domingo, 23 de março de 2014

Quem merece elogio?

A pergunta é: Quem faz um bom trabalho, merece um elogio? A boa educação indicaria que sim, mas vamos colocar uma variável. A pessoa tem a função de realizar determinado trabalho. Se o faz bem feito, merece elogio?

Conheço gente que mudaria o discurso. Diriam que se fulano tem aquela função, o correto é que faça bem feito. É uma obrigação de caráter. É quase um contrato. É quase uma função empregatícia. E eu observo tudo isso e me pergunto se tem que ser assim mesmo.

Sujeito tem um emprego e realiza determinadas tarefas. Se o serviço dele é bem feito, ele não faz mais do que a própria obrigação, já que está sendo remunerado para isso? Penso que isso não é lá muito motivador. Se esta lógica estiver certa, as pessoas que fazem um serviço voluntário, sem pagamento a receber, não tem necessidade de agir com empenho?


Voltemos o olhar para o nosso trabalho pastoral. Conheço poucas, pouquíssimas pessoas mesmo que recebem dinheiro para contribuírem com a PJ. São as lideranças liberadas. Dioceses, congregações, escolas ou outras instituições pagam estes jovens e/ou assessores para que possam articular os trabalhos e grupos em vista da missão.

Como são tão poucas as pessoas liberadas, a maior parte do nosso trabalho pastoral é feito por gente disponível e voluntária. Até aí, nenhuma novidade. Mas voltando a pergunta inicial deste texto, se o empenho é feito de forma gratuita, não caberia elogio se for bem feito?

Parece-me que é óbvio que todos aqueles que desempenham adequadamente a missão que lhes é dada são dignos de cumprimento, ou seja, se fizeram algo bem feito, parabéns. Mas não creio que nossa prática seja assim. Somos muito críticos, severos e, por vezes, pessimistas.

Há um exercício que faço com alguns grupos pastorais e que repeti na semana passada com lideranças jovens de grupos e paróquias. A constatação normalmente é a mesma. Pedi a eles que escrevessem numa tira de papel as dificuldades que encontram para desempenhar seu trabalho pastoral. E o que lemos do conjunto do resultado é que somos muito críticos, severos e, por vezes, pessimistas.

Um olhar frio, distante, de alguém de fora, diria que nossa ação é feita por gente masoquista, inconsequente ou sem visão de processos. Somos tão severos com nossas dificuldades, com nossas limitações. Há desde a irresponsabilidade das lideranças, passando pela falta de compromisso e de apoio, até as raias da constatação de que a juventude está perdida mesmo. Quem se aventura a embarcar numa canoa furada como esta?

Gente de fé. Gente que aprendeu a lidar com a escassez e que sabe fazer muito do pouco. Gente que acredita no protagonismo juvenil. Gente que tem suas raízes fincadas no projeto libertador de Jesus. Gente de história. Gente que se articula e que mantém redes de contatos. Gente que forma novas lideranças. Gente que se doa. Gente que acredita sim em processos pastorais. Gente que não gosta de sofrer, mas que não nega o sofrimento e vai em frente, apesar dele. Gente que aprende com o erro. Gente de luta. Gente pejoteira.

Agora me diga você, como não tecer e derramar elogios a esse povo? É cultural. Nós não gostamos de autoelogios, pois parece presunção, orgulho barato. Costumamos prezar mais a humildade e sermos mais críticos ao olharmos para as nossas falhas. Já que não é “bonito” soltar louvores ao próprio trabalho, que o façamos pelos grupos e pessoas que se empenham por isso.

Por isso eu despejo elogios aos grupos pastorais que fazem bem feito aquilo que muitos consideram o básico do trabalho pastoral: incentivar, animar e formar grupos de jovens e lideranças juvenis. Isto não é pouca coisa. É um reiniciar constante, é uma volta às raízes, é um cutucar feridas que se consideravam superadas.

Ajudar a formar grupos e lideranças novas e dar a eles um olhar mais amplo da realidade são duas ações fundamentais da missão da PJ. São tão importantes que sem elas estaríamos fadados ao desaparecimento. Parabéns, portanto, às dioceses, paróquias, regionais, institutos, parceiros e congregações que apoiam e incentivam estas práticas. Parabéns ao povo pejoteiro que não se deixa barrar pelas dificuldades, mas que as superam com fé e determinação, transformando muros em pontes. Parabéns a estas bravas e aguerridas lideranças que acreditam no potencial da juventude. Força e coragem a vocês. Foquem na base. E foquem na missão.

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