domingo, 24 de março de 2013

Uma igreja pobre para os pobres


Falávamos em outro artigo sobre a opção preferencial da Igreja pela juventude. Ao olharmos nos documentos da Igreja, no entanto, é anterior a ela a opção pelos pobres. Em tempos de teologia da prosperidade, consumismo, crises econômicas aqui e ali, falar novamente dos pobres parece meio fora da ordem.

Para a Pastoral da Juventude, a opção pelos pobres nunca esteve fora da pauta. Por ser opção da Igreja, ela deve se pautar em ações. E toda ação evangelizadora concreta se dá por meio das pastorais. No entanto, os pobres e as causas da pobreza estavam ficando mais matizados nos discursos eclesiais.


Eles nunca estiveram fora da prática de Jesus, fosse estando ao lado deles para mostrar-lhes sua própria dignidade e valor, fosse estando ao lado dos ricos para que estes se convertessem a causa da justiça, como no caso de Zaqueu.

Exatamente por isto que para a prática cristã, o contrário de pobreza não é riqueza, mas justiça. A miserabilidade nasce das relações injustas que a sociedade cria e ao fazer opção pelos pobres, a Igreja quer desvelar esta realidade.

Em 16 de março de 2013, o Papa Francisco teve uma audiência com os representantes da imprensa do mundo todo que cobriram desde a renúncia de Bento XVI até os resultados do conclave e primeiros dias do novo pontificado. No discurso proferido (que pode ser lido aqui), o Papa fez a afirmação que dá título a este texto “Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres”.

Li e reli muitas afirmações e interpretações deste discurso e desta frase em particular. Há quem pense que a Igreja iria desfazer-se de todos os bens que possui para distribuí-los todos aos pobres. Há quem julgue que isto é o que deveria ser feito. Outros acham que uma “Igreja pobre” não teria recursos para ajudar quem precisa de ajuda.

São afirmações colhidas fora do contexto e daquilo que é prática histórica das comunidades cristãs, em especial aqui no continente latino-americano. Quem acha que só “rico” pode ajudar o “pobre”, tem em sua mente que este último é objeto da caridade do primeiro. Não sou estúpido ao ponto de afirmar que a caridade destes pequenos atos não seja importante. Claro que é. Ela suprime uma necessidade urgente (fome, sede, frio, doença), mas maior caridade é atacar as causas destas necessidades.

Uma Igreja pobre para os pobres não é formada somente por pessoas desprovidas de bens materiais. Afirmar isto equivaleria a dizer que só um negro poderia se engajar na causa dos negros, só mulheres na luta das mulheres, só imigrantes valeriam na busca do direito dos imigrantes. Óbvio que a dor social é mais sentida por aqueles que sofrem na pele e na história seus efeitos. Mas não são portas fechadas para aqueles que querem se solidarizar e estar ao lado na busca por justiça.

Neste sentido que entra a opção pelos pobres abraçada pela PJ e por toda a Igreja. Não são pobres genéricos, espalhados aqui ou ali. É todo um grupo de pessoas de uma realidade concreta de exclusão. “É o grito de um povo que sofre e que reclama justiça, liberdade e respeito aos direitos fundamentais dos homens e dos povos”, como lembra o documento de Puebla.

Não se trata de pobres numa fria realidade estatística. São pessoas com rostos bem definidos: crianças subnutridas, jovens sem perspectivas, indígenas, camponeses sem terra, operários, desempregados, subempregados, idosos, ribeirinhos, dependentes de drogas, portadores de deficiências, entre tantos outros. 

São estas pessoas aquelas que o Papa Francisco aponta na sua frase-desejo que intitula este texto. Através destas pessoas pode-se fazer a experiência do Reino de Deus. E, como diz o Pe. João Batista Libânio, este Reino exige de nós “esperança, práticas de caridade libertadoras, decisões urgentes e inadiáveis”. Ao mesmo tempo em que o pobre é amado de Deus e destinatário prioritário do Seu Reino, ele é também fruto da injustiça, do pecado social e da falta de fraternidade. É a experiência do Reinado de Deus. É o já e o ainda não. É o “Já”, na presença do Deus da Vida que caminha ao lado dos que sofrem e o “Ainda não”, porque eles também são sinal da ausência da fraternidade e da justiça.

Uma Igreja pobre para os pobres é presente pelo exemplo de Jesus que se fez pobre entre os pobres. Ou como nos ensina São Paulo que pede que tenhamos “os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo: Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,5-7). Que nossa ação pastoral seja de serviço, serviço pleno e em favor de quem mais precisa.

3 comentários: