Quando olhamos para a nossa sociedade, uma das grandes caracteríticas que podemos perceber é que estamos cercados por uma cultura do consumo. A propaganda liga produtos e coisas ao reconhecimento social das pessoas. É o tal do Ter para Ser. Por isso, os objetos que usamos ou consumimos deixam de ser meros objetos para se tornarem um cartaz que carregamos e que diz que tipo de pessoas somos ou gostaríamos de ser. Este ambiente materialista é um primeiro obstáculo à vivência da espiritualidade, pois tudo se torna aparência e se reduz tudo à mercadoria.
Dentro desta mesma lógica do Ter para Ser, há também o imenso foco no prazer. Este é um segundo risco ou dificuldade para que o jovem viva uma espiritualidade libertadora. Viver esta busca do prazer na relação com Deus é um dos aspectos desta nova cultura. Há uma grande busca de auto-satisfação. Há quem diga “Participo onde me sinto bem acolhido”, mas que gostaria de dizer "Busco mesmo é ser aceito, buscando meu bem-estar”. É a espiritualidade do individualismo. Encontrar a Deus no cotidiano, significa encontrá-lo nas outras pessoas e em especial naquelas mais desprovidas de tudo que é material.
Se olharmos para esta sociedade de consumo, uma terceira dificuldade que percebemos tem ligação com os tipos de espiritualidade que são oferecidos por ela. Há expressões de espiritualidades desligadas da realidade, que não ligam bem a fé com a vida, o que na verdade levam os jovens a não perceberem os sinais e a presença de Deus no seu dia a dia. Se acreditamos que Deus se revela no cotidiano, e a falta de Deus também, é lá que nossa espiritualidade encontra campo fértil para agir.
Querem uma quarta dificuldade? Uma palavra: virtualidade. Ela tem a ver com o mundo televisivo e o mundo cibernético, onde as respostas são praticamente instantâneas e a informações são fornecidas quase que no mesmo instante em que ocorrem. Virtualidade tem ligação também com o artificialismo do mundo. As coisas deixaram de ser reais. Desde os bichinhos virtuais da década de 1990 até as fazendas virtuais das comunidades de relacionamento. Chegamos ao ponto em que as movimentações financeiras são praticamente todas virtuais. A dificuldade aqui é que a espiritualidade também se torne virtual. E assim sendo acabe não causando nas pessoas uma mudança interior e que não tenha apelo ao compromisso social.
A espiritualidade é algo que alimentamos todos os dias, mas que para a maioria de nós nunca será plena, ou seja, percorremos um caminho de crescimento permanente na espiritualidade. Uma quinta dificuldade aponta para a falta de perseverança em trilhar este caminho de crescimento ou em achar que se está pleno e que chegou no limite de onde poderia se chegar. A falta de paciência e os atropelos da vida impedem muitos jovens de darem continuidade ao que começaram na vida espiritual. (não se enganem: impedem muitos adultos também)
Por fim, uma última dificuldade se encontra dentro das nossas próprias comunidades. Quando nos preocupamos mais com as estruturas do que com a missão, quando vivemos um sacramentalismo sem sentido ou um medo de falhar nos preceitos morais, corremos o risco de esquecermos as raízes da nossa espiritualidade e ficarmos só com as aparências.
Ter uma vivência capenga em sua espiritualidade implica em deixar em segundo ou terceiro plano esta dimensão da pessoa humana, o que significa que deixamos de ser uma pessoa completa. É necessário que se superem estas dificuldades para que tenhamos uma pessoa livre e plena para realização do plano de Deus nesta nossa realidade cotidiana.