sexta-feira, 8 de março de 2013

Por uma pastoral menos medíocre


Para quem não assiste ao reality show Big Brother Brasil, vou contar uma coisa. Há uma prova feita entre os participantes que já aconteceu em várias edições. Eles são colocados de frente a uma bancada, sem comunicação com os demais e tendo diante de si duas placas: uma com a palavra SIM e outra com a palavra NÃO. O apresentador faz algumas afirmações e eles devem responder não como pensam, mas como acham que a maioria dos participantes irá responder. A cada rodada, sai da brincadeira quem responde com a minoria.

Você acha absurdo? Acha que é um reforço a um comportamento social que pouco contribui para a dinâmica e o diálogo social ou para a livre circulação do pensamento? Acha que SIM? Levantou a plaquinha? Caso tenha levantado, então está eliminado da brincadeira.


As vozes dissonantes não são bem vindas. Normalmente são até reprimidas. Há muitos exemplos sobre o esforço social de se pensar com a maioria. O importante é estar na média. Quanto mais perto do muro que divide os quentes dos frios, melhor. Nem tanto para um lado e nem tanto para o outro. É a lógica da média. É a lógica da mediocridade.

O aluno sabe que a média é seis, por exemplo. Se forem duas provas do mesmo peso e calhar do rapaz tirar nota nove na primeira, qual será seu esforço para a segunda prova? Qual o cálculo que ele fará para passar naquela matéria? Normalmente ele dirá que precisa de dois pontos e meio, cuja média com a primeira nota seria arredondada para cima e ele conseguiria a tão sonhada e almejada nota mínima para passar. Para quê o esforço de ir além?

Nas famílias tradicionais (pai, mãe e filhos), há um papel padrão, definido e estabelecido para cada um dos cônjuges e que chama a atenção de outras pessoas quando se torna diferente daquilo que é concebido como certo e quando esta situação é escancarada e mostrada a outras pessoas. Por padrão, pela média social, o homem é o provedor da casa e a mulher a administradora do lar. O homem sustenta e a mulher cuida dos filhos. Conheço muitos homens que sofrem por estarem desempregados e por ser sua esposa quem sustenta financeiramente a casa. Não creem ser este o papel social que lhes cabe. Não estão na média.

Nem falei, no mesmo exemplo, dos casos em que homem e mulher trabalham fora, enquanto a criança está na creche ou na escola. A quem cabe a administração do lar e o cuidado com os filhos? A resposta óbvia é que cabe aos dois. Mas a resposta da maioria não é essa. Cabe a mulher também. É a chamada “dupla jornada”. Uma realidade que já mudou bastante, mas não o suficiente. Não na mentalidade média das pessoas.

E o que isto tem a ver com a Pastoral? Em primeiro lugar está a matriz ideológica. A religião pode ser usada como instrumento de justificação ou como sinal de contradição a uma determinada realidade social. Há quem use discursos religiosos para comprovar que a mulher deva ser submissa sempre ao marido e que ele é a cabeça do lar. Há outros que, para ser o contraponto desta primeira fala, apontam outros textos que indicam que marido e mulher devem se respeitar e se amar como iguais.

Em segundo lugar estão nossos próprios grupos. Quantos reforçam o padrão médio da sociedade? Quantos são como aquele aluno que quer conseguir somente a média para passar na matéria? Quantos dão saltos de qualidade para serem diferenciados na realidade em que vivem? Quantos seguem, de fato, o propósito do Reino de Deus vivido e propagado por Jesus Cristo?

A maioria das reuniões de grupos de jovens é como água com açúcar. Refresca, é docinha, mas não sustentam. Alguns cantam, outros leem trechos da Bíblia destacados do contexto, outros ainda fazem uma dinâmica ou trabalham um tema ligado à amizade. E por que disto? Porque a maioria dos nossos grupos sequer conhece a metodologia da PJ. 

Achamos o culpado? São os grupos? Não! Começo dizendo que não falo aqui em culpa, mas em responsabilidades, como sempre me alerta meu amigo Raimundo. A responsabilidade primeira dos grupos estarem assim é de quem está à frente da Pastoral seja na instância que for. Enquanto estivermos fazendo uma pastoral de manutenção, ou seja, de tentar manter a casa limpinha para quem estiver morando nela, não iremos avançar.

Pastoral, já dizia a definição do termo, é o agir da Igreja no mundo. Quem faz uma pastoral morna, de manutenção é vomitado por Deus, como já disse o texto do Apocalipse. “Conheço sua conduta: você não é frio nem quente. Quem dera que fosse frio ou quente! Porque é morno, nem frio nem quente, estou para vomitar você da minha boca” (Ap. 3, 14-15).

Uma pastoral de manutenção é uma pastoral medíocre. Temos que ir além. Não queremos só a casa limpinha para aqueles que já estão lá. Esta é a média mínima. É preciso ir até os grupos que não conhecem a PJ. É preciso ajudar a organizar os grupos onde não existe a PJ. É preciso sempre dizer à juventude que vida é dom de Deus e deve ser vivida em favor de todos e não só para uma sobrevivência mesquinha, medíocre. 

O Senhor colocou-nos no mundo para os outros, dizia Dom Bosco. Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância, dizia Jesus. Eu venho para que todos tenham vida e vida em plenitude, dizem aqueles que seguem as palavras de Jesus. E vida plena numa sociedade como a nossa só se consegue estando bem organizados. E uma boa organização das forças juvenis na Igreja passa pela articulação bem feita da Pastoral da Juventude em vista de sua missão.

Um comentário:

  1. Muito Bom! Texto de minha autoria e que dialoga com este.

    http://acaoculturalse.blogspot.com.br/2012/05/e-possivel-um-cristianismo-libertario-e.html

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