quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Igreja e a Juventude – parte 2

Em diversos documentos a Igreja se pronuncia sobre as questões da juventude. Vimos um pouco disto no último artigo. A proposta desta segunda parte é trabalhar a partir da lógica oferecida por Dom Eduardo Pinheiro quando falou deste tema durante o 9° Encontro Nacional da Pastoral da Juventude. E acrescentar a sua fala um último documento.

Durante o 9° ENPJ, realizado em 2009, Dom Eduardo Pinheiro, então bispo responsável pelo Setor Juventude da CNBB, apresentou uma palestra tratando a respeito dos jovens nos documentos da Igreja. Ele falou sobre os três dos mais recentes à época: As diretrizes da ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2008-2010), o documento de Aparecida (V Conferência do Episcopado Latino Americano e do Caribe) e o documento da CNBB sobre a Evangelização da Juventude.


O documento 85 da CNBB - Evangelização da Juventude: Desafios e Perspectivas - foi fruto da 45ª Assembléia da entidade, em 2007. É um tema que trata da importância crescente que o mundo juvenil vem tendo. Além disto, acabou se tornando um pronunciamento oficial sobre como se deve dar este processo de evangelização, o que reorientaria algumas práticas, que não coincidiam com a doutrina eclesial.

Ele é estruturado dentro da metodologia utilizada pela Pastoral da Juventude. É dividido em três segmentos. Parte-se da realidade do mundo juvenil (ver), faz-se uma análise a partir da Bíblia e do Magistério da Igreja (julgar), apresentando então algumas linhas de ação (agir).

Em seu início há uma retomada da idéia do documento de Santo Domingo, quando os bispos reafirmam querer “renovar a opção afetiva e efetiva de toda a Igreja pela juventude na busca conjunta de propostas concretas”.

No documento os jovens são reconhecidos como “um lugar teológico”, ou seja, acredita-se que Deus se expressa por meio deles (Documento 85, 81), pois na juventude se encontram “sementes ocultas do Verbo”(Documento 85, 80) e que para serem encontradas deve-se compreender melhor a cultura juvenil. Inspirados no amor incondicional de Jesus, o texto também reafirma o amor da Igreja pela juventude como sendo “gratuito, independente do que possa nos oferecer” (Documento 85, 248). 

Um segundo documento citado por Dom Eduardo foi o das conclusões da conferência de Aparecida. O Papa Bento XVI veio ao Brasil para abrir esta quinta conferência. Alguns dias antes da abertura ele se encontrou com os jovens no estádio de futebol do Pacaembu, em São Paulo.

Durante seu discurso aos jovens ele relembrou palavras do seu antecessor ao visitar o país em 1991: “‘os jovens são os primeiros protagonistas do terceiro milênio [...] são vocês que vão traçar os rumos desta nova etapa da humanidade’. Hoje, sinto-me movido a fazer-lhes idêntica observação”.

O Papa retomou os discursos anteriores da Igreja sobre a juventude e, durante a conclusão da sua fala, apresentou esta bela síntese (Quem quiser conferir o discurso completo é só clicar aqui): “Meu apelo de hoje, a vós jovens, que viestes a este encontro, é que não desperdiceis vossa juventude. Não tenteis fugir dela. Vivei-a intensamente. Consagrai-a aos elevados ideais da fé e da solidariedade humana. Vós, jovens, não sois apenas o futuro da Igreja e da humanidade, como uma espécie de fuga do presente.  Pelo contrário: vós sois o presente jovem da Igreja e da humanidade. Sois seu rosto jovem. A Igreja precisa de vós, como jovens, para manifestar ao mundo o rosto de Jesus Cristo, que se desenha na comunidade cristã. Sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada”.

O texto de Aparecida traz algumas reflexões a respeito da juventude e da adolescência, dedicando-lhes, entre outras citações, uma parte do nono capítulo. O documento volta a afirmar a importância dos jovens como presente e futuro da Igreja e atenta para que se tenha especial atenção a esta etapa de vida, pelos perigos e descasos que a sociedade lhes impõe.

Diante dos desafios e ameaças para a juventude e para os adolescentes, a conferência reafirma a opção preferencial pelos jovens e sugere algumas linhas de ação, dentre as quais estão a necessidade de um novo impulso à Pastoral da Juventude, o estímulo ao processo de acompanhamento vocacional, a freqüência aos sacramentos e a leitura orante, os processos de educação na fé, a formação gradual, baseada na Doutrina Social da Igreja, para ação social e política mirando as mudanças estruturais , a capacitação dos jovens para o mercado de trabalho, entre outras.

O último documento citado por Dom Eduardo durante o 9° ENPJ foram as Diretrizes Gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil para os anos de 2008 a 2010. Seguindo o modelo da Conferência de Aparecida, o documento também traz os perigos e ameaças pelas quais passam os jovens e os adolescentes.

Em razão desta situação e por perceber que eles “merecem melhor acolhida e sincero amor nas comunidades eclesiais e maior espaço para a ação” (CNBB, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2008-2010), Documento 87, n° 122), o documento propõe um esforço conjunto entre pastorais, grupos, movimentos e serviços  para incentivar o jovem na evangelização dos outros jovens e no comprometimento com a construção de um mundo cada vez mais próximo do Reino de Deus.

As diretrizes retomam o documento sobre a evangelização da juventude apontando algumas ações a serem tomadas, como a garantia da formação integral, a valorização dos projetos e processos de educação de valores, o acompanhamento de programas que contribuam no projeto pessoal de vida e amadurecimento vocacional, a valorização da dimensão missionária, a atenção aos processos de educação na fé para a missão e transformação do mundo, o assumir a opção preferencial pelos pobres, a criação do setor juventude nas dioceses e o acompanhamento nas dioceses por assessores.

Um último documento publicado pela CNBB são as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para o quadriênio 2011-2015. Em linhas gerais, o texto reafirma o documento anterior. Há de se destacar dois itens: a necessidade das comunidades estarem abertas para a sociedade, para as demais culturas e num diálogo ecumênico, como forma de se abrir para a evangelização da juventude (Documento 94, 80). E também merece destaque o reconhecimento da Pastoral da Juventude como meio para se trabalhar com os jovens “expostos ao drama do abandono e ao perigo das drogas, da violência, da venda de armas, do abuso sexual, bem como à falta de oportunidades e perspectivas de futuro” (Documento 94, 119).

Sim, mais do que o fato de estarmos novamente às vésperas de uma Campanha da Fraternidade que fale da juventude é preciso que motivemos nossas lideranças a conhecerem cada vez mais os documentos e pronunciamentos da Igreja a nosso respeito. Porque é importante que caminhemos em unidade e também é importante que pequenos erros ou desvios sejam apontados para que outros entendam e respeitem nossa maneira de ser e evangelizar.

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