O artigo de hoje quer tratar de sete lembranças para a espiritualidade de um jovem pejoteiro. É baseada numa tradição antiga da Igreja chamada de celebração das sete palavras de Jesus na cruz. O que estas palavras inspiram na vida pejoteira e na missão de tantos jovens envolvidos na causa de Jesus e do Reino de Deus? Eu acredito que muito. Então, vamos a elas.
"Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem"Pejoteiro é o jovem que ama e perdoa. Perdoar é o ato supremo da doação. No alto do próprio sofrimento, Jesus é capaz de olhar as fragilidades do ser humano e mesmo assim pedir a Deus que perdoe aqueles que o afligem.
No percurso da caminhada pejoteira há muita pedra de tropeço, muita gente que parece que está lá para nos atrapalhar. O senso comum pede que nos afastemos e não queiramos o bem delas. Mas o pejoteiro busca os seus princípios de ação nas palavras do Pai Nosso. "Perdoai-nos, assim como perdoamos", diz a oração.
Pejoteiro sabe das próprias limitações e procura supera-las. É um jovem que aprendeu a se aceitar e com isso tem mais possibilidades de aceitar e amar o outro também em suas fragilidades e limitações. É um amor que corrige, perdoa e transforma.
"Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso".
Pejoteiro é jovem de esperança. Conhece aquela história do “confie em Deus, mas confie em você também”? Hoje o que se ouve mais é o “confie em você”, do que o “confie em Deus”. Apesar das próprias limitações, o jovem da PJ não se esquece deste pedido. “Lembra-te de mim”, como disse o “bom ladrão” é acrescido de tantas outras lembranças. “Lembra-te de fulano, de cicrano e de beltrano também”.
A resposta de Jesus é clara. “Hoje mesmo”. Não é amanhã ou depois. O Reino de Deus acontece no agora, para aqueles que confiam. A esperança pejoteira é uma esperança atuante e militante. As pequenas manifestações do Reino que acontecem no nosso cotidiano devem ser celebradas, como antecipação do grande evento que estamos esperando e construindo.
Por fim, há um detalhe nesta passagem que é muito importante. Não é para o Jesus glorioso, espiritual que o pedido do “lembra-te de mim” é feito, mas para um Jesus quase desfigurado, tremendamente humilhado e fracassado. Isto deve dizer alguma coisa para nós.
"Mulher, eis aí o teu filho. Filho eis aí a tua Mãe!"
Pejoteiro é jovem que é companheiro de Jesus, mesmo na adversidade da vida. Que dá o seu sim ao projeto como fez Maria. Há quem diga que historicamente não seria possível deixar que parentes ou outros se aproximassem do crucificado. Além do sofrimento físico a solidão acabava por ser uma humilhação social. Contudo, independente da veracidade histórica, eu acho muito bonita a imagem de Maria e João, além das outras mulheres, ao pé da Cruz em diálogo com Jesus.
Há momentos em que nos sentimos abandonados ou largados à própria sorte, seja na vida pessoal, profissional ou pastoral. Pejoteiro legítimo não abandona a amizade com Jesus. Toma para si seu exemplo de vida e continua a viver, apesar das cruzes que vão sendo carregadas pelo caminho.
E toma também Maria como mãe e mestra de vida. Dá um sim ao projeto de Deus. Pejoteiro dá o seu sim em cada atividade que realiza, testemunhando a Boa Nova em cada ação que pratica.
"Tenho Sede!"
Pejoteiro não se desliga das necessidades humanas quando quer se encontrar com o sagrado. No limite das suas forças, sabendo que tudo o que havia feito culminava naquele momento, ainda assim mostrava que era uma pessoa com as mesmas necessidades que nós.
Há quem acredite que para se ter uma ligação com o lado espiritual da nossa existência é necessário abrir mão de toda nossa corporeidade e necessidades humanas. Pejoteiro não acredita nisso, pelo contrário. Acredita que é com o nosso ser completo que nos encontramos com Deus e contribuímos para o seu Reino junto a toda humanidade.
E esse ser completo é cheio de beleza, mas também tem suas limitações. São as nossas incompletudes que nos convocam a melhorar. E é cada uma de nossas características, deficiências, sonhos e necessidades que colocamos na mesa à disposição do Reino de Deus.
"Eli, Eli, lema sabachtani? - Meus Deus, meus Deus, por que me abandonastes?"
Pejoteiro é o jovem que procura encontrar a presença de Deus no cotidiano. Nos tropeços e pedras da vida, nas horas de angústia e solidão, quem não gostaria de um afago, um ombro amigo e uma presença de conforto? Há quem viva procurando sinais miraculosos de Deus em sua vida e nunca encontra aquilo que procura.
Pejoteiros enxergam os milagres da vida nas pequenas coisas que a vida oferece. Deus não abandona a humanidade. São as pessoas que não enxergam a presença de Deus. Em momentos de dor e sofrimento é difícil racionalizarmos desta maneira. A natureza humana de Jesus padecia e Ele gritou pela presença de Deus. Quantas vezes nós também gritamos a mesma coisa, porém sem qualquer convicção de que Deus nos escuta?
A espiritualidade pejoteira é firmada no cotidiano, nas dificuldades e alegrias cotidianas. Cultivada no dia a dia, aprendemos que Deus se manifesta na presença do outro, no afago, no ombro amigo e na presença de conforto, como também na crítica que faz pensar, no confronto de ideias e nas disparidades que a vida apronta também.
"Tudo está consumado!"
Jovem pejoteiro é aquele que contribui para o projeto de Jesus. E quando esta contribuição está consumada? Enquanto há vida, há ainda o que se fazer.
Jesus não ficou na cruz. Foi sepultado, mas continua vivo. Sua proposta arde em nossos corações nos impulsionando a continuá-la em nossas vidas. Não é possível pensar numa aposentadoria espiritual. A cruz é sinal de que há muito por se fazer e este muito deve ser levado até o fim, até as últimas consequências.
"Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito!"
Pejoteiro é o jovem que se deixa guiar pela vontade de Deus. Quando olhamos para o Calvário, não há como não refletir no gesto forte de levar a missão ao fim. Muitos de nós olham para Jesus e se perguntam se somos capazes de agir como Ele.
Por nossa vontade, não é possível agir assim. Só é fiel a proposta do Reino quem se deixa levar por ela. Pai, em tuas mãos eu entrego meu espírito, meu coração, minhas mãos, meus pés, meu abraço, meus pensamentos e minha vida como um todo.
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