quinta-feira, 14 de junho de 2012

Detonando com a assessoria

Durante o final de semana da celebração de Corpus Christi de 2012 eu estava junto com a turma do estado de São Paulo celebrando o III Encontro Regional da Pastoral da Juventude. Poderia dizer muitas e muitas coisas sobre este encontro. Mas gostaria de deixar focado um momento: sexta feira a tarde. As dioceses se agruparam por proximidade (aqui em São Paulo chamamos estes grupos de sub regiões) e tinham que discutir quatro textos e compará-los às suas realidades. Alguns eram bem provocadores. Outros apresentavam dicas e questionamentos. Vou me deter sobre um deles, o último, que tratava do tema Formação.

Ele causou alguns incômodos, pois questionava quatro posturas e opções da Pastoral da Juventude: o modelo de assessoria, a nucleação, a iniciação e o acompanhamento das lideranças. O texto começava assim:

“Há dois erros enormes na pastoral da juventude: um é o dar importância demais a um modelo de assessoria que não existe. O outro é o de insistir na valorização das supostas etapas iniciais dos grupos de jovens. Quanto tempo e quanta energia se perdem neste processo? Pode parecer heresia para alguns. Você não acredita nisso? Então seja frio, deixe a emoção de lado e analise comigo.”

Antes que perguntem, sim, o texto era de autoria da comissão regional de assessores, da qual faço parte. Contribui bastante para que este material tivesse essa cara e tem questionamentos meus aí. E por quê trago este texto refletido e não o texto original? Porque percebi algumas confusões. Ao acompanhar a leitura, você perceberá que existem mentiras de mãos dadas à algumas verdades. E são estas associações que são usadas contra a PJ. E é preciso termos clareza daquilo que somos para podermos argumentar com maior propriedade. Para não ficar longo demais, vou me deter somente nas falas sobre assessoria. Vamos ao texto?


“Quem é o assessor hoje nos moldes que a Pastoral da Juventude prega? É o cara que acompanha, auxilia, senta do lado, dá umas dicas, orienta, não faz, mas motiva a fazer, pega no pé, ajuda na formação. É quase um Messias para os grupos pejoteiros, mas que se insiste em caracterizar como um João Batista”.

Uma meia verdade só para poder ganhar confiança do leitor. A figura bíblica que inspira a assessoria é a de João Batista. “É preciso que ele cresça para que eu diminua”, disse numa das passagens evangélicas. “Ele”, no caso, é Jesus. E é assim conosco também que exercemos este ministério. Não é nossa glória pessoal. Não é o quanto somos “bons”. O que fazemos não tem um fim em nós. Não somos salvadores da Pátria. Contribuímos com aquilo que sabemos e vivemos para que outros cresçam no amor a Deus e aos irmãos, no comprometimento com a causa do Reino e na defesa da vida, em especial da juventude. Ajudamos sim, mas não somos Messias. Apontamos para Ele. Continuemos com o texto.


“Imaginemos por um instante que tal figura exista. Que sujeito extraordinário ele seria! E que poder ele teria em suas mãos! No fim das contas, é ele quem daria as cartas, quem ditaria os rumos pastorais. Você não crê nisso? A pessoa que detém toda essa influência teria realmente que possuir um altruísmo fora do comum, teria de ser alguém extremamente isento de interesses próprios, de vaidade ou da busca pelo poder da autoridade. Teria que ser alguém que ainda não existe”.

Há uma tremenda confusão entre o papel da assessoria e da coordenação. Este trecho reforça esta ideia, mas com outra consideração e com uma mentira por trás. A consideração é de que o assessor não coordena diretamente, mas que manipularia quem estivesse na coordenação através do seu poder de influência e convencimento. De fato, há assessores que pensam assim. E estão errados em fazê-lo. Quem decide tudo em nome da coordenação ou para que eles não cometam erros, acaba por impedí-los de crescer.

