Este artigo é uma continuidade do texto “Detonando com a assessoria”, publicação que teve sua inspiração nas discussões ocorridas no III Encontro Regional da Pastoral da Juventude do Estado de São Paulo. Da mesma forma que o texto anterior, vou procurar destacar as partes do material original e fazer uma análise a partir deles.
O texto anterior falava sobre a assessoria. Este analisa as etapas iniciais dos grupos de jovens e o trabalho com as lideranças pastorais. É importante que saibamos o porquê das nossas opções pastorais, não só para um enriquecimento do saber intelectual, mas para termos clareza do que fazemos e para termos como contribuir para o crescimento dos jovens que caminham conosco. Diz o texto original:
E é por conta desta arte do convencimento que a PJ opta pelos pequenos grupos e tem pavor dos grandes grupos. Pequenos grupos são mais fáceis de serem organizados, moldados e manipulados. Desculpe-me se eu assusto você com esta terminologia, mas essa é a verdade. Na massa, o jovem pode ir na onda, mas não existe a certeza se ele está realmente convencido. Nos grupos pequenos isso é mais fácil.
A opção pedagógica pelos pequenos grupos não tem nada a ver com medo dos grandes grupos e nem com nenhum processo de manipulação. O grupo de Jesus não era a massa, mas um grupo pequeno. Não existe medo dos grupos grandes, basta ver quantas romarias e Dias Nacionais da Juventude a PJ tem no “currículo”. E conforme já disse aqui no blog, pequenos grupos são grãos de mostarda, pitadas de sal, fermento na massa. Quase não são percebidos, mas acabam por fazer uma grande diferença no final. Grupos pequenos são mais propícios para as pessoas se conhecerem, se respeitarem e aprender a conviver com a diferença. E geralmente os grupos pequenos acabam lidando com a escassez de recursos (humanos, materiais, logísticos, por exemplo) e por isto precisam exercitar a criatividade para superar estas limitações. E por privilegiar grupos com poucas pessoas, aprende-se que em ambientes assim as responsabilidades assumidas são maiores e, consequentemente, há uma maior chance de se desenvolverem boas lideranças. E quem enxerga manipulação nesta história não entende que na PJ o que queremos ver é o crescimento integral do jovem e não o aprisionamento dentro de padrões particulares.
É por essa razão que a PJ tem a tal das etapas iniciais de um grupo de jovens. Peguemos duas delas só como exemplo: Nucleação e Iniciação. Na nucleação, os grupos são gerados e acompanhados seus primeiros passos. A turma começa a se conhecer e a se integrar. São períodos de muitas dinâmicas e os conteúdos passam sempre pelo tema da amizade, temáticas juvenis leves e pouca atividade na comunidade.
Claro que isso é estratégico. E claro que isso é uma furada. Há mais de quarenta anos este modelo se repete e quer ser apontado como uma grande novidade. Por que é estratégico? Porque é o único jeito que a PJ sabe fazer grupo. Os grupos são sempre pequenos, fáceis de acompanhar, fáceis de conhecer e fáceis de integrar. E por que é uma furada? Porque revela o medo e a incapacidade pejoteira de lidar com a massa. Hoje, os grandes grupos que lidam com a evangelização na Igreja Católica trabalham para as multidões. Para que se precisa de um grupo de dez ou doze jovens? Os movimentos juvenis arrebanham centenas deles. Essa é a tendência. Só a PJ não enxerga.
O que é a nucleação? É o que diz o primeiro parágrafo, é um período leve, de integração do grupo, de forte descoberta do que é ser grupo. É estratégico que seja assim? Claro que é! São etapas de crescimento do jovem na fé e no compromisso. Ninguém que nunca subiu uma escada começa pelo último degrau. É estratégico e de muito bom senso que se comece pelas etapas iniciais, portanto. O texto acima, porém, mente ao dizer novamente que os grupos pequenos são a opção da PJ pela incapacidade de lidar com grupos grandes. Já expliquei aqui o porquê. Contudo, é importante deixar claro aqui que esta “tendência” de trabalho com as massas não é unanimidade em toda a Igreja. Há setores que discutem a efetividade desta evangelização massiva e esta pastoral de números expressivos. Quem precisa de massa sem fermento é quem está com muita fome ou muita pressa. Os grupos da PJ são pequenos sim. Somos muitos, mas somos grupos pequenos. Toda massa que vai virar pão para matar a fome tem que ter um pouco de fermento.
