segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pelo fruto se conhece a árvore


Um dos textos que mais me deixou feliz quando terminei de escrever foi o da Árvore Pejoteira. Foi tão gostoso escreve-lo e deu uma repercussão tão bacana (veja, por exemplo aqui) que, apesar de ter sido escrita em fevereiro de 2011, até hoje tem gente me escrevendo a respeito deste texto.

Desde muito tempo, árvores e frutos são exemplos de boas metáforas a respeito do trabalho e da dedicação humana em diversos empreendimentos. Na PJ também se usa deste tipo de linguajar: “frutos do trabalho pastoral”, “plantar uma boa semente”, “esta missão frutificou muito”.

Na lógica do mercado fala-se muito na gestão por resultados. Claro que os resultados são importantes, mas na pastoral privilegiamos os processos, o “como é feito”. Na metáfora arboril, podemos dizer que a PJ sabe da importância dos frutos, mas tem um cuidado especial e um acompanhamento dedicado para com a árvore até que cheguem estes frutos.
Aqui em casa eu tenho um cantinho de terra no quintal. Já tinha um pé de laranjas. Conseguimos plantar uma bananeira, um pé de mexerica e outra laranjeira. Estas duas últimas foram mudas enxertadas, plantadas há uns dois anos e meio. A primeira laranjeira está no terreno há mais de onze anos. Perceber os ciclos delas dá um bom aprendizado.

A laranjeira velha produzia frutos bem pequenos e secos. Por mais de uma vez achamos que não valia a pena cuidar mais dela. Meu pai podou a árvore num período em que poderia ser podada, adubou-a e disse que daríamos mais uma chance a ela. Ela voltou a dar frutos pequenos. Só que desta vez eram bem doces. Mantivemos a árvore por mais um ano. Ontem eu estava reparando nela. Estava linda. Repleta de flores brancas nos galhos e pelo chão. Acho que estará carregada antes do próximo outono.

A laranjeira nova é pequenina, mas já está florida novamente. Já deu bons frutos. O pé de mexerica não. Nunca deu frutos. É pequeno e mirrado. Voltou a ser adubado. Vamos aguardar mais alguns anos. Talvez não tenha chegado o tempo dele.

Um problema de nossas comunidades e grupos é que muitas vezes nos esquecemos deste cuidado. Como árvores no fundo do quintal, deixamos nossos grupos à própria sorte, sem adubá-los, sem podá-los no tempo certo ou podando-os a todo e qualquer momento. Como vão dar fruto? E, se derem fruto, será que ele será saboroso ou nutritivo?

Um outro e tão grave problema quanto este é o do grupo que acha que sua sombra basta. Claro que em dias de calor, uma boa sombra é certeza de alívio. Mas o Agricultor não quer um monte de árvores que só deem sombras. Quer bons frutos.Terrenos escuros ou com pouca luz praticamente não produzem outras plantas e se elas teimam em nascer, não crescem muito.

No Evangelho de Mateus há a seguinte passagem: “Na manhã seguinte, voltando para a cidade, Jesus ficou com fome. Viu uma figueira perto do caminho, foi até lá, mas não achou nada, a não ser folhas. Então Jesus disse à figueira: ‘Que você nunca mais dê frutos.’ E, no mesmo instante, a figueira secou”. (Mt 21, 18-19).

Somos promotores da vida. Viemos para dar frutos e fazer frutificar o Reino de Deus. Nossos processos de acompanhamento, adubagem e poda são importantes. Mas o resultado tem que sair. Não podemos criar grupos que façam só sombra e que impeçam os outros de crescerem. Vivemos num tempo em que os próprios jovens não têm paciência de esperar tanto tempo para ver o resultado de seu próprio trabalho. O tipo de fruto que se colhe diz muito da árvore e de como ela foi cuidada.

Por fim, que ninguém tenha a ilusão de que plantando limoeiros irá colher maçãs. A semente que plantamos dará frutos semelhantes aos que a originaram. Se plantamos autoritarismo, centralidade das decisões, um espiritualismo barato e rasteiro, panelinhas, discussões, não espere colher um grupo pejoteiro, democrático, libertador e sinal do Reino de Deus. Quem planta, colhe. Pelos frutos, sabe-se muito a respeito da árvore.

Um comentário:

  1. Excelente texto Rogério. Parabéns! As metáforas são mais bonitas quando sabemos conectá-las com nossa realidade. E você faz bem isso!

    Na raça e na paz Dele,
    J. Braga.

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