quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Olhar, sentir-se e ouvir


Um dia eu tive a intenção de ter um segundo blog. Diferente deste, era um blog prático, algo como um repositório, um baú, de onde as pessoas poderiam tirar novas ideias e velhas lembranças. Porém, seria igual a este blog também. Igual no sentido de que serviria para a pastoral da juventude animar seus encontros.

Um dia esta intenção se tornou vontade. E esta vontade se transformou em páginas de blog. E eu criei o “Dinâmicas para grupos de Pastoral da Juventude”. Em dois, três dias eu havia colocado algumas dinâmicas lá. Mas não divulguei publicamente.

O motivo foi simples. Ele não era um baú cheio. E ainda não é. São 31 dinâmicas presentes lá. Pouca coisa mesmo. Então resolvi fazer algo diferente da proposta original. Hoje os dois blogs irão “conversar”.

Há uma dinâmica que sempre uso e que eu fiz questão de deixar disponível lá. Chama-se GVGO. Quem quiser consultá-la é só entrar em http://dinamicaspj.blogspot.com/2010/06/gvgo-grupo-de-verbalizacao-e-de.html. Acho que é uma dinâmica muito interessante porque permite que a gente trabalhe o olhar crítico, a empatia e o saber ouvir. A ideia deste artigo é comentar estes aspectos da dinâmica.

Um primeiro olhar sobre a dinâmica diz respeito à disposição dos participantes. São dois círculos concêntricos, um dentro do outro. A turma que está na roda de dentro são os atores, eles verbalizam. A turma que está do lado de fora são espectadores, eles observam. Mas a ideia de dois círculos é pedagógica além daquilo que se vive nesta dinâmica. É uma prática da PJ que coloca a todos num mesmo patamar de igualdade em importância. O olhar de um se volta para todos, independente de quem seja. 

A dinâmica poderia acontecer como num teatro. Quem verbaliza fica numa posição mais alta, num palco por exemplo, e quem observa ficaria num local mais baixo, com olhares somente para o primeiro grupo. Mas a atividade não é assim. O fato do circulo interno estar tão próximo do círculo externo permite que o segundo grupo tenha a sensação de estar envolvido nos acontecimentos ali simulados, sem no entanto participar ativamente deles. 

Já utilizei desta dinâmica com diversos fins: para tratar de um uso adequado da metodologia nas reuniões, da postura das lideranças, da presença da assessoria, para estimular a discussão de um tema ou para trabalhar na resolução de conflitos, por exemplo. Talvez um bom segredo para que a atividade dê certo seja criar um clima de liberdade para expressar opiniões ou interpretar papéis. Há quem vá para a verbalização com a intenção definida de ser o “chato”. Como a coordenação daquele grupo que verbaliza consegue lidar com uma figura assim?

Para o grupo de observação, sugere-se que sejam anotados todos os fatos percebidos como importantes para retorno. Que eles sejam estimulados a tentarem se colocar no lugar daqueles que verbalizam. Por que Fulano tomou tal atitude? Se Beltrano tivesse sido mais firme na sua argumentação, a discussão teria tomado outro rumo? Para aquele que conduz a dinâmica, a dica é que seja o último a falar, seja para dar o fechamento do tema, seja para encaminhar a próxima atividade. 

A grande sacada, porém, é a inversão de papéis. Quem verbalizava passa a observar e vice versa. Pessoalmente, antes da mudança, eu costumo conduzir a análise do primeiro grupo que verbalizou. O motivo é bem simples. Percebendo os erros e acertos do primeiro grupo, o segundo tende a atenuá-los ou corrigi-los e nesta tentativa podem surgir situações novas que caibam bem numa segunda discussão. 

Outro gancho que pode ser dado nesta opção é de como é importante valorizar o entendimento histórico. Ninguém poderia cair no mesmo erro duas vezes se teve a oportunidade de entender como a primeira falha se deu. E se, porventura, caiu na mesma cilada, é importante que se discuta o porquê. 

Além de trabalhar o olhar crítico e a empatia, outra vantagem desta dinâmica é ajudar o grupo a aprender a ouvir os outros. Quem fala demais vai se esforçar a ficar calado e observando quando estiver no círculo de fora. E esta mesma pessoa depois que atuou no círculo interno, terá de escutar as observações de quem estava do outro lado. 

Olhar crítico, empatia e saber ouvir. Três características que queremos desenvolver nas lideranças pastorais. Três qualidades fundamentais para o bom líder comunitário e grupal. Três contribuições que uma dinâmica simples pode dar se soubermos aplicá-la bem. Desejo bons resultados para quem for utilizá-la!

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