sábado, 13 de junho de 2015

Você pode desistir. Ou não.

A gente vivia um sonho que acabou.
Por um momento pensamos que aquilo sim poderia dar certo.
Mergulhamos de cabeça. Acompanhamos cada passo. E agora? O fim foi triste.
Eu ainda não acredito que tudo isso aconteceu
O negócio agora é voltarmos cada um para sua origem e tocar a vida de onde paramos.
Sim, por que se continuarmos lá, nosso fim será mais ligeiro.

Não. Espera. A história pode ser adaptada. Se mudarmos alguns contextos, ela ficaria assim:

Por que tudo aquilo que planejamos não está dando resultado?
Achávamos que iria dar certo, mas não rola nada e os encontros não dão liga.
A gente se dedicou tanto, desenhamos, relembramos, fizemos tudo como nos ensinaram.
Funcionava antes, não sei por que não funciona agora.
O negócio agora é desistir. Essa juventude está perdida e não nos ouve.
Sim, por que se continuarmos lá, vamos é perder tempo.


Há algum tempo, a leitura da passagem dos discípulos de Emaús vem se tornando minha reflexão contínua. A cada nova leitura, uma nova visão. A cada nova reflexão, um aprendizado diferente.

O texto está lá, no Evangelho de Lucas, capítulo 24 a partir do versículo 13. Está justamente nos dois primeiros versículos a etapa em que somente os dois discípulos desanimados estão voltando para casa. A partir do terceiro versículo, um terceiro caminhante também vai fazer a rota com eles.

Pelo contexto de onde se retira este trecho do Evangelho e também dos versículos seguintes, sabemos que eles estavam desanimados e desorientados. Por isso, supus o diálogo inicial deste texto. Nada mais humano do que perder o encanto diante de uma expectativa alta que se cria sobre algo e que não se cumpre de forma alguma.

Mas se, diante do contexto, a morte de Jesus não seria uma surpresa, por que os discípulos ficaram frustrados? Porque, da mesma forma que nós, eles não souberam ler as entrelinhas e as correlações dos fatos recentes. Porque, da mesma forma que nós, eles criaram uma expectativa alta e não consideraram os fatores adversos. E porque eles ignoraram o chão da história. Como nós, muitas vezes.

Há ocasiões em que a gente se enfia no nosso mundinho, acaba por se cercar de gente que só pensa como a gente, considera que uma atividade ou mesmo que a nossa própria missão está a poucos dias do sucesso pleno, joga a expectativa nas nuvens e não percebe que o tropeço era algo marcado para acontecer. Mirou no céu e escorregou na formiga.

Olhe para trás. Nos grandes e pequenos deslizes da sua vida pessoal, pastoral, profissional ou outra vida que você leve (rs), naqueles em que você tinha plena ou praticamente certeza que daria tudo certo, eu corro o risco de acertar ao dizer que na maioria deles você não analisou todos os principais fatores de risco antes.

Às vezes nós não estamos atentos mesmo, e essas falhas acontecem para que fiquemos mais espertos. Com isso podemos aprender com o erro, aguçar o olhar, analisar o que dizem aqueles que pensam diferente de nós, buscar outras experiências, estudar direito a própria identidade e identificação com esta ou aquela tendência que estávamos adotando em nossa vida. 

E por falar em pastoral, nós precisamos estar realmente atentos a estes sinais. Por vezes pensamos em desistir de um projeto, de uma missão ou da própria existência. E somos livres para fazê-lo. No entanto, Deus não desiste de nós. E isso não é uma afirmação piegas para emocionar este ou para aquele outro compartilhar em suas redes sociais. É o testemunho sincero de alguém que já passou por algumas crises e que vacilou outras tantas vezes.

A gente realmente é livre para acolher o terceiro caminhante na nossa estrada ou não. É livre para dar atenção ao papo que ele tenta puxar conosco ou não. Livres para olhar para a nossa história, nosso passado, o chão que a gente pisa ou não. Livres para refletir e tentar mudar de conduta ou não. A vida nos apresenta os sinais. Basta que a gente os perceba e os aceite. Ou não.

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