Estamos às vésperas de uma nova Campanha da Fraternidade sobre Juventude. Isto já foi tema de artigo neste blog. E estamos também nas vésperas da primeira Jornada Mundial da Juventude por aqui. Os dois acontecimentos ocuparão o cenário eclesial no ano de 2013. É natural, portanto, que muitos pronunciamentos da Igreja nos últimos tempos sejam direcionados para a juventude.
A proposta deste artigo é resgatar alguns dos pronunciamentos da Igreja sobre os jovens nos últimos 50 anos. Diz o documento 85 da CNBB sobre a evangelização da juventude que “a Igreja Católica é uma das organizações que tem mais experiência acumulada e sistematizada no trabalho com a juventude. É importante resgatar essa experiência, estando atentos aos sinais dos tempos” (CNBB, Evangelização da Juventude – Doc. 85, n° 49).
Além de resgatar estes pronunciamentos, a proposta é apontar onde podem ser consultados. Como a pesquisa foi relativamente grande e muito material foi colhido, este artigo será dividido em duas partes. Vejamos a primeira delas.
O decreto “Apostolicam Actuositatem”, do Concílio Vaticano II, inspirado na ACE, trouxe a reflexão de que os jovens “devem tornar-se eles os primeiros e imediatos apóstolos dos jovens, realizando o apostolado no meio deles e através deles, levando em conta o ambiente em que vivem” (Decreto “Apostolicam Actuositatem”, 12).
Durante a conferência de Medellín, para atualizar as conclusões do Concílio Vaticano II para a América Latina, o tema da juventude voltou à tona. Ela é tida como “uma grande força nova de pressão” e como “um novo organismo social com valores próprios”, capaz de renovar constantemente a vida da humanidade, e como símbolo da própria renovação enquanto Igreja (CNBB, Evangelização da Juventude – Doc.85, n° 89). A conferência também aponta para a necessidade de se desenvolver, dentro da pastoral de conjunto, uma autêntica pastoral de juventude, para educação dos jovens a partir de sua vida, com o ingresso e participação plena na comunidade eclesial.
Onze anos depois, os bispos da América Latina se reuniram novamente, agora em Puebla, no México. Se em Medellín a marca foi a opção preferencial pelos pobres, em Puebla, esta marca foi confirmada e ampliada: opção preferencial pelos pobres e pelos jovens, com vista à missão evangelizadora no continente. Estes são vistos novamente como dinamizadores do corpo social e modelo de renovação para a própria Igreja. “O serviço prestado com humildade à juventude deve fazer com que mude na Igreja qualquer atitude de desconfiança ou incoerência para com os jovens” (Puebla 1178).
Em Puebla também houve indicações para dinamizar a pastoral da juventude. A conferência pediu que ela levasse em conta a realidade social dos jovens e os ajudassem na condução de um processo de educação na fé, que levasse à própria conversão e a um compromisso evangelizador. Pediu também que os orientassem em sua opção vocacional, oferecendo-lhes, inclusive, elementos para se converterem em fatores de transformação, seja na Igreja ou na sociedade. Que esta fosse uma pastoral articulada, alegre e portadora da esperança. . (Sobre Pastoral da Juventude, ver no documento de Puebla os itens 1187, 1200, 1205, 1189, 1190, 1193, 1195, 1196, 1197, 1199).
Em 1980, durante sua primeira visita ao Brasil, o Papa João Paulo II disse aos jovens: “É urgente colocar Jesus como alicerce da existência humana. (...) A vida, o destino, a história presente e futura de um jovem, depende da resposta nítida e sincera, sem retórica, sem subterfúgios, que ele puder dar a esta pergunta. Ela já transformou a vida de muitos jovens” (João Paulo II aos jovens brasileiros em Belo Horizonte (1/7/1980) em A palavra de João Paulo II no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1980, pp. 37 e 38.).
O Papa João Paulo II trata do diálogo cordial, claro e corajoso que deve existir entre a juventude e a Igreja, retomando palavras do Concílio Vaticano II: “A Igreja olha para vós com confiança e amor... Ela é a verdadeira juventude do mundo... Olhai para ela e nela encontrareis o rosto de Cristo” (Exortação Apostólica “Christifideles laici” 46).
Após realizar a primeira jornada mundial da juventude, o Papa João Paulo II disse em sua mensagem pascal de 7 de abril: “Os jovens estão diante de uma missão cada vez mais difícil e fascinante: a de mudar os mecanismos fundamentais que fomentam o egoísmo e a opressão nas relações entre os Estados e de assentar novas estruturas orientadas à verdade, à solidariedade e à paz”.
