terça-feira, 2 de agosto de 2011

PJ e os desafios da educação

Hoje eu tenho a grata satisfação de compartilhar com os leitores deste blog um texto do amigo e eterno pejoteiro Raimundo. Ele também é assessor no Instituto Paulista de Juventude, historiador e professor. Foi membro da coordenação da Pastoral da Juventude de São Miguel Paulista e é um dos três poetas do blog Mirazé. Ele foi convidado a compartilhar um texto conosco sobre a PJ e os desafios da Educação. Texto cheio de desafios e inquietações. Valeu Raimundão!!! Você foi (para não fugir da regra) bem preciso! Aproveitem do texto!

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O que a PJ tem a ver com o Mundo da Educação? O que os jovens que alimentam os grupos e comunidades por todo o país podem ou devem fazer em relação a esse tema?

São muitas as esquinas em que PJ e Educação se encontram e se abraçam. Creio que um desses pontos tem a ver com o Projeto de Vida de muitos dos líderes da PJ, que é ser Educador no sentido mais amplo da palavra. Podemos afirmar que a “Pedagogia Pastoral” (As palavras-chave dessa Pedagogia aparecem em negrito ao longo do texto), fortemente inspirada na Prática de Jesus, acaba desembocando em uma escolha profissional, uma opção de trabalho pela vida toda. 


Como conseqüência, quando chegamos às instituições educativas - escolas, ong’s, universidades - certamente o peso dessa formação falará alto, e queremos colocar nosso tijolinho no muro do universo educacional.

Universo complexo, diverso, muitas vezes confuso. Na escola pública, que para muitos passa por uma crise sem fim desde os anos 80, os educadores tem que se equilibrar entre um ideal de qualidade e Democracia (escola para todos, gestão democrática, ampliação de metodologias, novas formas de aprender e ensinar) e uma realidade na qual suas intenções e anseios são quase sempre podados.

Um professor diferenciado, que quer proporcionar novas experiências aos educandos, propôr novos temas, aproximar-se da comunidade, etc, provavelmente encontrará resistência de diretores e coordenadores, ou ainda pior, dos próprios pares e estudantes. 

Dentro de uma escola, a expressão “matar um leão por dia” é perfeita para ilustrar a rotina do Educador comprometido com seus alunos e com a importância da profissão docente.

Em suma, para (re)humanizar a escola, é necessário frequentemente ceder em alguns pontos, aceitar acordos, “morder o fruto amargo e não cuspir”, como dizia Geir Campos. E isso é tarefa dura, pois parte da premissa de que o Diálogo jamais pode ser cessado.

Esse desafio permanece nos espaços não-formais, feito ong’s  e projetos, já que fora da escola também há, em menor escala, uma lógica do controle e da acomodação. Mas, com certeza há mais horizontes, mais energia positiva, mais chances de oferecer e partilhar novas visões aos jovens.

Da mesma forma, hoje, mais do que executores de práticas educativas, alguns jovens (e ex-jovens) da PJ estão na linha de frente da formação de educadores e agentes sociais, pois perceberam que na vida universitária também há a necessidade de inserir novas possibilidades, de reler algumas teorias, revisitar algumas idéias. Perceberam, acima de tudo, que as palavras de Paulo Freire, que renegavam uma “educação bancária”, na qual o aluno (do latim, sem luz) espera receber a luz de seu mestre sábio, eram quase uma profecia do distanciamento entre o que é proposto pelo sistema oficial e a vida das pessoas que compõem o mundo da escola.

Acredito que uma vivência pastoral que possa colaborar na gestação de uma “Nova Educação” deva dar a seus participantes duas ferramentas vitais: estímulo à leitura (“Leitura” que aqui não deve ser compreendida como mera questão técnica, mas como possibilidade de ler o mundo, de compreender as expressões humanas em seus diversos campos do conhecimento) e capacidade de argumentação. Quem lidera grupos de jovens precisa fazer e incentivar o exercício constante de ler - pois formação sem leitura não existe; e precisa propiciar um clima no grupo no qual todos possam falar e serem ouvidos, que todos possam se expressar e refletir de forma profunda sobre as questões importantes para daquela comunidade.

