segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sobre questões linguísticas e de interpretação

Já participei de muitas formações a respeito da Pastoral da Juventude. Muitas delas eu ajudei a preparar. Talvez tenha sido um erro da minha parte, mas eu sempre apostei que as obviedades não precisariam estar na pauta dos temas.

Dou um exemplo. Havia uma apresentação muito comum (ainda há quem a faça) de diferenciar Pastoral DA Juventude de uma tal Pastoral DE Juventude. Fora os malabarismos gramáticos e morfológicos, eu aprendi que a essência desta discussão não estava no uso ou não do artigo A junto com a preposição DE, mas sim no Protagonismo Juvenil.


Para quem nunca acompanhou o caso do exemplo acima, quando se usava a expressão Pastoral de Juventude, havia a ideia de uma pastoral feita para os jovens, sem que estes estivessem à frente da ação. Por outro lado, pastoral da juventude, é DA juventude mesmo. Ela é responsável, atuante, protagonista. Quando olhamos para estes quarenta anos de história, a tendência assumida é de que esta última é uma forma de atuação pastoral mais efetiva.

Usando deste exemplo, por poucas vezes eu me utilizei dele nas formações que conduzi ou que preparei. O foco estava sempre no protagonismo juvenil e não nas questões acessórias da língua portuguesa. A importância estava na missão e não no nome que davam para ela.

Confesso que errei. Menosprezar as variações da língua, os usos e possibilidades dela e os recursos de significados que existem é uma falha grave, ainda mais para quem estudou comunicação. Não que eu vá de agora em diante ser um guerreiro defensor da gramática normativa. Não é isso. Mas é preciso que eu esteja mais atento aos usos e interpretações que se fazem utilizando os recursos da linguagem.

Vejamos outro exemplo. Há pouco mais de um ano eu soube da mudança que se fazia na CNBB pela mudança do nome do Setor Juventude para Pastoral Juvenil. Achei curioso o fato da incorporação de uma expressão adotada em outros países da América Latina para algo que era diferente aqui no Brasil. Afinal, para os lados de cá, Pastoral da Juventude é uma coisa e Setor Juventude é outra.

Ao olharmos os documentos da Pastoral Juvenil latino americana, há de se perceber um nítido alinhamento entre os encaminhamentos propostos lá e aquilo que vivíamos em termos de pastoral da juventude pelos lados de cá. Talvez pelas proposições linguísticas apresentadas acima, aqui nós firmamos a nossa identificação no nome de Pastoral da Juventude e não como Pastoral Juvenil.

Faz alguma diferença isso? Se me perguntassem isso há algum tempo, eu diria que não. O nome não me impediria de ser quem eu sou. Mas como eu disse há pouco, eu considero que estava errado. O nome pode não me impedir de ser quem sou, mas muda a maneira do mundo me enxergar. E isso pode não ter um efeito imediato, mas com o tempo os pequenos efeitos vão dando as caras.

Voltemos a falar sobre as obviedades da língua. O que diferencia Juventude de Juvenil? Um é substantivo e o outro é adjetivo. Isso muda alguma coisa no fim das contas? A princípio, parece que não, mas tem implicações sim. A primeira delas é no enfoque. De quem é a ação pastoral quando falamos de Pastoral da Juventude? E em Pastoral Juvenil? No primeiro é claro que é da juventude. No segundo isso não é tão óbvio assim.

Uma segunda implicação vem desta primeira. O que significa ser um agente substantivo e um agente adjetivo? Quando olhamos para a juventude, eles estão à frente da ação evangelizadora ou são demandados a estar? Eles criam a ação ou são executores das mesmas? Eles são acompanhados ou supervisionados pelos adultos? A ação pastoral é feita por eles, com eles ou para eles? E este tipo de reflexão vale para além das mudanças sugeridas pela CNBB. Vale para o nosso dia a dia pastoral.

Uma terceira implicação sai do campo juvenil e vai para o campo pastoral. A proposta da CNBB aponta para a mudança de nome de Setor Juventude para Pastoral Juvenil. Historicamente, os setores dentro da conferência eram agrupamentos de manifestações diversas de um mesmo campo pastoral. No setor juventude, por exemplo, temos os grupos de congregações, movimentos, novas comunidades e das pastorais da juventude. Falar que nossa ação deva ser pastoral é correto. Colocar todos os grupos sob o mesmo signo pastoral, no entanto, parece-me algo estranho. Se todos são “pastoral juvenil”, no sentido histórico latino-americano, qual é o campo que caberá às pastorais da juventude?

Um comentário:

  1. Olá Rogério Oliveira, sou uma pjoteira de Manaus e acompanho sempre seu blog!! Muiiiito bom!! Ajuda-me muito na caminhada pastoral!!

    Teremos um post com a retrospectiva 2013?!
    Espero que sim! :-) Feliz ano novo!!

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