segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Por uma PJ mais missionária

Um sonho na cabeça e uma gana imensa por poder fazer a diferença. Assim eram os jovens daquela comunidade. Estavam mais animados por poderem receber outras pessoas de outros países naquela Semana Missionária. Enquanto corriam os preparativos também corriam as incertezas que toda a novidade traz consigo.

E se não dermos conta? E se não entendermos a língua? E se não gostarem da nossa comida? E se forem chatos? E se não interagirem conosco? E se não curtirem as nossas atividades? E se, e se, e se... Alguns ficavam presos nas inquietações. Outros tinham o Evangelho profundamente meditado no coração. “eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa” (Mateus, 25, 35).


Os medos eram naturais. Em especial aquele que se refere à dificuldade da linguagem e da cultura. Criamos barreiras quando não nos abrimos ao mundo do outro. Quando nos fechamos em nossos círculos de comodidade e em nossas zonas de conforto, os de fora são vistos como estranhos, estrangeiros. Quando nos abrimos e descobrimos que temos todos (os de dentro e os de fora) a mesma missão em comum, há a certeza de que todos falamos a mesma linguagem e o medo se esvai. Não há mais partos, medos ou elamitas; nem gente da Mesopotâmia, da Judéia ou da Capadócia, do Ponto ou da Ásia, da Frígia ou da Panfília, do Egito ou da região da Líbia vizinha de Cirene; nem de Roma (Atos 2,9-10).

Qual não foi a surpresa deles ao descobrirem esta realidade. Não havia nativo ou estrangeiro. Não havia favorecimento deste ou daquele por ser negro ou branco, mulher ou homem, consagrado ou leigo. O ambiente missionário era de equiparação. Se Deus não faz distinção entre as pessoas (Romanos 2,11), por que eles fariam?

A comunidade era bem pobre. Localizada na periferia da cidade, possuía poucos recursos públicos. O transporte para o centro, a infraestrutura local, saúde, lazer, educação e segurança, tudo era muito precário. Pela lógica capitalista era então paradoxal que tal comunidade se desdobrasse em acolher bem os missionários de outras localidades. Quem menos tinha financeiramente era quem mais se doava. Ninguém considerava propriedade particular as coisas que possuía, mas tudo era posto em comum entre eles. Entre eles ninguém passava necessidade. Era uma mesma fé que os unia. E esta fé era testemunhada na prática (Atos 4,32-34).

Sim, a Semana Missionária havia sido um sucesso. Eles haviam conseguido ver pequenas sementes do Reino de Deus brotar no meio daquele povo. Quem já participava, animou-se ainda mais. Quem estava fora, ficou curioso para conhecer. De onde vinha aquela garra, aquela vontade, aquele aconchego, aquela alegria de ser feliz?

Aí residem as duas maiores tentação do ser missionário. Tudo deu certo, tudo está bem, tudo funcionou. E tudo deu tanto trabalho. A primeira tentação é achar que o sucesso se deve graças ao seu empenho pessoal ou ao da sua equipe e que basta repetir a experiência novamente com outras pessoas que tudo vai funcionar tão bem quanto da primeira vez. Erro bobo este. Nunca é igual e nunca é só por conta de uma ou mais pessoas. O importante não é a estrutura, mas a razão e a motivação que anima o espírito missionário.

A segunda tentação é achar que está tudo tão bem que a experiência deva se prolongar indefinidamente. Tais quais os apóstolos sobre o monte Tabor que já queriam se fixar por lá mesmo diante da transfiguração de Jesus (Marcos 9,2-9). Não, o dever do missionário não está no alto do morro de onde se pode contemplar todas as belezas do mundo. A sua missão está nas descidas e subidas deste morro, nas planícies, vales e planaltos. O dever do missionário é estar no meio do povo, ser testemunha da prática de Jesus e de sua mensagem para anunciar a Boa Notícia aos pobres, para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor (Lucas 4,18-19).

Sim, desejo uma PJ mais missionária. Uma PJ que, ao exemplo do caso dito acima. Uma PJ que não tenha medo, que esteja do lado de quem mais sofre, de quem mais precisa. Uma PJ que cumpra seu processo de educação na fé e seja militante além dos muros eclesiais. Uma PJ que vai pelo mundo inteiro e anuncia a Boa Notícia para toda a humanidade (Marcos 16,15).

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