domingo, 12 de dezembro de 2010

Sete virtudes para vivência nos grupos

    Comentei num outro artigo sobre a relação dos sete pecados capitais e a assessoria. Hoje para fazer um contraponto, comento sobre as sete virtudes divinas para serem vividas nos grupos de jovens. Será simples viver a caridade, castidade, diligência, generosidade, humildade, paciência e temperança num grupo e como grupo de jovens?


    * Caridade

    Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si próprio. Isto resume toda a lei e todos os profetas, segundo disse Jesus. Paulo volta a tocar no assunto, quando diz que tudo passa, só a caridade, o ágape, não passa. Em nossa lista, a caridade faz oposição à inveja. E no grupo a caridade deve ser sinônimo de ajuda mútua no crescimento. O caridoso sente alegria pelo sucesso do outro.

    O grupo que vive a caridade não se fecha em si, pois sabe que o amor rompe fronteiras. Ele olha para grupos que estão mais adiantados em alguns pontos e procura aprender com eles, não no sentido de imita-los, mas de melhorar a missão do próprio grupo.

    Há quem confunda caridade com assistencialismo como no caso de campanhas de alimentação das comunidades, sopões ou campanhas do agasalho. O assistencialismo alimenta, aquece, mas não transforma. É a famosa questão "dar o peixe ou ensinar a pescar". Ninguém deve negar a assistência a quem precisa, claro, mas nossas práticas grupais precisam ir além disto para serem ações caritativas.

    * Castidade

    Castidade vem na lista de virtudes em oposição à luxúria. Enquanto esta quer dizer excesso, superabundância, aquela quer dizer pureza. Ambas estão associadas na tradição cristã católica à natureza sensual e sexual das pessoas.

    Na vida dos grupos não tratarei desta natureza de forma restrita, mas no sentido das relações entre as pessoas. Se castidade está ligada à pureza, podemos entender esta palavra como “algo que não se mistura” ou “algo que não se contamina”.

    É meio contraditório dizer de uma religião que se denomina universal (católico quer dizer isto) e que pregaria a castidade como “algo que não se mistura”. Não somos um grupo a parte e nem vivemos num mundo só de anjos. Um grupo casto vive numa realidade diversa, mas o testemunho de vida de seus integrantes mostra que eles não se deixam contaminar pelas lógicas do ter, do poder e do prazer.

    Não se contaminar é chave. Um grupo que quer viver um testemunho de pureza cristã não joga na lógica do poder sobre os outros, nas imposições, medos e chantagens. Ele sabe que somos seres livres e abertos a todas as coisas. Porém é necessário discernimento e espírito crítico. Como disse São Paulo: “examinem tudo, fiquem com o que é bom” (I Ts 5,21).

    * Diligência

    Um grupo diligente é o oposto de um grupo preguiço. Eles buscam estar um passo adiante na divulgação da proposta de Jesus e no anúncio do Reino. Um grupo diligente se preocupa com a própria formação e busca estar atualizado com os temas sociais e as opiniões da Igreja, alinhadas com novidade do Evangelho.

    Um grupo diligente sabe onde quer chegar e se prepara para isto. Não deixa as decisões para depois. Faz muito, mas faz com capricho, zelo e cuidado. É um grupo que sempre avança, mas sabe quando é hora de diminuir a velocidade. Não se omite de dar sua opinião e procura se municiar de bons argumentos.

    Não é um grupo apressado ou sem organização. Pelo contrário, sabe que estas qualidades são importantes para alcançar seu objetivo.

    * Generosidade

    Diz o dicionário que generosidade é virtude daquele que se dispõe a sacrificar os próprios interesses em benefício de outrem. A palavra na sua origem significa 'nobreza, boa qualidade’. A generosidade é uma virtude ligada ao dar e doar. Fazer justiça é dar ao outro o que é dele ou lhe pertence. Ser generoso é diferente. É dar ao outro aquilo que, mesmo sendo nosso, é necessário a ele e lhe faz falta.

    Um grupo generoso sabe que não pode acumular conhecimento, informação e boas práticas só para si. É um grupo que esparrama a proposta e a vivência do Evangelho e do Reino para outros grupos de forma criativa e cativante. É um grupo onde as pessoas têm confiança umas nas outras, partilham sentimentos e opiniões e querem ver todos os integrantes crescerem.

