domingo, 24 de abril de 2016

Por um dia de graça

Há conflitos que não valem a pena serem abraçados. Há quem possa se assustar com essa afirmação, pois associam o conflito às brigas. No entanto, estes termos não deveriam ter, a princípio, relação de causa e consequência, nem de um lado e nem de outro.

No entanto, a estupidez humana faz com que nossos pontos de vista sejam gravados em rocha dura, de tal forma que não possam ser apagados com o tempo. Essa firmeza de opinião deveria ser aplicada aos princípios éticos e não a simples pontos de vista. O contato com a opinião diferente deveria me fazer pensar e não me fazer odiar o meu interlocutor.



O atual cenário me faz pensar num palco de guerra fraticida, onde irmãos se atacam por uma banalidade, por uma opinião contrária ou por uma visão alternativa. Num plano maniqueísta, a terceira via é vista como inimiga.

A lógica da violência que gera mais violência acaba se reproduzindo entre aqueles que, inclusive antes, pregavam uma cultura de paz. É a necessidade de uma resposta imediata porque, se ela não for dada acabará perdendo o trem das novas acusações. 

A lógica está toda errada. Não se apaga fogo jogando querosene nele. Não faz sentido que, para se esconder a chave da casa, a residência toda seja demolida com ela dentro. Ainda hoje soa mais absurdo o que São Francisco rezava que “onde houver ódio que eu leve o amor”. Tempos extremos exigem medidas extremas. E em tempos de desespero é preciso reacender a chama de uma esperança ativa.

Não que a denúncia ao erro não deva ser feita. Não! Ela é necessária e urgente. A maneira como é feita é que é equivocada. Não se combate a corrupção sendo corrupto. Não se acaba com a violência sendo violento. Não se consegue a paz calando os outros.

O meu recado é para os jovens cristãos, para os seguidores do Homem de Nazaré. Pode parecer utopia, mas não é. Não caiam no caminho fácil da acusação sem provas, da difamação em redes sociais ou na repetição impensada do “Fora esse” ou “Fora aquela”. A gente precisa ajudar os outros a refletirem além da média jornalística, além do que é noticiado.

A gente precisa ajudar a despertar nas outras jovens e outros jovens o sonho de um país digno, de um estado acolhedor e de uma cidade mais humana. A gente precisa mostrar que essa história de que politica é coisa suja não é toda a verdade.

Um dia me disseram que a música “Por um dia de graça” deveria ser o “Salmo 151”, porque encerra nela a tal da esperança ativa que eu citei um pouco acima. Luiz Carlos da Vila estava inspirado quando compôs esta música. Se a gente perder o horizonte utópico, a gente não tem mais motivação para caminhar, qualquer estrada serve, em qualquer barranco se pode encostar.

Minha mãe dizia (sua mãe também pode ter dito) que quem canta reza duas vezes. Por isso que toda vez que eu escuto essa canção, eu me encho de novo ânimo para continuar um trabalho de formiguinha com esta liderança, com aquele jovem, com outro grupo... Porque sei que: 

Um dia, meus olhos ainda hão de ver, na luz do olhar do amanhecer, sorrir o dia de graça. Poesias, brindando essa manhã feliz, do mal cortado na raiz, do jeito que o mestre sonhava.

O não chorar e o não sofrer se alastrando. No céu da vida, o amor brilhando. A paz reinando em santa paz.

Em cada palma de mão, cada palmo de chão, semente de felicidade. O fim de toda a opressão, o cantar com emoção: Raiou a liberdade.

Chegou o áureo tempo de justiça: ao esplendor, do preservar a natureza, respeito a todos os artistas. A porta aberta ao irmão de qualquer chão, de qualquer raça. O povo todo em louvação por esse dia de graça.


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