E quanto à Iniciação? A PJ diz que é o período em que os grupos já estão integrados e que podem dar seus primeiros passos. É quando as temáticas abordadas começam a ser aprofundadas. É quando a estrutura pastoral é apresentada. É quando começam as ações organizadas e a integração com outros grupos.
Percebem o grau de instrumentalização? A nucleação dá o molde para o grupo pejoteiro e a iniciação começa a jogar o conteúdo. O jovem que está na própria comunidade não quer saber da tal estrutura pastoral ou das ações organizadas. Ele quer celebrar bem com o seu grupo, participar de encontros massivos, conhecer uma galera nova, adicionar todo mundo no facebook. A PJ não percebe isso, mas insiste em acrescentar novos grupos para uma estrutura que não diz nada para os tempos atuais.
Não há instrumentalização. O processo de educação na fé proposto e praticado pela Pastoral da Juventude, prega a autonomia da juventude. Como é possível ser autônomo e ser massa de manobra ao mesmo tempo? No entanto, este tipo de afirmativa encontra eco em corredores de paróquias e em pessoas que não querem o compromisso que a PJ aponta como necessário. Sim, claro que há jovens em nossas comunidades que não querem saber de se comprometerem com as bandeiras de luta que levamos. E, de verdade, não há mal nenhum nisso. Há jovens que se dão muito bem nas equipes internas da Igreja e não tem envolvimento algum dentro de caminhadas pastorais. Nem todo mundo tem o dom de trabalhar numa pastoral litúrgica, ou numa pastoral carcerária por exemplo. Da mesma forma, nem todos abraçam a PJ.
Mas afirmar que a PJ instrumentaliza os jovens que passam por seus processos é uma acusação leviana, ainda mais por acrescentar que esta massa existe para somar a sua própria estrutura. A organização interna da PJ (que vai desde os grupos de base até o nível nacional) assusta alguns e é motivo de orgulho para outros. No entanto ela de nada vale se for mais importante que a missão que ela carrega. A estrutura é apoio, não é o foco. Está a serviço, mas não é por ela que trabalhamos. E se alguém considera que é assim, é preciso que repense seu caminhar pastoral.
Por fim, creio que caiba mais uma observação. Se esta estrutura é fracassada, como é que ainda se mantém? Porque ela investe numa coisa importante: as lideranças. Se você sabe como a PJ se organiza, perceba e veja se não condiz com a verdade. Mesmo que o grupo da PJ seja pequeno, nem todos ali são líderes realmente. Há quem tenha o dom natural de comandar os outros. Estes são extremamente incentivados e são os mais moldados. São eles que os coordenadores mais acompanham de perto e mais agradam. São eles os primeiros a serem mandados para cursos, formações, retiros. Porque, afinal, se eles entrarem no esquema, os demais serão mais fáceis. Estratégia maquiavélica e extremamente funcional.
É claro, óbvio que é importantíssimo que se invista nas lideranças e coordenações de grupos. Quem não faz isso comete uma falha gravíssima e põe em risco os trabalhos futuros da instituição, organismo ou grupo do qual faz parte. Uma das primeiras coisas que aprendi na PJ é que um bom coordenador prepara sempre alguém para ficar em seu lugar. Prepara. Essa é a palavra chave. Se você vai preparar alguém, essa pessoa deve ter algumas características de uma boa liderança. Líder não é para mandar nos outros. E o Evangelho já nos ensina que o maior entre os outros é aquele que serve, que dá o exemplo, como Jesus o fez. E a PJ nos ensina que todos no grupo têm a capacidade de serem líderes, não só alguns, como o texto acima afirma.
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Quem afirma tudo isso é pejoteiro? Conhece a PJ? É possível rebater os seus argumentos? Como está articulada a PJ em sua realidade no que diz respeito à assessoria, nucleação, grupos iniciantes e liderança jovem? É um trabalho bem feito ou é uma estrutura fadada ao fracasso? Como está a FORMAÇÃO nestas etapas? É possível, através dela, fazer calar todas estas críticas?
