Um dia eu tive a intenção de ter um segundo blog. Diferente deste, era um blog prático, algo como um repositório, um baú, de onde as pessoas poderiam tirar novas ideias e velhas lembranças. Porém, seria igual a este blog também. Igual no sentido de que serviria para a pastoral da juventude animar seus encontros.
Um dia esta intenção se tornou vontade. E esta vontade se transformou em páginas de blog. E eu criei o “Dinâmicas para grupos de Pastoral da Juventude”. Em dois, três dias eu havia colocado algumas dinâmicas lá. Mas não divulguei publicamente.
O motivo foi simples. Ele não era um baú cheio. E ainda não é. São 31 dinâmicas presentes lá. Pouca coisa mesmo. Então resolvi fazer algo diferente da proposta original. Hoje os dois blogs irão “conversar”.
Um primeiro olhar sobre a dinâmica diz respeito à disposição dos participantes. São dois círculos concêntricos, um dentro do outro. A turma que está na roda de dentro são os atores, eles verbalizam. A turma que está do lado de fora são espectadores, eles observam. Mas a ideia de dois círculos é pedagógica além daquilo que se vive nesta dinâmica. É uma prática da PJ que coloca a todos num mesmo patamar de igualdade em importância. O olhar de um se volta para todos, independente de quem seja.
A dinâmica poderia acontecer como num teatro. Quem verbaliza fica numa posição mais alta, num palco por exemplo, e quem observa ficaria num local mais baixo, com olhares somente para o primeiro grupo. Mas a atividade não é assim. O fato do circulo interno estar tão próximo do círculo externo permite que o segundo grupo tenha a sensação de estar envolvido nos acontecimentos ali simulados, sem no entanto participar ativamente deles.
Já utilizei desta dinâmica com diversos fins: para tratar de um uso adequado da metodologia nas reuniões, da postura das lideranças, da presença da assessoria, para estimular a discussão de um tema ou para trabalhar na resolução de conflitos, por exemplo. Talvez um bom segredo para que a atividade dê certo seja criar um clima de liberdade para expressar opiniões ou interpretar papéis. Há quem vá para a verbalização com a intenção definida de ser o “chato”. Como a coordenação daquele grupo que verbaliza consegue lidar com uma figura assim?
Para o grupo de observação, sugere-se que sejam anotados todos os fatos percebidos como importantes para retorno. Que eles sejam estimulados a tentarem se colocar no lugar daqueles que verbalizam. Por que Fulano tomou tal atitude? Se Beltrano tivesse sido mais firme na sua argumentação, a discussão teria tomado outro rumo? Para aquele que conduz a dinâmica, a dica é que seja o último a falar, seja para dar o fechamento do tema, seja para encaminhar a próxima atividade.
A grande sacada, porém, é a inversão de papéis. Quem verbalizava passa a observar e vice versa. Pessoalmente, antes da mudança, eu costumo conduzir a análise do primeiro grupo que verbalizou. O motivo é bem simples. Percebendo os erros e acertos do primeiro grupo, o segundo tende a atenuá-los ou corrigi-los e nesta tentativa podem surgir situações novas que caibam bem numa segunda discussão.
Outro gancho que pode ser dado nesta opção é de como é importante valorizar o entendimento histórico. Ninguém poderia cair no mesmo erro duas vezes se teve a oportunidade de entender como a primeira falha se deu. E se, porventura, caiu na mesma cilada, é importante que se discuta o porquê.
Além de trabalhar o olhar crítico e a empatia, outra vantagem desta dinâmica é ajudar o grupo a aprender a ouvir os outros. Quem fala demais vai se esforçar a ficar calado e observando quando estiver no círculo de fora. E esta mesma pessoa depois que atuou no círculo interno, terá de escutar as observações de quem estava do outro lado.
Olhar crítico, empatia e saber ouvir. Três características que queremos desenvolver nas lideranças pastorais. Três qualidades fundamentais para o bom líder comunitário e grupal. Três contribuições que uma dinâmica simples pode dar se soubermos aplicá-la bem. Desejo bons resultados para quem for utilizá-la!