terça-feira, 8 de abril de 2014

E Jesus chorou

Já me disseram que este era um dos menores versículos da Bíblia. Não pesquisei a sério para saber se é verdade, mas é fato de que ele é extremamente profundo. Está lá no Evangelho de João, capítulo 11, versículo 35. Dependendo da tradução tem três, quatro ou cinco palavras.

Para entender o contexto, Jesus é chamado para visitar o amigo Lázaro que se encontrava bem doente. Ele era irmão de Marta e Maria, moradores de Betânia. Os especialistas que tratam deste encontro são bem favoráveis a dizer que aquela era uma casa amiga, de gente chegada e querida.

Chegando ao local, Jesus e seus discípulos encontram Marta e depois Maria e ambas coincidem na mesma frase: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido”. Lázaro estava morto há quatro dias. O encontro com Maria às lágrimas deixou Jesus comovido. Ao ser levado ao túmulo, Jesus chorou.


Quando eu era adolescente e refletia sobre esta passagem, tinha para mim que Jesus era um sujeito cheio de poderes. Já havia ressuscitado o filho da viúva de Naim, a filha de Jairo, expulsado demônios e curado pessoas. Lázaro era “apenas” um milagre a mais. Contudo, antes do derradeiro ato, ele se pôs a chorar. Por quê?

Minha formação inicial na Igreja sempre quis trazer a figura de um Jesus próximo, interessado pelas pessoas, um AMIGO. As figuras messiânica, profética, super-humana vieram depois. Talvez pela influência da catequese eu enxergasse nele alguém que queria estar ao lado das pessoas, ajudar em seus problemas, ouvir suas dificuldades. 

Diz o texto evangélico que Jesus demorou dois dias antes de partir para visitar a família de Lázaro, apesar de saber que Lázaro iria morrer. Quando Marta veio ao seu encontro, ele até travou um discurso racional com ela. Porém quando Maria veio e se lançou chorosa aos seus pés, ele se comoveu. Ao se dirigir ao túmulo, ele chorou.

Por maior que seja nossa fé na ressurreição, a dor da perda, da saudade, da distância é um elemento que aflora nossa sensibilidade humana. Quem perde um amigo, um parente, um ente querido sabe o quanto isso mexe com os sentimentos. Jesus agiu no ato extremo, ao ressuscitar o recém falecido Lázaro. Não conheço nenhum contemporâneo meu que tenha feito tal milagre. Mas há algo na atitude de Jesus que nos serve de modelo e exemplo.

Ele foi solidário na dor da família de suas amigas. Partilhou do sofrimento, dialogou e esteve junto. Mas foi além. Deu sinais de que a vida pode prevalecer e de que a morte não tem a última palavra. Ele foi até a beira do túmulo e agiu.

Eu olho as dezenas de iniciativas da Pastoral da Juventude e fico feliz por vê-las acontecer e saber que se inspiram nos mesmos passos de Jesus. Basta olhar nos noticiários para ver que a imagem da juventude é carimbada com a marca da violência e da inconsequência. Este é o pré-requisito para que muitos jovens (em especial os negros pobres) das periferias sejam espancados e mortos sem um digno julgamento. 

Quantas famílias não sofrem por ver seus filhos envolvidos direta ou indiretamente com as situações de violência, condenados a terem a vida abreviada, sem a possibilidade de exercerem a plenitude de suas potencialidades?

Vivemos num mundo que está tal qual Lázaro no início do capítulo evangélico: doente. Nesta realidade a violência, o tráfico de drogas, a má educação, a saúde pública precária, a repressão e o preconceito vão condenando dezenas, centenas e milhares de jovens a uma morte antecipada. A maioria de nós olha para isso e segue os passos de Jesus até o versículo 35 do capítulo 11 do Evangelho de João: E Jesus chorou. 

Uma PJ consciente do seu papel cristão e profético prossegue na leitura e no seguimento: vai até a boca do túmulo e chama o jovem para fora. Vai até seus grupos e desperta o olhar da juventude para uma realidade muito mais ampla. Vai até os conselhos de bairro, de educação, de saúde e de cultura e exige os direitos que nos cabem por lei. Vai junto com a comunidade, paróquia e diocese e se articula com outras forças interessadas no bem da juventude. Vai, aproxima-se da realidade, é solidária com ela, busca a mudança, agindo preventivamente e profeticamente. Seguindo os exemplos e os passos de Jesus.

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