Em 1992, ocorreu a Campanha da Fraternidade sobre a juventude. O texto base foi estudado por inúmeros grupos de jovens no país. Era um estudo sobre a realidade juvenil e um parecer novo para muitos jovens, que liam, pela primeira vez, algo da Igreja exclusivamente sobre eles.
Em Santo Domingo, conferencia latino americana ocorrida também em 1992, os bispos reafirmam a opção preferencial pelos jovens de Puebla, não só de modo afetivo, mas efetivamente (opção por uma pastoral da juventude orgânica, com acompanhamento, com apoio real, com diálogo, com maiores recursos pessoais e materiais e com dimensão vocacional).
No documento de Santo Domingo lemos sobre a necessidade de ampliar parcerias com organizações eclesiais e laicas, que assumem com ousadia e transparência a causa dos jovens e dos pobres. “É tempo da Igreja se renovar e assumir um rosto e um coração mais juvenil e uma opção mais afetiva e efetiva pela causa dos jovens e dos pobres”(Documento de S. Domingo, item 114).
O Documento de Santo Domingo, no item 113, pede que na Igreja da América Latina os pastores acompanhem espiritualmente e apoiem os grupos. Apresenta também a necessidade de se ter uma linha pastoral em cada país que contribua claramente com uma pastoral juvenil orgânica.
O Projeto Rumo ao Novo Milênio da CNBB reconheceu oficialmente o Dia Nacional da Juventude, as Missões Jovens e a Semana da Cidadania. Esta passou a ser uma atividade nacional da Pastoral da Juventude a partir de 1996. Ela surgiu com o objetivo de concretizar os compromissos assumidos na 11ª Assembléia Nacional, bem como dar continuidade ao tema da Campanha da Fraternidade e impulsionar os grupos de jovens a desenvolverem atividades concretas em seus ambientes de atuação.
No final de 1997, foi publicado o Marco Referencial da PJB. Ele é fruto de uma longa caminhada, iniciada em 1986, quando a CNBB divulgou o documento de estudos número 44 sobre a Pastoral da Juventude no Brasil. Muita coisa aconteceu, diversos estudos ocorreram de lá para cá. Um pouco disto tudo, está nestas páginas. O Marco Referencial é um documento que ajuda a situar a PJ do Brasil no contexto da Igreja no país, da sociedade e da sua própria caminhada.
Na exortação sinodal Eclesia in América, o Papa João Paulo II fala da importância do trabalho pastoral com os jovens, seja nos ambientes específicos, seja na comunidade eclesial. Além de indicar a necessidade constante de atualização com o mundo juvenil, o Papa incentiva que se articule o trabalho da PJ nas paróquias e dioceses, e se fortaleça as articulações interdiocesanas e internacionais:
"A ação pastoral da Igreja logra alcançar muitos destes adolescentes e jovens, mediante a animação cristã da família, a catequese, as instituições educacionais católicas e a vida comunitária na paróquia. Mas existem muitos outros, especialmente entre os que sofrem várias formas de pobreza, que se situam fora âmbito da atividade eclesial. Devem ser os jovens cristãos, formados numa consciência missionária amadurecida, os apóstolos dos seus coetâneos. Faz falta uma ação pastoral que alcance os jovens nos seus vários ambientes: nos colégios, nas universidades, no mundo do trabalho, nos ambientes rurais, com uma adaptação apropriada à sua sensibilidade. Será também oportuno desenvolver, no âmbito paroquial e diocesano, uma atividade pastoral da juventude que leve em conta a evolução do mundo dos jovens, que procure dialogar com eles, que não exclua as ocasiões propícias para encontros mais amplos, que anime as iniciativas locais e valorize o que já se realiza a nível interdiocesano e internacional”.
Além disso, há nos documentos da Igreja do Brasil uma atenção sempre especial à juventude. O item 236 das Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja (de 1999 a 2002) diz assim:
“Os jovens ‘são um grande desafio para o futuro da Igreja’. Eles não são apenas destinatários da evangelização, mas dela devem tornar-se sempre mais sujeitos ativos, ‘protagonistas da evangelização e artífices da renovação social’. A Pastoral da Juventude, portanto, deve estar entre as principais preocupações dos pastores e das comunidades”. (CNBB – Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (1999-2002) – Paulinas – p. 145).
Continua no próximo artigo!