terça-feira, 19 de agosto de 2014

Vai desistir agora?

Colega veio falar comigo a respeito do grupo. Disse que já estava cansado e que a galera não vinha mais no mesmo pique de antes. Ele não sabia mais o que fazer para o pessoal se motivar e participar mais. Estava desanimado.

Uma amiga foi a uma consulta médica para entregar uns exames de rotina e tomou um choque ao saber que a situação do seu organismo já não era tão boa como há dois anos. Ela estava com uma doença séria e o tratamento era extremamente desgastante. Seu estado emocional ficou abalado.

Notícias chegam de assessores que desanimaram do acompanhamento. Não aguentam mais insistir em diálogos inexistentes com o clero e com diversas lideranças de outros movimentos e pastorais que insistem em olhar para seus próprios interesses e estruturas e não para uma ação pastoral de conjunto.


Os exemplos poderiam ser vários porque as dificuldades, as más surpresas, os empecilhos são os mais variados e nos mais diversos formatos. O bloqueio, a pedra no caminho, a porta fechada, a pouca participação, os desgastes, a saúde que fica abalada, as relações que se enroscam e as falsas expectativas são todos elementos que nos fazem pensar se isto vale ou não a pena.

Certamente nestas horas, muitos param para se perguntar se tudo isso vale a pena. É tanto murro em ponta de faca que a mão já não tem mais lugar para as cicatrizes. Por que continuar a bater? Até onde essa insistência nos leva? Por que continuar?

O coordenador que desiste de um grupo desmotivado ou o assessor que desanima no diálogo difícil com as outras organizações e com o clero toma a mesma atitude da jovem que desiste do tratamento contra uma doença séria só porque o tratamento é desgastante. Gasta o pouco tempo que lhe resta vendo acabar aquilo que chegou a amar um dia.

Olhar os fatos pelos fatos, sem os óculos da fé, é de fato desanimador. As barreiras vão se sucedendo, os tropeços sendo mais constantes, o desleixo vai tomando conta até que o baque chega. Realmente, a opção mais fácil é desistir. Contudo, o preço a ser pago pela desistência é a morte. E morte aqui tem muitos sentidos. Repare na realidade que você vive e veja os frutos colhidos por quem já desistiu de um bom projeto.

A insistência em fazer o bem e o que é certo é constantemente provada pelas barreiras da vida. “O forno prova os vasos do oleiro” (Eclo 27,5). Sem a provação, este propósito de fazer o bem não é firmado e consolidado. 

Resistir e enfrentar, levantar-se após tantas quedas, superar-se e motivar outros tantos juntos com você exige um esforço enorme, algo que talvez até então não tivesse se manifestado em sua vida. Resistir é preciso. Dar-se uma segunda chance também. Acreditar no potencial alheio é necessário. Nada disso, porém, nos dá a certeza de uma vitória. 

Claro que queremos que as coisas deem certo. Obviamente que para isto nós investimos todos os esforços. Mas a vida não segue as regras matemáticas. Apesar de toda dedicação, existe, para o bem e para o mal, o imponderável, o acaso, o não previsto. Isto tudo é para dizer duas coisas. Certeza nunca haverá. O objetivo final é importante, mas não devemos nos descuidar do processo.

Não é porque o objetivo não foi alcançado que tudo o mais não deu certo. “O forno prova os vasos do oleiro”. O caminho até a meta que almejamos tem que ser bem trilhado. Coisas inesperadas podem aparecer e nos fazer parar momentaneamente ou rever o roteiro. Teremos dificuldades, mas creia que elas estão aí para você tirar alguma lição delas. Desistir, jamais.

Certeza também não é fé. Fé é entregar-se livremente todo a Deus, apesar dos momentos de inverno, de reclusão, de deserto, de parada. A fé é professada pelas palavras e manifestada pelas atitudes porque, afinal, sem obras ela é morta (Tg 2,26). Eis o motivo de não podermos desistir. É preciso agir, pois o inverno não é eterno e a primavera logo chegará. 

Venha! Meu coração está com pressa, quando a esperança está dispersa, só a verdade me liberta. Chega de maldade e ilusão.
Venha! O amor tem sempre a porta aberta. E vem chegando a primavera. Nosso futuro recomeça. Venha! Que o que vem é Perfeição!
(Perfeição – Legião Urbana)

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