domingo, 16 de outubro de 2011

Qualquer método serve para a PJ?

Trabalhamos com jovens e fazemos parte de uma organização chamada Pastoral da Juventude. Nossas práticas pastorais têm como marca principal sermos sinais presentes do Reino de Deus na vida dos jovens e nas relações criadas com eles e por eles. E se é para sermos sinais que sejamos claros naquilo que transmitimos.

É certo, porém, que nem sempre conseguimos ser perfeitos. Algumas atitudes que tomamos são anti-evangélicas e contrárias ao protagonismo juvenil. Mas uma grande graça divina é que contamos com a correção fraterna de companheiros e companheiras que nos ajudam a melhorar.

Mas se o erro for discreto ou envolvido numa "capa" bem pejoteira? Será que ele passaria sem ser percebido? Será que atrapalharia os trabalhos pastorais? Será que, mesmo com ele, conseguiríamos atingir um objetivo cristão real e autêntico?

Aos meios e maneiras que usamos para chegar a um determinado fim, damos o nome de métodos. Na Pastoral da Juventude, um método com elementos anti-evangélicos pode nos ajudar a chegar a um resultado evangélico? Vejamos alguns exemplos (Todos reais, mas adaptados a partir de diferentes histórias).



1° Caso
Uma coordenação paroquial de PJ tem na sua organização o trabalho com 10 grupos de jovens de diferentes comunidades. O pároco tem confiança nesta coordenação e deu a eles carta branca. Este grupo acredita que são eles tem a obrigação de dar a linha pastoral que será seguida pelos grupos. Por esta razão, eles usam das suas reuniões para dar uma cara ao planejamento e que este possa ser seguido pelos grupos de base, afinal eles são a autoridade pastoral. E eles acreditam que não devem ter a falsa modéstia de ignorar este fato. Eles se acham importantes sim, porque o peso da organização da PJ na paróquia cabe primeiro a eles.

A falha metodológica aqui é achar que existe um grupo pensante e um grupo executante; que uns dão a linha e outros seguem; que a coordenação é mais importante que os grupos porque os primeiros são “planejadores”; e, o pior, é um tipo de planejamento baseado na “autoridade” ou no “poder” concedido.

2° Caso
Um assessor disse numa assembléia setorial de pastoral da juventude que não havia a possibilidade de que aquele grupo pudesse pensar num planejamento de três anos. Disse que a juventude está numa mudança constante. E num intervalo de tempo tão longo, muitas coisas na conjuntura juvenil e mesmo eclesial podem acontecer. Ele afirmou que é preciso que a PJ trabalhe com seus planejamentos em curto ou curtíssimo prazo, levando sempre em conta, também, as transformações juvenis e eclesiais. E que nesta “conjuntura eclesial”, é preciso, mesmo que alguns não admitam publicamente, observar o “andar” dos movimentos de juventude, das outras pastorais e das novas comunidades, que juntamente com a PJ compõe o Setor Juventude. Disse que é preciso olhar para eles e aprender com os erros deles sobre como ter relevância no ambiente eclesial. Quem não tem relevância é excluído.

Por baixo de uma aparente boa intenção há duas falhas neste discurso do assessor. Apesar das mudanças eclesiais e juvenis, é importante ter um olhar a médio e longo prazo no planejamento pastoral. Quem só pensa em prazos curtos dificilmente consegue realizar mudanças que, necessariamente, demandariam mais tempo. Dificilmente consegue realizar o que chamamos de processos pastorais. E a outra falha é pensar nosso agir pastoral em razão da caminhada de outros grupos e das falhas por eles cometidas. Quem tem relevância não é quem comete menos erros, mas quem tem um trabalho importante. E isso, tenho certeza plena que nós pejoteiros temos.

3° Caso
Quando pensarmos o nosso planejamento é preciso sempre focar o horizonte em que queremos chegar. Esta perspectiva nos aponta para onde devemos seguir. E, como criatividade é marca registrada da PJ, para atingir este horizonte, precisamos moldar formas criativas para nossas atividades cotidianas.
É o horizonte que conta. Tropeços no caminho sempre existirão. Mas o foco no nosso objetivo não pode sair de frente. Dele, não podemos abrir mão.


Esse é o discurso mais bonito até aqui. E o mais maquiavélico também. Por trás desta fala meiga de horizontes e criatividades (e que já vi muitos amigos meus reproduzirem) está uma lógica não admitida de que os fins podem justificar os meios. Há duas coisas mais importantes que o “horizonte” (ou situação almejada ou ainda situação final): você parte de que realidade? E qual é o caminho que vai percorrer? Nem todo caminho serve para o Reino de Deus, mesmo que você o esteja procurando. Não se pode, por exemplo, prejudicar a imagem de um grupo do movimento XYZ com mentiras, para conseguir o financiamento para um retiro do seu grupo.

4° Caso
Quem planeja sozinho, erra. Quem planeja com poucos erra. Ninguém assume plenamente algo que não ajudou a criar. Se valorizamos o caminhar da juventude, não podemos fazer Pastoral “para” a Juventude. E quando planejamos, há três passos que não podemos abrir mão: o chão em que pisamos, o horizonte para o qual caminhamos e a massa na qual colocamos as mãos. Sem ver a realidade criticamente e sem entender como a luz do horizonte ilumina esta realidade para podermos agir com maior eficácia, nosso possível planejamento é um fio no qual nos agarramos para não cair no buraco. Fatalmente falhará.

Queremos chegar no nosso destino indo pelo melhor caminho. E esse é o caminho pastoral que estamos traçando a quase quarenta anos. Ver. Julgar. Agir. Já ouvi relatos de gente dizendo que este é um método ultrapassado. Como não falei diretamente com a pessoa, não tive como entender seu ponto de vista e argumentar com o meu modo de ver. Talvez esta pessoa não tenha compreendido toda a riqueza do método. E este é um assunto que não se esgota aqui. Já foi tema de artigo neste blog e certamente voltará a ser assunto. O método é uma das maravilhas da PJ e marca importante da nossa identidade. Saibamos usá-lo bem.

3 comentários:

  1. muito bem ...
    sabe que quando leio estes teus artigos curtos mais profundo repenso muitas acoes pastorais, as vezes nao conseguimos enchergar alem de nos mesmo e de nossa atuacao pastoral. se abrir para o processo e para entender a metodologia, pensamos que sabemos tudo... mas como nos exemplos ... a acao nos grupos de base nossas atuacao metodologica. muito bom parabens nao pare de escrever

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  2. Olá Rogério,

    Não sei se fui só eu, mas não entendi o final do texto (quarto caso). Houve concordância ou não com a ilustração colocada? Enfim...na tentativa de ajudar a dar clareza ao texto...abraço.

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  3. Rodrigo, obrigado pelas palavras. Elas ajudam bastante a continuar escrevendo.
    José (ou J.Braga, nao sei como prefere...), a ideia do 4° caso é falar que mesmo quando usamos o método Ver Julgar Agir, corremos riscos quando não o aplicamos da maneira como deve ser. E isto vale para aqueles que dizem que o método está ultrapassado. Eu creio que não esteja. Eles só não entenderam como aplicá-lo.

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