terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Para que investir na juventude?


Em tempos de “ano da juventude”, vale a reflexão sobre as respostas que são dadas quando se questionam os motivos, razões ou necessidades de se investir na juventude. E investimento não é só financeiro, é também doação do tempo, da escuta, do aconselhamento, dos recursos materiais, humanos e afetivos. 

Muito se ouve a respeito deste tema. Há afirmações positivas, negativas, de desconfiança ou todas juntas e misturadas. Qual a ideia que se esconde atrás de cada colocação? Que visões de mundo e de juventude estas respostas revelam? 

É preciso que se diga, novamente, que nenhuma delas é uma indireta a esta ou àquela situação específica. Na verdade é uma coletânea. Muita coisa se diz por aí. E muita gente acaba repetindo frases sem ao menos parar para refleti-las. Vejamos dez tipos de respostas:



a) Não há seriedade na juventude. Não é confiável investir neles.
Há variações. Mas o mote principal sempre é esse. Se for jovem, desconfie. Jovem não tem responsabilidade, não tem compromisso, não tem respeito. Não se sabe se esta repulsa toda tem a ver com a imagem que estes adultos carregam de si e dos seus contemporâneos dos idos em que eram todos jovens. Eles acreditam que o tempo conserta (ou ajusta) as pessoas. Eles valorizam a experiência sobre todas as coisas. Não se abrem para a novidade. E juventude, para eles, só nas propagandas de refrigerante (e olhe lá). Ao menos são sinceros na sua repulsa juvenil.

b) É preciso um controle rigoroso ao investir neles.
Confiam desconfiando. Acreditam na necessidade de se ter sempre um adulto por perto. Para os jovens não é possível ter autonomia, liberdade. Jovens são adultos incompletos. Se chegarem a investir na juventude, eles têm a convicção de que o controle absoluto precisa estar na mão dos mais velhos. Os jovens são todos tutelados. Não se criam lideranças. O que se cria aqui é gente que quer crescer para ter o poder de controlar os outros. Afinal, foi este o modelo que aprenderam.

c) Claro que tem que investir. É preciso mão de obra.
Jovem objeto. É quem decora a quermesse, se veste de palhaço, anima a liturgia, prepara cartazes. Claro que a vida comunitária é importante. No entanto, quem é visto somente como mão de obra, dificilmente é formado para ser liderança, mas para ser obediente. São os tarefeiros e com tal papel são sempre coadjuvantes. Nunca tem a possibilidade de criação. Triste, mas muito comum.

d) Claro que é preciso investir. Precisamos de números.
Crismaram centenas. Rezaram juntos milhares deles. E o evento reunirá milhões. Números, estatísticas. Jovens viram dígitos. E dígitos viram notícias. E notícias favoráveis dão créditos a quem quer aparecer. O jovem é um detalhe. É menos do que ser coadjuvante. É só ficar batendo palmas e saber pelo noticiário que o outro é que ganhou o prêmio pela canção. Há quem fique feliz. Como também há quem prefira quantidade à qualidade.

e) Se não investirmos, qual futuro a Igreja terá?
O aspecto religioso e institucional é só uma das partes da vida do jovem. Ninguém pode pensar em investir na juventude só por conta do aspecto religioso. Sim, ele pode ser o mote inicial. Mas o ser humano é mais do que este lado. Formar, acompanhar e investir no jovem só tendo no horizonte o futuro da Igreja é ter uma visão tacanha. A formação deve ser integral, para a vida como um todo. A vida eclesial é somente um aspecto. Importante, mas só um dos lados da vida humana. E, convenhamos, a maior parte da vida está fora dos muros eclesiais. E é lá que o Evangelho precisa ser vivido e testemunhado com mais força.

f) Eles são rebeldes. Têm de ser controlados para que se invista neles.
Medo. Esta é a palavra. Mais do que desconfiança. Mais do que preconceito. Associam a juventude às forças da natureza. São incontroláveis. Mas precisam criar uma atmosfera de segurança para se sentirem seguros. No fundo, não investem muito não. O pé está sempre atrás em relação ao mundo juvenil. Abrem uma portinha aqui, estendem a mão ali, mas sempre carregam a mesma certeza. Jovens são formados por hormônios em fúria e ninguém consegue controlar vulcões juvenis.

g) Não há privilégio por critério etário, mas por comprometimento.
Ainda o olhar da desconfiança. Ainda o preconceito quanto ao comprometimento juvenil. O detalhe é a exigência descarada da reciprocidade. Só se investe se o jovem estiver comprometido com a causa. Ninguém quer perder nada. Ninguém quer fazer uma aposta no escuro. Todo mundo quer o seu investimento rendendo frutos. Se não rende, não invista. Se não produz, não avance. Se não dá frutos, não adube. Corte, serre, mate, ignore. Não bote fé na juventude.

h) É importante investir porque eles são jovens. E isto basta.
Minha raiz salesiana tinha que trazer o mote de uma das frases mais famosas de Dom Bosco: “Basta que sejais jovens para que eu vos ame”. A postura da vida do santo era de um educador. Sua pedagogia transformadora se baseava na razão, na religião e na bondade. O sistema preventivo de Dom Bosco acredita sim no jovem, mas também no educador. A postura deste precisa ser diferenciada. Mas perceba que não é esta a ideia da frase acima. Ela passa pelo puro e simples investimento sem reciprocidade, sem acompanhamento, sem retorno ou medições. O jovem percebe quando há envolvimento e quando não há. Sem assessoria, sem a figura educativa que motiva o crescimento, que lança desafios, que está junto animando, este investimento não vai para frente. Portanto, não basta só ser jovem. É preciso que ele se sinta amado.

i) Porque os jovens são os destinatários da nossa ação
Parece bonita a frase, mas é incompleta. Jovem que é só destinatário da ação corre o risco de ser só objeto da ação. Jovem que não é partícipe do próprio processo de crescimento não se doa por inteiro e não cresce como deveria. Ser destinatário de uma ação dá a ideia de que se faz “para eles”, quando na verdade a melhor forma de entender o compromisso pastoral com juventude é fazer “para eles, com eles e junto deles”.

j) Porque acreditamos no comprometimento da juventude.
Quem erra é incentivado a aprender com o erro e não ser condenado por conta dele. Quem acerta é animado a dar passos além. Quem faz é motivado a pensar estratégias de fazer melhor e diferente de acordo com os desafios que vão surgindo. Quem pensa é desafiado com novas e diversas possibilidades a ser mais criativo. Isso é ser protagonista. É preciso confiança. É preciso tempo. É preciso carinho, disponibilidade, postura de escuta, acolhida e aconselhamento. É preciso muito amor. É preciso ser cristão de verdade para levar esta postura adiante. Não é fácil. Mas vale a pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário