domingo, 20 de outubro de 2013

Uma PJ que caminha no deserto

Pois é. A PJ chegou aos quarenta. Como sabemos este é um número extremamente simbólico. Já tratamos disso aqui por algumas vezes. Gostaria de me prender um pouco mais ao exemplo bíblico dos quarenta anos em que o povo de Deus caminhou no deserto em busca da terra prometida.

Há uma marca forte neste número que é a da transformação. Ao acompanhar a narrativa bíblica veremos que o povo que iniciou a caminhada passou por poucas e boas até chegar ao seu destino e por outras tantas quando se instalou por lá.

Se a vida começa aos quarenta, não é de se estranhar que somos fruto de todas as decisões tomadas e de todos os percalços sofridos até chegarmos a esta data. Esta é uma das lições que eu tomo ao me deparar com a travessia bíblica.


Olhe para a caminhada da PJ na sua região. Não sei quanto tempo vocês já caminham por aí. Talvez não chegue perto dos quarenta anos, mas não tem problema. Peço que faça um comparativo desta jornada com aquela do Povo de Deus. Penso em cinco exemplos para facilitar a comparação.

Cebolas do egito: Nm 11,4-5
A saudade das cebolas do Egito representa a idealização de um passado que não existiu, ao menos não como se propaga. Sim, eles comiam cebola e carne, mas eram escravos, mortos quando não rendiam no trabalho. Por vezes nossas comunidades, amigos, colaboradores, instituições parceiras e até nós mesmos nos pegamos neste saudosismo infundado. Quem disse que o passado foi melhor. E, se o foi, que bom para nossa história e para nosso aprendizado. Mas nosso tempo é o deste momento. Só no agora podemos plantar as sementes do futuro. Só agora podemos fazer a diferença.

Água de pedra: Ex 17,1-7
A expressão é conhecida. Tirar água de pedra é conseguir algo muito difícil, quase impossível. Mas as coisas difíceis de serem conquistadas são aquelas que valorizamos mais. Por isso há tanto amor na PJ. Na maioria dos lugares que já visitei e que tive contato, o trabalho pastoral é feito a duras penas. Muitas vezes, mesmo sem o devido apoio, a turma consegue fazer trabalhos belíssimos. Com poucos recursos financeiros, humanos e estruturais, ela consegue, através da criatividade, dar um passo além, por vezes muito difícil, quase impossível.

Maná no deserto: Ex 16,1-35
Se repararmos bem na passagem do maná há dois componentes muito interessantes: a surpresa pelo dom, pelo alimento que cai do céu e a regra para não acumular. Creio que isto caiba bem em nossa identidade pastoral. Nossa experiência com o sagrado, com a vivência e experiência cristã é um dom, uma dádiva. Dela nos alimentamos e nela buscamos força para continuar caminhando, pois acreditamos que no caminho as vidas e as situações se transformam. No entanto, não podemos acumular, guardar toda esta experiência, esta vivência para nós mesmos. O alimento do céu que se esconde, apodrece, não nos serve mais. E o que apodrece, contamina. Nosso maná diário deve satisfazer a necessidade diária e deve dar para todo mundo. Não se pode guardar só para si esta experiência. Há tanta gente que precisa dela.

Bezerro de ouro: Ex 32,15-24
Repare que no tempo de caminhada da pastoral por aí, na sua localidade, no seu grupo, certamente houve algum período de fraqueza, de tentação, de pensar em adotar outras experiências diferentes ou de achar que tudo que viveram até chegar ali foi um erro ou não valeu a pena. Pois é, minha cara e meu caro amigo. Fazer pastoral, trabalhar com a juventude não é e nunca foi uma tarefa fácil. A cobrança por resultados, por realizações concretas, vem de todas as partes, inclusive da moçada. Há quem caia na tentação de eventos com números grandiosos, mas sem processos de acompanhamento. Há outros que cedem ao desejo da espiritualidade que sensibiliza, mas ignoram o pé no barro. Há ainda quem motive as grandes ações, os grandes envolvimentos, mas esquecem de meditar um Pai-Nosso durante a atividade. Há bezerros de ouro demais por aí.

Leite e mel: Lv 20,24
É a promessa, é o que nos faz caminhar, é o nosso horizonte utópico, é o que guia nossos passos e mantém acesa a chama da nossa esperança. Sim, também fazemos pastoral por uma série de outras coisas, de pequenas vitórias do dia a dia. Elas nos animam e são um prelúdio do que ainda estamos por viver. Sem a ressurreição é vazia nossa fé. Sem a semeadura do Reino de Deus não há pastoral que dure. E nós estamos caminhando já há quarenta anos. Certamente não somos os mesmos que começaram tudo isso lá nos anos de 1970 e pouco e nem temos a mesma projeção de trabalhos concretos e perspectiva imediata da ação que eles e elas. Fomos olhando as realidades, aprendendo com os erros, observando o passado e formando nossa identidade. Mas a perspectiva, o caminhar orientado, o horizonte, o passo a passo sempre buscaram a mesma terra onde corre leite e mel. Caminhamos para o Reino.

Um comentário:

  1. Muito bom o texto! Aqui no Regional Leste II Celebraremos os 40 anos dia 19/01/2014 por ocasião do início da Ampliada Nacional da Pastoral da Juventude, em Belo Horizonte/MG. Nos apoiamos nessa caminhada belíssima de seguir a Jesus e construir relações novas, mais humanas para todos.

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