domingo, 2 de setembro de 2012

Você já foi ao casamento em Caná?

Ser pejoteiro é uma experiência fantástica. Aprendemos que o crescimento enquanto pessoa se dá nos processos nos quais participamos e nos envolvemos. Aprendemos que a relação com o outro (e principalmente o diferente) também é uma oportunidade excepcional para melhorarmos nossos pontos de vista.
 
Aprendemos que a festa, as dificuldades, a análise da realidade, o esperar, os modelos a seguir, o agir são passos e etapas significativos para estes já citados processos que vivemos. Se alguém me pedisse para falar destas etapas todas que citei, usaria cinco versículos do Evangelho de João. Falaria de uma festa de casamento que aconteceu em Caná.

“No terceiro dia, houve uma festa de casamento em Caná da Galiléia, e a mãe de Jesus estava aí. Jesus também tinha sido convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos”.
 
Que povo festeiro é o povo da Pastoral da Juventude! É um povo que brinca, que faz piada, que canta, dança, agita e festeja. Um povo que gosta de estar junto, comemorando as alegrias e esperanças da vida.
 
É uma pastoral com uma forte referência mariana também. Os jovens da PJ gostam de Nossa Senhora. Eles têm nela um exemplo claro de alguém que foi fiel ao seguimento de Jesus, do início até o fim. Veem nela o rosto de tantas meninas que se dedicam ao serviço ao próximo e de tantas mães que choram a morte violenta dos filhos. Mas enxergam, nesta leitura em particular, alguém que também gosta de festejar e se alegra com a felicidade dos outros.
 
Essa turma pejoteira sabe o que significa ser seguidora de Jesus. A rapaziada entende que existe a luta e existe o silêncio. Existe a lágrima e existe a festa. E que Jesus, festeiro como era, não dispensava também partilhar da alegria. E arrastava seus seguidores com ele para que aprendessem esta valiosa lição:  fé e festa estão intimamente ligados.
 
“Faltou vinho e a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não têm mais vinho! ’”.
 
Tristeza que é faltar o vinho numa festa de casamento judaica. Tristeza quando nos falta o vinho da alegria, do comprometimento, do sonho, dos desafios. Ah! Conheço pejoteiros que precisam tanto de algumas doses deste vinho. E como fazer quando ele acaba? Como superar as dificuldades quando as portas se fecham e quando nos sentimos sozinhos?
 
Maria, atenta, repara na falta desta bebida na festa. Quem de nós está atento àquilo que falta na vida da juventude? Quantos de nós conseguimos antecipar os lances para que o inevitável não seja tão inevitável assim?
 
“Jesus respondeu: ‘Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou’".
 
Ser Pastoral da Juventude significa querer ver o novo acontecer, mas não de qualquer forma e sem critério. Pejoteiros analisam a realidade e não antecipam suas ações por pressão ou pela onda. Observam, discutem, veem prós e contras e tomam a decisão. Sabem esperar a hora certa.
 
Sim, eu sei que nem todos são deste jeito. Sei que existem aqueles que agem por impulso ou num instinto de emergência. Há momentos em que isso funciona, há outros que não. E quando não dá certo, aí sim eles precisam sentar e analisar os motivos.
 
Há coordenadores e assessores na Pastoral da Juventude que chegam a fazer pior: tutelam as lideranças jovens, impedindo-as de entender a realidade, compreender o contexto e justificam esta atitude dizendo que são imaturas, rebeldes e descompromissadas. Não educam para a autonomia dos jovens. Dizem que a hora deles ainda não chegou. Sim, estes são pejoteiros que precisam urgentemente de uma reciclagem.
 
“A mãe de Jesus disse aos que estavam servindo: ‘Façam o que ele mandar’”.
 
Tive assessores e assessoras exemplares na minha caminhada. Gente de capacidade intelectual notável, gente de muito carinho, gente boa de conselho, gente fantástica no exemplo de vida, gente que me inspirava. Essa turma, de fato, tinha algo bom para mostrar (lógico que tinham suas limitações também). Mas todas elas também tinham o mesmo referencial: a pessoa e a prática de Jesus de Nazaré.
 
Dizia Dom Helder Câmara que a Boa Notícia que muitas pessoas vão ler é o nosso testemunho de vida. A prática da Pastoral da Juventude também deve ser assim. Temos que testemunhar e encantar os jovens pelo nosso exemplo. Talvez ele seja a única página da palavra do Senhor que alguns lerão na vida. E talvez eles se tornem pessoas melhores por terem nos conhecido.
 
Como discípulos de Jesus, temos que testemunhar em nossas ações a prática de vida que Ele também viveu. Façamos então tudo que ele nos disse: amemos em gestos concretos: a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Anunciemos este Evangelho a todas as pessoas. E vamos embora festejar.

2 comentários:

  1. Gosto muito da passagem bíblica que aborda as "Bodas de Caná", suas reflexões são brilhantes (mais uma vez). Impossível anunciar "Boas Notícias" sem alegria... Aprendi algo com a convivência com os povos indígenas em Roraima: Eles, após um dia inteiro de assembléias complexas, fazem festa! Sim, muita festa! Dançam, bebem, brincam por horas a fio... As danças circulares, algumas de mãos dadas, reforçam que mesmo com divergências, SOMOS O MESMO POVO!
    Um coordenador ou assessor sem vinho, sem aquele brilho no olhar, precisa descobrir a mística da festa, ver onde está o vinho em sua caminhada, e caso encontre apenas vasos com água, lembrar que Ela está disposta a nos levar ao Companheiro que transforma toda tristeza e pessimismo em alegria autêntica...
    O artigo me atrai especialmente pelo fato de você Rogério aprofundar com a percepção de que nossa evangelização se torna mais atraente com nossas práticas. Conheço lideranças na universidade e em movimentos sociais, que possuem um discurso ideológico perfeito, sem arestas...mas a prática é terrível, negociam a vida das pessoas, escamoteiam e abominam a arte da “construção coletiva” (que nos exige dedicação de tempo). Considero-os perigosíssimo, pois estão caminhando perto de nós, falam as mesmas coisas, estão próximos de quem amamos e muitas vezes se apropriam dos “poços” cavados com a vida de santas pessoas....
    Sinto que um desafio com lideranças da PJ que atuam em Conselhos, Fóruns, e outros espaços, é este olhar “profundo”, para além de discursos, observar o fazer, agir...O caminho revela para onde estamos indo, reconhecer que certas prática (meios) não são justificadas pelos fins é lâmpada! A proposta é VIDA E VIDA PLENA, sempre, em qualquer estágio da luta....

    Um grande abraço desta que lhe admira!

    Andrea Estevam
    Diocese de Roraima

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