quarta-feira, 28 de julho de 2010

Espiritualidade é o que dá a “liga” – parte 1


É interessante a reação do mundo real frente a este blog. Fico muito feliz e entusiasmado para fazer mais e melhor. Colegas de pastoral, jovens, assessores, coordenadores de grupo me escrevem, ligam ou simplesmente falam quando me encontram me passando temas para escrever, pedindo para acrescentar esta ou aquela pergunta ou fazer uma ou outra abordagem.  E tenho visitado vários blogs e sites pejoteiros e de juventude por aí. Há muita coisa boa esparramada pela rede. Há muita gente pejotando por aí. E tudo isso mexe muito comigo.

Como eu escrevi em outros artigos, há um elemento por trás de tanto entusiasmo que sustenta a nossa prática pastoral e que nos ajudam a superar boa parte dos desafios: a nossa espiritualidade. É ela quem dá a “liga”, que une os outros elementos e não nos deixa desanimar. Por isso os primeiros artigos são sobre a espiritualidade pejoteira. E por isso também que as próximas duas perguntas tratam deste tema também. E com elas chegamos a metade das nossas perguntas. Neste artigo trataremos da primeira delas.



19.    Seu grupo vive uma espiritualidade libertadora?

Esta é uma pergunta que eu faria para a coordenação de um grupo que quer ter uma identidade pejoteira. Lógico que a metodologia é importante, a formação é fundamental, o conhecimento histórico idem, a integração com outros grupos também. Mas a cada dia eu me convenço mais de que é a espiritualidade quem define o rosto da PJ. Toda celebração pejoteira mexe com a minha emoção e me dá mais vontade de me empenhar nesta causa.

Eu já fiz um artigo que falava da dificuldade em se viver a espiritualidade e outro onde dava algumas características da espiritualidade pejoteira. Esta deve ter todas as características de uma espiritualidade libertadora. Quais são elas? Dom Pedro Casaldáliga, em seu livro “Nossa Espiritualidade”, apresenta alguns traços:
  • é baseado no seguimento de Jesus e do Evangelho. É, antes de tudo cristã, seguindo Jesus e sua causa;
  • ela encontra Deus no serviço e comprometimento com os pobres. É uma fé política e social, é espiritualidade engajada, consciente e crítica;
  • é profética: denuncia as injustiças e anuncia o Reino;
  • é evangélica, baseada no Evangelho e nas opções evangélicas pelos pobres, os excluídos, os pequenos, os humildes;
  • é contemplativa na libertação, mística de pés-no-chão e mãos calejadas, alimenta-se da práxis e encontra força e coragem na intimidade com o Deus vivo;
  • herdeira do testemunho dos mártires, disposta a fazer sacrifícios e renúncias em favor do Reino;
  • vive o espírito de diálogo com as religiões, cristãs ou não, em vista da paz;
  • tem o Reino de Deus como centro e a opção fundamental; quer-se construir o Reino, aqui e agora, em nossa sociedade, em nossos lares, em nossa vida, comprometidos com a construção do Reino;
  • é comunitária, partilhando a vida, as alegrias, as lutas e as tristezas do povo simples;
  • exige comprometimento e entrega da vida total.
Quem vive esta espiritualidade libertadora não olha com indiferença a realidade social em que vivemos e a confronta com os ideais evangélicos e com a postura de Jesus. Por isso a PJ encampou a “Campanha Nacional contra a violência e o extermínio de jovens”. Por isso a PJ é contra a redução da maioridade penal. As posturas que temos são motivadas pela fé que professamos.

Claro que é um processo conseguir vivenciar esta espiritualidade no grupo de jovens. É uma fé vivida na prática, no dia a dia, no cotidiano mesmo.  Por isto que as músicas da PJ falam da realidade, cantam a vida, as tristezas, as angústias, a alegrias e as esperanças do jovens. Por isto que usamos cores, luzes, cheiros e sabores em nossas celebrações. Por isto que dançamos, por isto que rezamos, por isto que olhamos para a vida de Jesus e de tantos santos e santas, mártires e profetas e não desanimamos.

3 comentários:

  1. Cara...

    Eu confesso, até com certa vergonha, que ainda não li teu livro! Como é o nome dele mesmo? Lá tem estas preciosidades que tu tens postado aqui?

    Tô perguntando isso porque, se o teu blog está tratando de assuntos diferentes, ou mesmo ampliando os horizontes, tá na hora de pensares em uma nova publicação, meu amigo!

    Vai revendo aí as dicas e sugestões dos amigos, vai acrescentando isso ao que já escreveste neste blog e vai te preparando para publicar um novo livro, que isso tá bão dimais da conta, sô!

    Paz e Bem!!!

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  2. Oi Zé.

    O livro é o "Pastoral da Juventude - E a Igreja se fez jovem". Publicado pelas Paulinas em 2002, está na 2ª edição. Fiz uma revisão nele no ano passado e estamos esperando o estoque acabar para lançarem a 3ª edição revisada e ampliada.

    Sim, tem coisas do livro aqui, mas numa linguagem diferente e com elementos novos. Por exemplo, boa parte dos artigos sobre espiritualidade tem um pezinho no livro.

    Agora, esta parte das 40 perguntas é praticamente toda nova. É um exercício semanal escrever um ou dois artigos do zero, coletando coisas que já escrevi ou que já li (e nas quais acredito) e que ainda não havia publicado.

    O Henrique também sugeriu isso (de um novo livro). Não era essa a ideia inicial. Era justamente o contrário. Mas se os caminhos apontarem por aí, vamos seguir.

    Obrigado pelas palavras

    Abraço

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  3. Olá Rogério tudo bem? Meu nome é Ryan Santos da arquidiocese de Vitoria da Conquista -Ba
    Mais uma vez eu vim aqui só tirar algumas dúvidas referentes ao seu artigo.

    Primeiro ficou bastante claro a sua linha conceitual da espiritualidade. Mais só um duvida. Você poderia me explicar melhor ^^ O que seria Espiritualidade Libertadora? Liberta de quem? Esses termos às vezes me confunde muito pessoas dizem " Libertadora se refere a salvação, refere a entrada do reino de Deus bem explicado nas sagradas escrituras" outros dizem "É um termo utilizado para mostrar a necessidade de se desligar da nossa atual obediência com a igreja e a sua metodologia arcaica" Qual é o certo?

    Particularmente adorei todos os traços da espiritualidade que vc colocou , só achei que faltou algo importante como reconhecer a espiritualidade do magistério e a tradição da nossa igreja.

    O senhor poderia explicar melhor sobre o que o senhor disse:
    " Nossa espiritualidade segui o traço do espírito de diálogo com as religiões, cristãs ou não, em vista da paz” Como assim?
    Minha essência religiosa tem que esta em comunhão com todas as religiões de minha realidade?

    Desde já muito obrigado!!

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