terça-feira, 15 de novembro de 2011

Sobre converter-se e crer na Boa Notícia

Neste terceiro e último artigo sobre o versículo 15 do primeiro capítulo de Marcos, o trabalho é conversarmos sobre a segunda frase: “Convertam-se e acreditem na Boa Notícia”. Para aqueles que não acompanharam os dois artigos anteriores, trata-se de uma reflexão preparada para um retiro de crismandos às vésperas de receber o sacramento. A primeira parte você pode acessar aqui e a segunda, aqui.

São dois verbos em destaque no título deste artigo: converter-se e crer. São duas palavras chaves para falarmos de comprometimento cristão, espiritualidade pejoteira e seguimento de Jesus. Vamos falar do primeiro verbo: converter-se.

Conversão é uma palavra que geralmente nos remete àqueles que mudaram de religião ou que aderiram a alguma (Fulano se converteu ao islamismo). Para aqueles que estão estudando para conseguir a carteira de habilitação, existem as recomendações “Conversão à esquerda”, por exemplo, indicando como realizá-la.

Naquele que se converte ocorre necessariamente uma mudança. Ele muda de ponto de vista, muda de atitude, muda o pensamento, muda de lugar, muda de direção. Mas nem todas as conversões servem para explicar a proposta deste trecho do Evangelho.

Existem aqueles que se convertem apenas intelectualmente ou espiritualmente. Estes passam a achar que as coisas “deste mundo” são imperfeitas demais e que boas mesmo são as coisas “do alto”. Pode haver um desprezo grande pelo corpo e um afastamento daquilo que possa representar um prazer terreno. A realização pessoal está no aprendizado intelectual ou na ritualidade dos sacrifícios diários e na relação direta com o sagrado.

Entretanto, se olharmos na tradição profética da Bíblia, veremos que a conversão envolve todo o nosso ser. Ela exige mudanças de postura, mas também compromisso com aqueles que sofrem. Como em Isaías 1, 16-17: “Lavem-se, purifiquem-se, tirem da minha vista as maldades que vocês praticam. Parem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem: busquem o direito, socorram o oprimido, façam justiça ao órfão, defendam a causa da viúva”.

Uma espiritualidade vazia de compromisso é repudiada por Deus. Ela não leva a mudanças. Veja, por exemplo em Amós 5,21-24: “Eu detesto e desprezo as festas de vocês; tenho horror dessas reuniões. Ainda que vocês me ofereçam sacrifícios, suas ofertas não me agradarão, nem olharei para as oferendas gordas. Longe de mim o barulho de seus cânticos, nem quero ouvir a música de suas liras. Eu quero, isto sim, é ver brotar o direito como água e correr a justiça como riacho que não seca”.

Olhando para a vida de Jesus, percebemos que isso foi extremamente coerente com suas práticas. A explicação dos profetas cabe perfeitamente no anúncio do Reino de Deus feito por Jesus. Quem ouve Sua proposta é provocado a tomar uma decisão: ou aceita ou rejeita.

Há aqueles, porém, que ao invés de aceitarem ou rejeitarem a proposta de Jesus acabam por deturpá-la. Transformam a conversão integral à mensagem do Reino em uma conversão intelectual ou espiritual, no modelo visto acima. E isso se deve ao medo de perder privilégios. Vejam o caso do jovem rico em Mateus 19,16-22. Ele foi capaz de se converter integralmente à proposta do Reino?

Você crê nisso? Acredita na Boa Notícia? Bota fé na mesma missão de Jesus descrita em Lucas 4, 18-19? “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor”.

Crer na Boa Notícia é colocar o Evangelho de Jesus em prática. É olhar para as “Bem Aventuranças” (Mateus 5) e vivê-las. É refletir sobre Mateus 25, 31-46 e se sentir incomodado porque ainda não faz todo o bem como ele deve ser feito.

Já disse isso uma vez aqui e repito: Muita gente não terá a oportunidade na vida de folhear e refletir sobre o Evangelho escrito. Você meu caro, você minha querida são Evangelhos vivos onde estas pessoas poderão ver o testemunho de um Reino de Deus que se faz presente, mesmo que ainda não em plenitude. Vocês são sinais onde estas pessoas poderão ler esperança, fé e amor.

Que a conversão de vocês não seja meramente intelectual. Que suas atitudes sejam de um Evangelho vivo, encarnado, profético e libertador. Que possamos testemunhar que o Reino de Deus está próximo, porque o tempo é agora e o lugar é aqui. Vamos em frente! Coragem!

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