que sofre demais porque o sujeito fez isso, fez aquilo, mas ela o ama e está disposta a perdoar. Ou então, ela fica sempre prostrada no grupo, de canto, de lado, não opina, quase uma deprimida. E se alguém pergunta como ela está hoje, é a deixa para desfiar um rosário de lamentações.
Sinceramente, que relação madura é sustentada pelo dó, pela pena? Você manteria um relacionamento com alguém baseado somente nestes sentimentos? É claro que uma relação rompida causa tristeza e abre alguns machucados. Mas eles precisam ser tratados e não expostos em praça pública para a comoção dos outros e proclamação do ser amado como carrasco da relação.
3- O revoltado
De grudento ou de vítima para o estado de revolta é um pulinho. O garoto participava do mesmo grupo, frequentava as mesmas reuniões, agitava as mesmas atividades e partilhava dos mesmos sonhos. Quando ela percebe que a relação entre eles não vai pra frente e dá um tempo no namoro, tudo aquilo que viveram não tem mais sentido.
Então ele passa a renegar este pedaço da sua história. Os valores aprendidos são ignorância. Os amigos em comum agora são só amigos dela e traidores. A proposta defendida é um erro, pois agora ele abriu os olhos para outra realidade. Passa então a atacar tudo que é caro a ela. Ele tanto pode passar para um outro grupo tentando fazer com que ambos se tornem rivais ou ficar a parte, fora dos grupos, jogando fogo sempre que a oportunidade surge. O revoltado quer firmar uma nova identidade desvinculando-se de um passado. E este passado precisa ser ignorado e destruído. No fundo, ele não sabe lidar com as contradições.
4- A afastada
Não sei se este perfil é o mais comum, mas eu já vi muitos casos assim. A garota se apaixona pelo rapaz. Eles engatam um relacionamento, mas depois terminam e ela some. Há também os casos da moça que entra no grupo por conta que o tal rapaz participa de lá. Talvez para chamar a atenção dele, tenta se destacar, opina, contribui, colabora com o grupo, Mas após ver que não tem chance, acaba saindo do grupo.
O que poderia ser um atrativo (afinal muita gente entra nos grupos por questões afetivas) acabou não sendo trabalhado adequadamente, seja pelo tempo curto de permanência da garota do grupo, seja pela falta de percepção que a coordenação e a assessoria diante do caso.
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Sim, eu sei que as decepções fazem parte do processo de crescimento do jovem e que para qualquer um deles é difícil ouvir um não. Sei também que não se deve tirar de pauta o assunto afetividade só porque fulano ou beltrana estão “sofrendo por amor”. Pelo contrário, é importantíssimo que se discuta e se apresente esta temática. É preciso jogar luzes sobre esta realidade. Se quisermos que os jovens cresçam em sua fé e em seu compromisso não há como descartar o aspecto afetivo.
Não se pode abrir mão de um acompanhamento do processo educativo e afetivo dos jovens, das coordenações e das assessorias. Como tem gente que acaba caindo num ativismo contínuo por medo de se mostrar, de se amar e de se deixar ser amado. Quantos falam com desenvoltura das políticas publicas, mas gaguejam ao falar de sentimentos sinceros. Quantas são coordenadoras e assessoras zelosas e cuidadosas com os demais, mas que não têm um tempo para cuidarem de si próprias.
Relações mal resolvidas criam um ambiente ruim no grupo, seja ele de qual instância for. Será que trabalhamos isso direito? Há na formação integral da Pastoral da Juventude a dimensão da Personalização, do cuidado e do conhecimento de si próprio. Percebem o quanto este aspecto é importante e o quanto nós o deixamos de lado?

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