Agosto é o mês consagrado na Igreja para a reflexão sobre as vocações. A cada domingo é abordado um aspecto vocacional diferente (sacerdotal, familiar, religiosa, laical e catequética). Quando olhamos para nossos grupos, no entanto, vemos pouca reflexão, estudo ou aprofundamento sobre as dimensões sacerdotais e religiosas. Por que será?
Paralelamente a este questionamento, podemos olhar em qualquer levantamento que se faça sobre as dificuldades da Pastoral da Juventude. Certamente entre os cinco primeiros problemas que forem levantados estará a falta de apoio do clero. Por que será?
Se todos os documentos da Igreja dizem que o jovem é o rosto da Igreja e o seu futuro, o que falta para que os grupos de jovens trabalhem na dimensão vocacional o aspecto sacerdotal e religioso? E o que falta para que os padres e religiosos acolham melhor os jovens que provém da Pastoral da Juventude?
Não posso aceitar a hipótese de que os jovens da PJ são chatos e os outros são legais. E digo isso por dois motivos bem simples. “Os outros” neste caso englobam uma massa juvenil muito grande, de diversas experiências e raízes religiosas distintas. Não é possível colocar “os outros” num saco só e dizer que é tudo a mesma coisa. O outro motivo é que a PJ não prepara ninguém para ser chato. Prepara para ser crítico.
Conheço alguns padres e religiosos que tem toda paciência do mundo, mas que a perdem rapidamente quando ouvem falar da PJ. Sendo criada esta barreira, como este sacerdote ou religioso podem se tornar exemplos vocacionais para os jovens que são destes grupos? É preciso que quebrem esta barreira.
Há problemas em ambos os lados. Há seminaristas que se preparam para a nova vida encarando uma realidade onde a sua palavra será lei e será inquestionável. Neste contexto, um jovem com sede de autenticidade é uma pedra de incômodo na caminhada deste sacerdote. Um grupo então é algo mais complicado ainda. “Senhor padre, o senhor realmente crê no que anuncia? Senhores religiosos, vocês, de fato, vivem conforme acreditam? Caras freiras, as senhoras pregam somente aquilo que vivem?”. Os jovens querem ver coerência. Parece um raciocínio rasteiro, mas como eu já ouvi queixas neste sentido. Muitas! Tantas!
Por outro lado, há grupos pejoteiros com uma fé bem rasa e uma prática infantil. E por conta disso não sabem dialogar. Gostam do título de críticos e querem ser os chatos em todas as reuniões do conselho da comunidade ou da paróquia. Chegam cheios de exigências, mas dão um testemunho de vida cristã vazio. São jovens que ainda não passaram por todas as etapas da formação integral da Pastoral da Juventude. Provavelmente, não possuem um acompanhamento e uma assessoria adequada. Ao contrário do que o senso comum nos diz, não se pode abandoná-los ou renegá-los. É preciso investir neste tipo de jovens.
Faltam religiosos e sacerdotes com um perfil para trabalhar com jovens e em especial com os da Pastoral da Juventude. Falta gente que queira cativar com carinho e mostrar a beleza da trilha de uma vida consagrada a Deus e aos irmãos. Faltam coordenadores de grupos com a percepção de que este é um aspecto importante da vida e ao não trabalha-lo adequadamente pode-se estar perdendo uma vocação. E descobrir a própria vocação é descobrir um sentido para o bem viver.
Claro que é um processo demorado e difícil. Mas parafraseando Dom Bosco, não é para ser fácil. É para valer a pena. O cerne da proposta da PJ é o seguimento de Jesus. E assim o sendo, não há como não ser uma proposta vocacional. Se os ajudamos no crescimento de sua consciência crítica e no discernimento de seu projeto de vida, porque não estimulá-los a compreender que há a possibilidade deste projeto de vida estar na caminhada religiosa?
Onde a Pastoral Vocacional estiver bem articulada, creio que valha uma parceria. Há um ganho para ambos os lados se trabalharem juntos e harmonicamente. A PV ganha por ter a oportunidade de trabalhar com jovens mais críticos e com uma fé mais amadurecida. A PJ ganha por estar em sintonia com a Igreja e trabalhando organicamente com gente que sabe do que está falando.
Os grupos de jovens da Pastoral da Juventude percorrem um itinerário de fé que tem o pressuposto de um amadurecimento que leva a uma opção vocacional, consciente e madura, para toda sua vida. Não se pode abrir mão desta dimensão. Correria o risco deste caminhar ficar incompleto.
Sim, alguns podem não se sentir estimulados e dizer que o cenário de Igreja na sua realidade não é reconfortante o bastante para poder motivar os jovens a abraçar uma vocação religiosa com maior segurança. Sim. Foi esta a minha primeira ideia quando comecei a pensar neste texto. Mas me veio a mente a vida dos primeiros cristãos. Imagino que o cenário social para quem abraçou a vocação de ser seguidor de Jesus também não foi dos mais seguros, reconfortantes ou estimulantes. E é por conta da vida deles que hoje ainda falamos da proposta daquele jovem de Nazaré. Pensem só em quantos jovens deixarão de saber desta Boa Nova se nós desanimarmos?