Por fim, o texto termina com estas perguntas. Analise os blocos em destaque e veja que respostas você daria. Mas não se esqueça que a formação na pastoral da juventude é sim uma resposta efetiva para os problemas apontados, porque ela carrega uma característica fundamental: ela é integral, comporta os elementos intelectuais, espirituais, vivenciais, pessoais e sociais. A formação na PJ vê o jovem com um inteiro, não como um depósito de saberes. Conheça e verá se não é mesmo por aí!
Eu estou com medo das perguntas que terei de responder no meu primeiro encontro da sub-regional, em julho.. kkkk
ResponderExcluirRogério, seu texto mostra o quanto a PJ é bem articulada e faz questão de nunca esquecer o Foco, chamado Jesus Cristo.
O testemunho que os assessores da PJ dão é tão forte, que não há um jovem que não olhe admirado, ao conhecer algum assessor, como você disse na primeira parte do texto.
Bastou um retiro de lideranças e o CDL nível 1 para eu perceber o quanto a PJ poderia mudar minha vida e a vida dos membros do grupo de base que faço parte... Já estou ansioso para o nível 2 e estaremos juntos, na JMJ; com nossos bandeirões. kkk
abraços!
hmmmm bem o que foi falado convém, pra desmistificar algumas coisas... mas há sim uma manipulação muito forte na PJ em alguns grupos de base, ainda que isso não tenha nada a ver com a PJ em si com sua metodologia e seu jeito de ser Igreja
ResponderExcluirhá lideranças manipuladoras na PJ... triste porém real...
Parabéns Rogerio Concerteza Encontrei um Grande Parceiro Para Ajudarmos no desemvolvimento de Nossos Grupos de Jovens.
ResponderExcluirComentando Sobre o Texto;" Estamos Sim nos formando de Maneira Concreta e Ideal, atravez da Proposta Metodologica que Incentiva a Juventude a Acreditar na Vida Concretizado os Seus Trabalhos de Grupos Sempre Voltados Para Proposta de Jesus, Fazendo com Que o Jovem Tenha um Crescimento Integral, Chega de Colocarmos a Ideia de Que A massa Vai Render, Como Foi Falado não adianta Nada ser Não ter um Bom Fermento, Substanciado de Formação e Acrecido de Fé, Sou Jovem da PJ, Não me Arrependo Nunca desta Opção, Pois Vejo nela um Processo Rico de Amadurecimento de vida"
Gedeon Alves - Pastoral da Juventude - Canaã dos Carajás - Pará
Rogerio. sou coordenador de uma comunidade e encontrei um grupo de base que segue mais um assessor do que jesus cristo.
ResponderExcluiro paroco ja disse que ele nao pode ser assessor mais o mesmo disse que so os jovens podem tirá-lo. e agora ajuda ai.
ah temos 5 anos de paroquia e com este assessor ja tivemos 04 cordenaçao da pjp. e nada fuciona
Meu caro, é difícil opinar sem maiores detalhes, mas existem algumas coisas que são fundamentais. O assessor é uma ponte de diálogo entre o grupo e a comunidade e não uma barreira, como você me dá a entender pelo comentário. Não entendi se o assessor é de um grupo da comunidade ou da PJP. Deu a entender que ele é do tipo que centraliza as coisas com ele e que isso desanima os jovens. Se é assim, o que ele não percebe é que o pároco pode acabar com os grupos que ele acompanha, e aí não vai ter quem dê legitimidade a ele. Isso, no entanto, é terrível, pois fala diretamente quanto a participação dos jovens na comunidade. Isso é o mais comum que eu já vi acontecer em diversos lugares por aí. O ideal, para mim, é o caso ser discutido no conselho da comunidade (ou da paróquia) e tentar um acerto entre todos. Um grupo ou pastoral não é um ponto isolado dentro do trabalho comunitário, está interligado a outros. E se está com problemas que não conseguem resolver por si só, é hora da comunidade agir.
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