E é um trecho mentiroso também porque diz que não é possível existir assessores com altruísmo, que pensem no bem do próximo, independente dos próprios interesses. Claro que existem. Claro que há pessoas que dedicam suas vidas por conta de um bem maior, muitas vezes nem pensando em si próprias.

“Senão, convenhamos, viver é a arte de convencer. As pessoas gostam de estar certas e convencer os outros de suas razões e motivações. É natural que seja assim. No fim das contas, a própria evangelização é parte de um processo de convencimento, razão pela qual não existiria até hoje o cristianismo. Ou seja, não é errado gostar de convencer, influenciar ou ter este tipo de poder. Errado é negar. Assessor é o artista do convencimento. E esta arte foi adquirida com anos de prática. Por isso que o assessor é sempre alguém mais velho. Porque aprendeu na prática, na tentativa e erro, a melhor maneira de convencer os outros”.


A palavra chave aí é Convencimento. Veja a frase: a evangelização é parte de um processo de convencimento. A ideia da maioria é a do discurso e do poder. A ideia de um pejoteiro esclarecido é a do Testemunho. Palavras comovem, mas exemplos arrastam. Se o assessor é o artista do convencimento? Sim, é verdade. Convence porque é coerente entre aquilo que fala e aquilo que faz. Convence porque os jovens olham para seu exemplo de ação e se inspiram nele, querem conhecer mais sobre porque ele é assim e vão buscar as origens dessa prática. Daí eles se aproximam de Jesus, conhecem uma boa nova que dá vida e uma comunidade que acolhe. Então os jovens descobrem que todo esse poder que o assessor tem é um serviço para uma causa maior.

E a pergunta chave aqui é: diante disso tudo, como estamos formando nossos assessores?

A continuação deste texto está aqui. Até mais.

6 comentários:

  1. O assessor de pastoral, antes de qualquer coisa, é alguém que deveria viver o Evangelho e que, por isso, deseja testemunhá-los a outros - em especial a jovens.
    Questionar se o assessor consegue ser altruísta, a meu ver, significa questionar se o assessor está vivendo coerente com o evangelho que deveria testemunhar.
    Penso que neste caso o questionamento seria então ainda mais profundo do que simplesmente o modelo ou a estrutura de animação dos grupos. A questão estaria em torno do compromento dos assessores à fé que professam e da qualidade de sua vida espiritual.
    O que, sem sombra de dúvidas, é mais importante e anterior a qualquer formação para a assessoria...

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    1. Perfeito Glauco. Muito bem colocado! E bem vindo novamente a blogosfera! Estava fazendo falta!

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  2. Excelente texto, reflete muito bem no que se passa na Assessoria gostei da frase "É a arte do convencimento", é fato, afinal este que acompanha deve ter um dom de persuasão muito bom mais é claro somado ao diálogo e colocar caminhos/vertentes a ser seguidos e suas possíveis probabilidades de resultados finais, nunca somente um caminho tendo em vista que o "cuidante/acompanhante" já passou e/ou viveu este processo.

    saudações Rogério
    abração

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  3. Ufa!!!!

    Quando vc disse que este texto iria pro blog, fiquei cheio de receios, até te disse E se esse texto cai em mãos erradas???

    Mas a sua saída foi realmente boa, sugiro depois que terminar a reflexão que os leitores pegue os trechos e monte o texto pra ver como é...

    Abraços Ro!!!

    Tamo Junto!!!

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  4. No meu ponto de vista um assessor ele tem que ajudar o coordenador de uma forma que eles possam se entender, e não do jeito que queiram manda mais que o coordenador, pois eu vejo aqui mesmo na Paroquia onde moro que o assessor que faz tudo, mas na hora de falar com o Padre ele se guarda porque não tem coragem, e no final das contas acaba de "ferrando" porque não quis opinião de ninguém da coordenação.

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  5. Excelente post, acabou de ganhar um leitor pela análise que fez neste texto.

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