quinta-feira, 14 de março de 2013

A importância dos nós


Há uma dinâmica muito utilizada nos grupos de jovens em especial quando queremos falar de liderança ou de busca por soluções. Chama-se “Dinâmica do Nó”. Se você não a conhece, por favor, acesse o conteúdo da dinâmica antes de continuarmos http://dinamicaspj.blogspot.com.br/2011/06/dinamica-do-no.html. O aspecto que eu gostaria de trabalhar, no entanto, é outro.

Há quem passe a vida inteira afirmando que gosta e deseja ter uma vida tranquila, estável, sem surpresas. Há quem se incomode com o questionamento, com a dúvida, com a incerteza. E eu fico me perguntando por que alguém desejaria uma vida sem novidades? Por que a rotina é mais atraente que o inesperado? Por que portar-se como um copo cheio e incapaz de receber mais água, se há tanta gente com sede por aí?

Causa-me estranheza realmente. Especialmente se este comportamento estiver presente no meio da juventude. Adultos já tomaram muito tapa na vida e cansaram um pouco desta brincadeira. Associam muitas vezes a novidade de um fato a uma nova surpresa desagradável. Nós, os mais velhos, por vezes perdemos a curiosidade de experimentar algo diferente pelo medo do arrependimento ou da dor. E jogamos fora uma oportunidade bacana de ter uma nova visão de um fato.



Partindo desta ideia, penso que há uma chance muito maior de aprendizado quando há o confronto de pensamentos, a desestabilização de conceitos do que quando há uma fala doutrinária e simplesmente expositiva. Quem já me ouviu falar em grupos, sabe que eu gosto muito mais de provocar do que ser didático numa explanação ou palestra.

Por que eu gosto mais deste estilo provocador? Porque quando se cutucam conceitos já petrificados nas pessoas elas param e pensam que aceitaram aquilo sem se questionar. Questionar é uma jogar uma luz num canto escuro onde julgamos que nunca encontraremos pó. Talvez esteja realmente limpo, mas só com a luz na intensidade certa, com o questionamento apropriado podemos ter mais ou menos clareza do fato.

Questionar também é uma maneira de desestabilizar. Como na dinâmica do nó, é preciso buscar alternativas sem romper o cordão. É um desafio. Ver-se numa situação nova, diante de um novo olhar e tentar buscar uma solução é uma situação que mexe com as pessoas. Não se desata o nó sem se movimentar, sem contar com os outros, sem passar por uma ou outra dificuldade, sem abrir caminhos, sem se abaixar, sem parar e respirar fundo, sem uma palavra de incentivo. Não se resolve um problema estando parado.

De uma maneira geral, muitos de nós, criamos algumas certezas sem ter um contraponto, sem termos sido desafiados, sem lançar um segundo olhar ou mesmo sem iluminar os cantos escuros. Conheço muita gente na pastoral da juventude que repete afirmações porque simplesmente aprenderam assim ou porque acham que são frases bonitas e por isso precisam ser repetidas.

O sujeito enche o peito para falar do novo, do belo, da juventude, mas não sabe aplicar na vida pastoral o mínimo do conceito de protagonismo juvenil. Não merece participar da dinâmica do nó? Não precisa ser questionado, desestabilizado, sair do seu lugar comum, parar de repetir frases consagradas feito um papagaio treinado?

O começo da dinâmica é peculiar e é a parte mais difícil: tentar descobrir as saídas em silêncio. Pode parecer maldade de quem conduz a dinâmica, mas é assim mesmo que as coisas acontecem na nossa vida pastoral. Quando a dificuldade aparece, nem sempre colocamos na roda de discussão e tentamos achar uma saída juntos. Por vezes, este ou aquele com seu grupo de influência ou convivência tenta achar uma solução. Eles se conhecem só pelo olhar e buscam algumas alternativas. Dificilmente dá certo. A solução mesmo sempre se dá na comunhão de ideias, na busca de um bem comum em comunidade.

Escrevo este texto durante os primeiros dias após o anúncio do fim de um conclave e do início do pontificado do Papa Francisco. Fico pensando em quantos nós estão aí a nossa frente para serem desfeitos. Quantas dificuldades pastorais estão para serem encaradas. Quantos desafios e quantas oportunidades. Há muitas manifestações de esperança. Que bom que assim o é. Só consegue se movimentar e tentar desfazer o nó quem acredita que isto é possível. Sentar-se e ficar olhando para ele não resolve nada. É no movimento que sentimos nossas limitações. É no movimento que podemos buscar nossas soluções.

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