Carta do velho assessor

A PJ nacional vai realizar sua Ampliada. A Ampliada Nacional é o espaço deliberativo máximo da Pastoral da Juventude no Brasil. O velho assessor acompanhava as movimentações de longe. Ele via em sua diocese e seu regional um ou outro reflexo da ação da PJ; tinha ainda alguns bons contatos espalhados pelos diversos cantos e que lhe atualizavam sobre as boas e más notícias, sobre as vitórias e perseguições, sobre erros e acertos. Além disso, ainda tinha as redes sociais...

Afastado já há alguns anos para poder tratar melhor sua saúde, as notícias pejoteiras ainda eram um estímulo para ele. Sem poder acompanhar reuniões, sem poder sair de casa para formações, bate papos ou viajar para a casa dos amigos, seu alívio e alegria eram as visitas que recebia. Por isso ele tomou uma decisão. Diante da iminência da ampliada, resolveu escrever à juventude lá presente. E ela dizia o seguinte:

“Queridas jovens, amados jovens. 

Venho dividir com vocês o desejo de uma ampliada rica em partilhas, sonhos, esperanças e frutos. Há grandes possibilidades de que coisas muito boas surjam a partir do encontro, do debate, da reflexão de vocês. Mas é preciso alguns cuidados. Se me permitirem, gostaria de apresentar alguns alertas.

O primeiro deles é de que é preciso eliminar a crença em fantasmas, em especial, um que assombra o pejoteiro sem fé: o fantasma do “passado maravilhoso”. Este danadinho é aquele que aponta os erros do presente e ri escancaradamente de nós: “A PJ não é mais aquela! Olha a cara dela!”. Para sumir de vez com ele, basta um estudo adequado da história. Veremos, pois, que o passado não é tão bonito quanto pintam e que se existem problemas hoje, eles também aconteciam em tempos idos. Algumas dificuldades são as mesmas, outras não. O “passado triunfante” é um mito que não se sustenta quando se olha para os detalhes.

E por falar em história, é preciso fincar o pé nela mesmo. Muita atenção com o estudo dos fatos passados, mas atenção redobrada também aos sinais dos tempos. O que a história de hoje nos aponta? Por que caminhos as conjunturas caminham? Quais tendências existem? Isto tudo não é para que mudemos ao sabor da maré. Sim, é preciso atenção ao futuro, mas temos uma identidade histórica e devemos respeito a tudo que já foi construído. Coerência no testemunho, nas conversas e nas decisões!

Há outra coisa importante que gostaria de comentar. Mantenham o foco na missão da pastoral. Como ela pode ser feita de forma mais efetiva nos diversos cantos do país. Há colegas que dizem que o foco deve ser na estrutura pastoral e outros que devem ser nos grupos. Isto é uma bobagem imensa, mas que muitas vezes já embarcamos nela nestes mais de quarenta anos. A PJ não existe sem grupos e não existe sem a sua organização. Foco na missão nos ajuda a entender por que os grupos existem e qual a serventia desta estrutura.

Sei que isto tudo não é fácil e nem simples. Por isso a PJ jamais pode se esquecer da espiritualidade que sustenta. Não pode abrir mão do seguimento de Jesus. Não pode se abster da vida em comunidade. Sem este combustível, o trem da história já estaria parado antes de chegar a alguma estação.

Eu me lembro ainda das assembleias que eu cheguei a ir. Muitos de nós tínhamos um simples objetivo de participação: ajudar a eleger este ou aquela jovem para o serviço disponível na época. Torço para que este espírito esteja superado. O objetivo da ampliada não é escolher os nomes para os serviços da Assessoria Nacional, Secretaria Nacional e Conselho Nacional de Juventude. O foco precisa estar na missão. Desejo muito que já tenhamos chegado num espaço deliberativo como este e tratar do assunto com muita tranquilidade. 

Ah! Como eu gostaria muito de poder estar aí e abraçar cada um e cada uma destes e destas jovens que se dispuseram a colocar suas vidas a serviço. Quem assumir, seja a Secretaria, Conjuve ou Assessoria, não está ganhando o status de um cargo, mas uma tremenda bucha de canhão. Mas isso não é novidade para ninguém, muito menos para quem se apresentou e se colocou a disposição.

Uma última coisa, antes de poder concluir. Se eu ainda puder lançar três focos de luz para as tantas questões que vocês vão discutir, gostaria de apresenta-las:

- Pensem em meios de ampliar as discussões pastorais, além das estruturas, de forma eficiente. Pensem em meios de ouvir a juventude. Abram canais. Aproximem-se mais das realidades. Tragam estas realidades à tona. Temos muitos filtros até chegar a uma instância como esta que vocês estão agora ou para ir no sentido contrário. A estrutura é necessária, mas a informação precisa circular mais livremente.

- A maior parte das ações e articulações pastorais da PJ se dá nas dioceses. Como podemos ajudar estes bravos guerreiros e estas fantásticas lutadoras a não desanimarem? Como contribuir mais efetivamente com a formação deles e delas? Pensemos na capacitação destas pessoas. Pensemos no acompanhamento.

- Podemos às vezes até nos esquecer de a PJ é feita por pessoas. Por pessoas jovens, com desejos, limitações, sonhos e bloqueios. Criemos redes de suporte, apoio e cuidado para eles. Não é fácil assumir a secretaria nacional. É muita pressão estar na assessoria nacional. Tem que ter muita disposição para assumir o Conjuve. É preciso ser gente de muita fé e compromisso para estar na Coordenação Nacional. Creio que isto valha se olharmos também para os regionais, dioceses, paróquias ou grupos. Pensemos em redes de cuidado para estas pessoas. Quisera eu que esta rede fosse realmente nacional e que em cada canto deste país as pessoas cuidassem melhor umas das outras.

Deixo aqui meu saudoso abraço e uma palavra final. Que vocês possam vivenciar nestes dias na Ampliada Nacional como um momento de Kairós, de um tempo maduro de Deus. E que o futuro, planejado e gestado nestes dias, aponte para um belo horizonte na vida da juventude. O horizonte da Civilização do Amor. O horizonte para o qual caminhamos enquanto semeamos o Reino de Deus.”