quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sete pecados capitais da assessoria

O assunto de hoje é ligado aos pecados da assessoria. Para tratarmos disto, vamos pensar um pouco nas palavras. Entender a origem delas ajuda inclusive a melhorar a percepção que temos do seu uso no cotidiano. Pela nossa formação cristã, entendemos pecado como tudo aquilo que nos afasta de Deus. Mas na origem da palavra “pecar” encontramos tropeçar, mancar. Então pecado é o tropeço, as mancadas que damos no caminho para o advento do Reino de Deus.

A tradição cristã aponta sete pecados capitais, ou principais, que materializam as formas de tropeço que podemos encontrar nesta caminhada. A idéia de hoje é apresentar como a ira, a inveja, a luxúria, a avareza, a gula, a preguiça e o orgulho aparecem dentro do ministério da assessoria, não no sentido de ficarmos apontando as mancadas desta ou daquela pessoa, mas para tentarmos crescer, aprendendo como os erros.

A IRA: Já conheci assessor irado, com uma agressividade exagerada. Normalmente eram pessoas bem detalhistas, que gostavam das coisas com perfeição e para quem as coordenações não acompanhavam os passos orientados com exatidão ou não tinham a capacidade de resolver de uma maneira "correta" os problemas. Não falo de uma natureza raivosa, mas de momentos em que isto acontece. Um assessor naturalmente irado não dura neste ministério.

É preciso que os assessores se policiem bastante, principalmente quando as coisas não estão caminhando como ele acredita que seja o melhor. Quando chega a sensação do “Eu quero assim e vocês precisam fazer assado” é um sinal de alerta. Sinal, inclusive de um ranço autoritário ou de pouca confiança no grupo que assessora.

Um assessor com manifestações de ira intimida o grupo e não se dá a expor e compor com eles. Por vezes, suas manifestações são agressivas e chegam a ofender. E talvez esta seja sua intenção, pois o assessor irado acredita que não há outra maneira de fazer com que o grupo veja que está errando e volte a acertar. Há quem diga que por baixo de toda ira quase sempre detectamos medo: de errar, de expressar-se de outra maneira ou de perder espaço.

A INVEJA: O invejoso sente um desgosto ou tristeza pelo sucesso do outro. Sente-se injustiçado: “por que ele tem e eu não tenho?”. O assessor invejoso sente um pesar quando vê que outros grupos reúnem muitos mais jovens que o seu grupo, ou que eles tem tais e tais apoios e ele não vê o mesmo na própria realidade, ou quando conhece um assessor que fala empolgadamente ou escreve melhor ou cativa mais as pessoas, por exemplo.

Onde há a “mancada” e onde existe a possibilidade de salto qualitativo? Temos a figura do pecado quando o assessor acaba deixando de lado as virtudes do próprio grupo e fica só mirando e se lamentando porque o outro grupo é melhor, maior ou mais bonito. É uma possibilidade de salto qualitativo quando, ao olhar para o outro grupo que está numa condição melhor, ele consegue enxergar onde pode melhorar o próprio grupo, dentro de suas próprias características.

O assessor invejoso pode cair no erro de tentar ser como o objeto de seu afeto; ele tenta imitar a criatividade e o talento de outro, mas quase sempre é incapaz de atingir este objetivo. A imitação não leva em conta o dom natural. Querer ser o outro ou fazer o que o outro faz acaba por torna-lo uma cópia mal feita e que não tem originalidade. É uma ilusão.
A LUXÚRIA: A palavra tem a mesma origem de “luxo”, que significa excesso, superabundância. Acabou tendo seu significado ligado a uma impulsividade desenfreada, um prazer pelo excesso, tendo também conotações sexuais. Na assessoria, podemos entender a luxúria naquilo que é o “poder de dominar”.  O assessor domina a coordenação, tem prazer em saber que “manda”. Não é um João Batista que dizia a respeito do Messias: “É necessário que ele cresça e eu diminua”.

Henry Kissinger disse uma vez que não há nada mais afrodisíaco que o poder. Jesus nos ensina que o poder é serviço. O assessor luxurioso transforma o seu serviço em estratégia de prazer e o jovem, bem como o grupo num objeto para este fim.

O assessor luxurioso gosta de estar entre jovens, não pelos valores deles, mas pela quantidade. Ele quer muitos seguidores, mas não se importa com a qualidade dos mesmos. Ele gosta mesmo é de se auto promover. Mal sabe ele que os jovens desprezam a imposição e ele vai terminar sozinho.

A AVAREZA: A origem da palavra aponta para “desejar ardentemente”. É estar apegado a uma determinada coisa, com medo que ela acabe. Está muito associada a questão financeira. Para o avarento, o dinheiro deixa de ser um meio para conseguir outras coisas e se torna um fim em si mesmo. É necessário para ele acumular e não dividir. Se dividir, pode acabar.

O assessor avarento não é aquele que não paga a passagem de ônibus da coordenação ou não leva o lanche numa confraternização. Ele é a pessoa que quer acumular o conhecimento e a informação só para si. Não confia no grupo ou na coordenação. Não expressa os próprios sentimentos e poucas vezes emite alguma opinião sobre os projetos em que acaba envolvido.

É muito econômico em pensamentos, sentimentos ou ações. Tem dificuldade em lidar com a diversidade, com a transparência. Normalmente chega nas reuniões já num clima defensivo.  Não sabe dar dicas. Não divulga conhecimento,  porque só tem dados acumulados. O assessor avarento é um tolo. Retem demais as coisas, mas não sabe o que fazer depois com elas. 