    É preciso, entretanto, saber bem o que caracteriza a ação generosa. Ela não é uma ação quantitativa, que se possa medir em números, do tipo “sou mais generoso porque dou mais”. A partilha generosa entre grupos vale porque se quer ver aquele que recebe num estado melhor e não há outras intenções nesta relação. Aquele que é generoso  sabe também que é livre para agir bem e quer ser assim. É ser senhor de si e, por isso, não se têm desculpas nem se procura ter.

    * Humildade

    Humildade vem na oposição ao pecado do orgulho. Mas é preciso muita atenção. Há “humildes” que se auto depreciam para obter a piedade alheia, outros que ignoram seus próprios valores, outros que se rebaixam diante daqueles que consideram maiores, carregando em si ressentimentos ou inveja. Nenhum destes é de fato humilde. Ser humilde não é ser servil, fraco ou sem valor. É ter consciência daquilo que se é, sabendo de seus limites, capacidades, fraquezas e forças, sem sofrer ou se vangloriar por conta deles, mas se esforçando para ser melhor, tanto física quanto espiritualmente.

    Um grupo humilde sabe que isoladamente pouco ou nada faz pelo Reino de Deus. Fazer, mesmo que seja pouco, é importante, claro, mas o grupo sabe que pode dar um passo além. Tem clareza de que é preciso se aliar a outros com o mesmo objetivo para formar uma grande rede de grupos, onde um ajuda a sustentar o outro para não desanimar.

    Este grupo sabe que pode aprender com estas outras experiências de grupos. E sabe que pode ensinar também. Partilha, portanto, o que sabe, reconhece publicamente quem o ajuda e assume sua missão e seus erros sem resistência.

    * Paciência

    Haja paciência num mundo tão complicado como o nosso... O que isto quer dizer? Que devemos nos resignar, porque este mundo não tem jeito, ou que devemos resistir e enfrentar os obstáculos para mudar a situação? A origem da palavra paciência não ajuda a clarear esta dúvida, pois ela tanto pode significar “capacidade de suportar, constância”, como “submissão, servilismo” ou ainda “faculdade de resistir”.

    Paciência é uma virtude oposta à Ira e isto nos ajuda a clarear como possa ser vivida no grupo. Um grupo paciente é um grupo que age com um controle emocional, que não perde a calma, mesmo nos momentos mais complicados. E que consegue persistir numa atividade difícil, apesar das adversidades. E que sabe esperar o momento certo para agir.

    Claro que num grupo nem todos os participantes são pacientes. Há jovens mais impetuosos. E é bom que seja assim, porque ajuda a não se acomodar numa apatia de eterna espera pelo melhor momento de agir. Um grupo paciente passa por diversos obstáculos para alcançar seu objetivo. Eles acabam aprendendo que todos os passos precisam ser bem planejados para que estes obstáculos possam ser superados durante a caminhada.

    * Temperança

    Temperança tem a ver com moderação e sobriedade. É o ponto oposto à gula. A temperança é a virtude pela qual usamos com moderação dos bens temporais, quer eles sejam comida, bebida, sono, diversão, sexo, conforto, etc. Ela nos ensina a usar essas coisas na hora certa, no tempo certo, na quantidade adequada.

    Um grupo com moderação ou temperança não engole tudo a todo o momento. Saboreia os momentos e situações sem se submeter ou se viciar. É um grupo que sabe do seu potencial e o vive em sua plenitude, sem frustrações.

    O grupo que vive segundo esta virtude é um grupo equilibrado, que conhece seus limites e age na medida certa. E a ação do grupo se baseia sempre na ação de Jesus. Na cerimônia do “lava-pés”, Ele nos ensina a medida certa do serviço: “se, pois eu o Senhor e Mestre vos lavaram os pés, vós devereis também vos lavar os pés uns dos outros”. (Jo 13,14). E quando se trata de amar, a medida certa é o próprio Jesus; “Como eu vos amei, vos também, amai-vos uns aos outros”. João 13,34

Veja o restante da série "Os Sete" clicando aqui.

Um comentário:

  1. Muito bom meu amigo .. Um dia quero ainda conversar contigo sobre muitas coisas que andam inquietas aqui no meu coração a respeito da juventude. Mas tudo ao seu tempo, gosto muito das suas postagens e já pensou em escrever um livro sobre?

    Abraços fraternos.

    Fernandes

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