Faça a experiência. Vá num grupo de coordenadores de grupos de PJ ou mesmo num grupo de assessores e pergunte quem é a juventude. Quer que fique mais interessante? Peça para falarem sobre seus conceitos em uma ou duas palavras. Aí está feita a feira!
Faça uma sondagem depois. A grande maioria vai por dois caminhos distintos. Uma juventude ideal e uma juventude problemática. É praticamente líquido e certo. Não tem escapatória. A juventude ideal é aquela batalhadora, revolucionária, com coragem de mudar, fazer e acontecer, com entusiasmo, encantamento e ideais. E a juventude problemática? É a consumista, hedonista, violenta, violentada, acomodada, indiferente, apolítica.
Que coisa mais contraditória, não? Não é da mesma juventude que estamos falando? Claro que quando falamos “juventude” estamos nos referindo a um coletivo de jovens. É óbvio, porém, que não dá para juntar num mesmo saco chamado “juventude” todas as experiências e manifestações dos jovens. Portanto, há de se considerar que não existe um só coletivo que contemple todas as realidades hoje em dia (se é que em algum dia houve).
Mas não é este o ponto. Estamos falando sobre o olhar de quem está à frente de nossos grupos. O olhar que estes coordenadores e assessores têm a respeito dos jovens. Por que é um olhar no mundo das ideias ou um olhar pessimista diante da mesma realidade? Como pode um povo que tem como missão trabalhar junto destas pessoas, terem olhares tão distintos a respeito deles?
Engana-se quem não crê que estas perspectivas furadas estejam ligadas ao exercício da fé. Sim, estão profundamente ligadas, tanto para aqueles coordenadores que tem uma visão idealista da juventude como para aqueles assessores que carregam o peso da visão pessimista deles (ou vice-versa).
Mas não se deixem enganar por uma segunda vez. Há quem use da fé para justificar estes dois olhares para a juventude. E eu digo que usam de maneira errada. Muitos amigos e irmãos em nossas comunidades têm estas vendas sobre os olhos ou enxergam a realidade sobre outros óculos que não os da fé em Jesus e no Reino de Deus.
Sim, devemos ter um olhar otimista perante as dificuldades da realidade, mas não de um otimismo besta, que não entende as conjunturas. Claro que o jovem tem potencial para ser batalhador, entusiasta, encantado e encantador, cheio de possibilidades e oportunidades. Mas por que esta realidade não é plena para todos? É por conta da fé em Jesus e no Reino que podemos dar um passo além nesta imagem maquiada de juventude ideal.
A maioria dos jovens é massa sobrante no modelo de sociedade em que vivemos e como tal é perfeitamente descartável. Entre aqueles que lutam para não ser descartados, boa parte entra no jogo do sistema: é moldado, lapidado, cortado e encaixado para virar mais uma engrenagem nesta máquina toda. E devem se sentir gratos por estarem lá e não terem sido descartados no lixo da história.
É pelo olhar da fé em Jesus e no Reino que podemos perceber esta realidade não com desânimo, mas como possibilidade de mudanças. Nossa fé não nos acomoda a termos uma visão bonitinha da realidade, mas também não nos leva ao desespero diante da cultura de morte que impera nas relações sociais. Nossa fé é transformadora.
Mas somos poucos. E esta realidade é tão ampla, complexa e cruel. Ela mata os profetas que a denunciam e persegue aqueles que tentam modifica-la. Diante do instinto de preservação da vida, muitos se calam. Mas como podem se calar aqueles que se dizem cristãos e que receberam o mandato de Jesus de anunciar a Boa Notícia a todos os povos? E a Boa Notícia é que Deus quer a vida e não a morte. Vida plena.
Então é preciso que sejamos estratégicos, como nos pediu Jesus. Sim, somos poucos. Mas são estes poucos que vão articulando pequenos grupos pelo país. São estes poucos que capacitam suas lideranças num processo de formação integral. São estes poucos que botam fé na juventude e acompanham pessoalmente as novas coordenações e os jovens líderes. São estes poucos que se empenham em formar redes de partilha e troca de experiências para que ninguém se sinta só nas lidas diárias. São estes poucos que articulam uma campanha nacional contra a violência e o extermínio de jovens. São estes poucos que, seguindo o exemplo de Jesus, contam com a juventude para ser protagonista neste anúncio, testemunho e serviço para vivermos a Boa Nova. São estes poucos que com a fé do tamanho de um grão de mostarda são capazes de se assumirem como fermento e de botarem a massa toda para crescer.
Como sempre Rogerio, você nos provocando, abrindo nossos olhos para a realidade da juventude e também alertando a nós, digo aqui como assessor, para com o trabalho de assessoria que desenvolvemos. Vejo que um texto como esse deixá-nos inquietos, provocando em nós uma reflexão sobre que estamos fazendo de fato para como a juventude. Valeu companheiro, e vamos juntos construir a civilização do amor, uma vez que, "Na ciranda da vida a nossa missão é amar e servir".
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