Além desse processo “natural” da formação, penso que já passou da hora da PJ liderar o debate sobre os temas ligados ao Mundo da Educação. Que tal uma campanha pela valorização dos professores, por mais espaço para expressões culturais dos jovens nas escolas, por um maior comprometimento e transparência do poder público com a questão, por uma abordagem menos superficial da mídia? Por que não estimular e produzir subsídios para os grupos façam aproximações mais estreitas dos ambientes educacionais de suas regiões? Por que não fugir do voluntarismo e criar, inventar, entusiasmar discussões e ações mais concretas? 

Essa semana, de volta do recesso, uma aluna comentou comigo ao me abraçar: “Que bom que o senhor voltou, por que muitos professores passam por aqui e a gente não os vê mais...”. Que bom que eles estavam lá... que iríamos retomar a aventura de aprendermos juntos.

São 500 anos de História e um milhão de desafios... mão com mão, companheiro! Apenas começamos...

3 comentários:

  1. Parabéns Rai pelo texto.
    Eu como ex-pejoteiro e como atual educador me sensibilizo e me reconheço no texto.
    A minha militância na PJ me levou para a Educação, e hoje reconheço como foi fundamental a PJ para o meu trabalho de educador.
    Sou um militante da Educação com a mesma garra e utopia que liderava grupos de PJ.

    Vandei
    (Seu Zé)

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  2. Ao contrario do Seu Zé, estou engajada na PJ ainda e estou cursando História para ser um educador tbm, e nesse texto muito bom do Raimundo só me faz reforça essa idéia de engajar a aprendisajem da PJ dentro da educação que ctz faz a diferença e ctz farei muito uso tanto na minha formação quanto na area que logo estarei atuando.

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  3. "Quem ameaça e não dá, medo há".
    Este provérbio muito elucida internas vontades inúmeras de especificar-se, porém a fobia de largar o osso engessa a ação autêntica e aí é melhor ficar fazendo "puxadinho" dentro da organização, ao invés de dar a cara para bater e de fato enfrentar o desafio da contrução do Reino de Deus sem medo das consequências, sem guarda-chuva para tapar o sol. Que dúvida! Ser um docencete assessor militante ou um militante discente juvenil. Esse medo é antropológico. O enfrentamento de maneira autêntica através de um processo historicamente contribuitivo é sobreposto pelo corporativismo de afinidade, viciando estruturas em todos os níveis e patrolando quem realmente quer oxigenar a organização. Isso está mais saliente por conta que os eclesiásticos simplesmente deram as costas para a "suposta" filha mais velha e agora a condolência atinge o egoismo e sente a dor que as irmãs já sentiam. Tenho ouvido com muita reflexão as histórias que profetizam configurações excludentes da organização. Julho de 2013 de fato mostrará as verdadeiras cartas do baralho, acabarão os blefes e agora de fato os olhos enxergarão o que de fato é. Várias frentes militantes da organização vanguardiam (ainda hoje) movimentos sociais tecendo parcerias com outras juventudes extra eclesial, menoscabando as "irmãs" mais jovens, que são infinitamente mais semelhantes e fraternas. Isto parece uma grande tentativa de diversificar os tentáculos de algo que se encontra chocho a beira do jazigo, principalmente se confrontarmos com as "comunidades primitivas" da organização. Enfim "o corpo" padece e não consegue se iluminar nem com a luz que envolve os olhos e a heráldica é simular que não há "nobody" há 30 anos, por excelência, que contribuiu e contribui para além e com as perpectivas freirianas ao ponto de entrelaçar coletivamente a educação libertadora. Fica a dica!

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