A GULA: Gula vem de “garganta”, “goela”, acabou derivando para “boca” e chegou a nós como os excessos no comer e no beber. O guloso não experimenta, saboreia as comidas, simplesmente as engole, com voracidade. E quanto mais ele come, mais ele perde o controle, porque para aplacar sua ansiedade é preciso atacar, sem maiores reflexões, o seu objeto de prazer. Isto acaba desencadeando um sentimento de frustração, ansiedade e culpa, gerando assim uma grande insatisfação pessoal e também com o mundo.

A gula não é só no sentido da comida, mas pode ter também o aspecto intelectual. Viver com esta pedra de tropeço, que é a gula, representa estar funcionando abaixo do próprio potencial, buscando sempre uma compensação pelo que acredita não se ter. A sensação é de não estar fazendo tudo que o que se pode, vivendo sem atender expectativas. A atitude mental básica é: necessito aprender tudo. Essa característica pode levar à necessidade de monopolizar, desejando o poder cada vez mais para si.

Um assessor guloso pode acabar tendo um papel centralizador, que não confia ou que não quer confiar em no grupo que acompanha, porque, na verdade, não confia em si mesmo e em seu potencial. Todas as decisões têm que partir dele, ele precisa estar a par de todas as informações que tem ligação com grupo.

A equipe passa a não decidir e fazer questão de não decidir nada. Todos os trabalhos são incompletos, pois o assessor ainda dará a opinião final. Então, é inútil concluí-los. Corre o risco ainda de passar a péssima impressão de ser um egoísta e um chato, e os participantes do grupo o abandonarem, deixando-o com a cara lambuzada e ainda com fome.

A PREGUIÇA: No nosso cotidiano, relacionamos a figura do preguiçoso àquele que não gosta de trabalhar (ou estudar) e quando o faz, não liga para o capricho, fazendo a sua tarefa com desleixo, lentidão ou negligência. A preguiça não se resume na preguiça física mas também na preguiça de pensar, sentir e agir.

O assessor preguiçoso não quer aprender mais nada. Gosta de deixar as decisões para depois. Quando bate a preguiça no assessor ele é sempre um freio e nunca um acelerador. Não entra em conflito para não ter que discutir. Não interfere numa ação que sabe que vai dar errada, porque isto iria implicar em ter que estudar uma nova maneira de agir. Convive pouco com sua comunidade porque não quer se envolver.

O tropeço que a preguiça represente na vida de um assessor está também na falta de coragem em divulgar a proposta do grupo. Ele não escreve, não sistematiza, não comenta as ações, não checa os fatos, não dá novas ideias. Afinal, para ele, isso dá muito trabalho.

O ORGULHO: Chamado também de soberba ou altivez, pode se traduzir na frase “Eu sou melhor que os outros", seja lá pelo motivo que for. O tropeço do orgulho está em achar que é mais do que realmente é. O orgulhoso gosta de aparecer e ostentar.

O assessor orgulhoso corre o risco de ter uma atitude de desprezo aos outros grupos e assessores. Ele pode acabar tendo a sensação de se achar possuidor de uma visão superior. É um erro, pois sabemos que todos estamos sempre aprendendo e se o fazemos é porque existe sempre alguém a nos ensinar e que sabe mais do que nós.

O orgulho no assessor implica em dizer que ele não precisa de ninguém. Ele quase nunca dá grandes dicas ou orientações, não reconhece quem o inspirou, não menciona o amigo que lhe ajudou a desenvolver sua vocação de assessor, nem agradece elogios. Por vezes chega a acreditar que nem precisa mais cultivar sua própria espiritualidade, porque já chegou no ápice da revelação!

O assessor orgulhoso se acha um gênio autossuficiente, brilhante e cheio de grandes ideias; acha que quem o ajuda, admira ou elogia não faz mais do que sua obrigação. É um grande pavão que se admira pelas suas plumagens, mas não repara nos próprios pés.

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Tenhamos claro que o erro envolvido na vivência deste pecados está em alimentá-los e agir sob o efeito deles. Nenhum assessor está imune a eles. É preciso perceber quando eles acontecem e combater a raiz de suas causas. Não agir assim é um erro. Pode minar o bom andamento de um grupo e da pastoral. 

Veja o restante da série "Os Sete" clicando aqui.

2 comentários:

  1. Ao longo da vida, somos sujeitos a diversas experiências e convivências que nós leva a buscar melhores maneiras de viver a vida. Depois vem o mais importante, repassar nossa experiência com clareza, suavidade, confiança e boa vontade, a fim de quem seja o respector da mensagem possa entender a mensagem e viver intesamente a sua vida com a pura alegria de ser feliz. Acho que este é o papel do assessor, levar sua experiência a todos grupos e contribuir para caminhada para o Reino de Deus.
    Parabéns ao autor pelo belissimo texto. Parabéns.

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  2. EU SÓ POSSO AGRADECER POR ESTE TEXTO. FEZ-ME ENCONTRAR UM POUCO,POIS A NATURALIDADE DE ERRARMOS MUITAS VEZES PASSA POR CRÉDITOS QUASE SEMPRE SEREM OS OS PROBLEMAS DOS OUTROS. E ISTO É UMA QUESTÃO DE DISCIPLINAS ,PELAS QUAIS SOMOS CONSTANTENTEMENTE CHAMADOS A SEGUIR. SER HUMANOS É O QUE SOMOS...MAS ISTO NÃO QUER DIZER QUE AO ACEITAR OS ERROS VAMOS DEIXAR DE ERRAR. PARABÉNS ROGERIO!

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