segunda-feira, 10 de junho de 2013

As andorinhas voltaram

Corria o ano de 1985. Foi o ano internacional da juventude. Foi quando brotou a ideia do primeiro Dia Nacional da Juventude. Foi o ano do primeiro Rock in Rio. Ano em que Tancredo Neves foi eleito e morreu, em que acabou o período do regime militar e ano também em que eu morei no interior paulista.

Era um pré-adolescente. Nossa vida era bem simples e cheia de dificuldades. Eu não tinha dimensão daquilo. Sabia, no entanto, que tinha que estudar na escola da vila e tinha que ajudar meu pai na roça nos finais de semana e nas férias.

Na roça não havia energia elétrica. Após um duro dia de trabalho, voltávamos cansados, tomávamos banho frio, jantávamos, minha mãe puxava a oração do terço e depois escutávamos algum programa de música caipira. Embora meu pai gostasse muito, era o tipo de música que eu não costumava escutar quando morava na cidade.


Havia uma canção que toda noite tocava naqueles programas. Era uma música interpretada pelo Trio Parada Dura, chamada “As Andorinhas”. A letra era assim:

As andorinhas voltaram / E eu também voltei / Pousar, no velho ninho / Que um dia aqui deixei / Nós somos andorinhas / Que vão e quem vem / À procura de amor, / Ás vezes volta cansada, Ferida machucada / Mas volta pra casa batendo suas asas / Com grande dor / Igual a andorinha / Eu parti sonhando / Mas foi tudo em vão / Voltei sem felicidade / Porque, na verdade / Uma andorinha, voando sozinha / Não faz verão
 
Não entendia o que significava a expressão “Uma andorinha, voando sozinha não faz verão”. Não obtive uma resposta imediata. A vida, porém, foi me ensinando aos poucos, com erros e acertos da minha parte. Fui entendendo que por melhor que sejam as pessoas, elas sozinhas não se bastam, ou seja, que todo mundo precisa de alguém.

Nas nossas relações percebemos que somos interdependentes. O intérprete e compositor Gonzaguinha cantou uma verdade do relacionamento entre as pessoas: “Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas”.

Isso fazia sentido para a coitada da andorinha. Ela não queria ser só. Poucos entre nós também queremos ser. Mas e o tal do “fazer verão”?

Andorinhas são pássaros migratórios. Não é incomum vê-las em regiões quentes e em bandos. Quando o verão está chegando em alguns lugares, tal fato se torna rotineiro. Contudo, se você encontrar uma andorinha sozinha, não significa que o verão está chegando. Ela pode estar só ou voando perdida.

Você, no seu grupo, coordenação pastoral ou na assessoria pode achar que o bendito do inverno não vai passar. Talvez você tenha ficado para trás na “última onda migratória” ou ter perdido o trem da história. Meu caro, minha amiga, isso acontece. Por vezes nos sentimos sós em nossos processos pastorais. Temos a chance de errar e de aprender com nossos erros.

Talvez você creia que o bendito inverno está durando muito. Talvez você queira partir agora e tentar antecipar o verão. Tenha a serena paciência histórica. Perceba os sinais dos tempos. Não há inverno que dure para sempre. Entenda as conjunturas. E ao sentir os ventos da mudança convoque as outras andorinhas. 

Para quem percebe os sinais eu afirmo, as sementes do Reino que plantamos, logo começarão a brotar, o inverno está acabando e logo começará a primavera. Acorde as outras andorinhas. Ajude a despertar a juventude. Muitos querem acusá-los de prolongadores do inverno. Não deixe que esta mentira se perpetue. 

Não deixe que as outras andorinhas, que os outros jovens acreditem na bobagem de que são pequenos, de que são poucos e de que não adianta lutar porque nada vai mudar. Aqueles que querem prolongar o inverno são os mesmos que morrem de medo das andorinhas. Anunciem. Anunciem a aurora de um novo tempo. Anunciem o fim do tempo das relações frias. Anunciem os campos floridos, cheios de vida, de amor e de possibilidades.

Adianta lutar sim. O calor da relação fraterna, do sol de verão que brilha sobre todos é a certeza de que vale sim. Cada um tem seu papel importante. Cada um faz parte do bando. E um bando de andorinhas voando, mostra que logo o verão já vem. Não desista. Seja você a andorinha que ajudará a acordar a todos.

2 comentários:

  1. muito bom o texto, nunca pensei nesta música deste jeito, realmente temos que fazer o verão... e em comunhão com outros jovens. vlw !
    muito Axé

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  2. Manoooo... Adoro esta música!!! Quem diria que há mais pastoralistas que amam um sertanejo pé de serra... Ah! Meu tempo de interior... Hehehehhe!!!

    Valeu por trazer boas recordações com esta mensagem pastoral! Abraços!

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