quarta-feira, 7 de maio de 2014

Encontros e despedidas

Foram poucos os textos deste blog que trataram diretamente da minha pessoa e da minha atuação. Sim, há muito de experiência e de contatos pessoais por aqui, mas são raros os que fazem referência àquilo que fiz, vivi ou falei.

Encerrei o meu ciclo na assessoria regional da Pastoral da Juventude do Sul 1 no último domingo, dia 4 de maio. Foram anos de intenso aprendizado. Chega a ser clichê dizer que eu cometi muitos erros e que alcançamos juntos muitas vitórias. Mas isto é verdade.

Pude vivenciar cada momento daquela assembleia e fazer memória dos ciclos que se fechavam. Muitas pontas estavam abertas e algumas ligações precisavam ser refeitas. Muitos símbolos e momentos me fizeram viajar na história e encontrar no passado, distante ou recente, uma memória, uma pessoa, uma etapa com a qual fizesse par.


Partir para a assembleia regional, saindo do Colégio Arquidiocesano com a galera das sub-regiões do SP1 e SP2 foi a primeira viagem no tempo. Era fim dos anos de 1990 e ali na Igreja de Santa Cruz discutíamos com lideranças de outros movimentos juvenis uma atividade comum. Era o Setor Juventude que se articulava na arquidiocese de São Paulo. Reuniões complicadas aquelas. Encontro gostoso foi este, praticamente quinze anos depois.

A galera da PJ se encontrava para mais uma assembleia. Muitos rostos conhecidos. A mala cheia de sonhos. A cada abraço, um agradecimento. A cada canto, uma memória. Quantas vezes nesta história eu não cantei que eu “tenho que gritar, ai de mim se não o faço”? E quantos novos sentimentos não me vêm toda vez que este canto é repetido?

A estrada longa, o portão da casa, as bandeiras da PJ, o pão com salsicha sendo requentado, o povo com cara de sono porque foram acordados no meio da madrugada, os abraços pejoteiros. Estes foram tantos e em tantas pessoas.

Povo chegando, novas histórias, velhos companheiros, sorrisos bonitos, rostos marcados. Gente tímida, gente admirada, gente apaixonada, gente com fome, gente com sono, gente animada. A assembleia era novidade para a maioria. Para mim, era a décima primeira. Na PJ, poucas coisas para mim, além do próprio grupo de jovens, fazem sentido quando se fala em processos pastorais do que o que se viveu neste regional e suas assembleias.

A primeira que eu participei foi a 19ª, no longínquo ano de 1996. Grande novidade, grande susto, grande beleza. Gente de todo o estado falando a mesma linguagem que eu. Grandes embates, grandes assessorias. Daniel Seidel, primeiro secretário nacional da PJB estava lá. 

Eu fui a todas as assembleias desde então até 2001. Fiquei dois anos sem ir. Já em 2005, fui chamado para assessorar a assembleia. Nela foi mudada a estrutura anual para um modelo trienal, com um ano de encontro para as bases e um ano de ampliada para avaliação. Voltei a assessorar uma assembleia, três anos depois e em 2011, estava em Bragança Paulista assessorando a equipe regional. 

Este foi o ciclo que acabaria ali, em maio de 2014. Vi vários sinais de que a história faz arcos, retornos e amarra pontas soltas. Da mesma forma que o Daniel em minha primeira assembleia, contamos com a presença afetiva da Aline, nossa atual secretária nacional da PJ. Magali e Marcelo ajudaram nesta mesma assessoria do período da manhã de quinta. Os dois, mais o Dudu que veio nos visitar e o Cris como delegado/assessor de São José eram da coordenação regional quando eu assessorei minha primeira assembleia. E vieram nos cutucar a respeito da realidade juvenil, social e pastoral. Mexeram mesmo.

Ah, as pontas soltas. Como não falar da arte, seja ela desenhada e pintada para retratar os sonhos e as angústias, ou a dança para celebrar a paz que invade os corações? A arte! Ela sempre nos aponta uma resposta, mesmo que ela não saiba. Arte de fazer som com os copos, arte de resgatar canções de ninar de longínquos países. Arte que nos faz rir, nos faz chorar, nos faz gente. Arte que nos lembra que a coisa tá tensa, mas que acreditamos. A solução dos problemas todos passa por aí.  É preciso saber o chão que se pisa para não ser ingênuo, mas é preciso ter alegria e esperança ao anunciar que outro mundo é possível.

Sim, ele é. Fernando, o garoto cabeludo que dançava uma ciranda na abertura do Concílio de Lins, voltou e impressionou geral ao mostrar o retrato da presença da PJ no Sul 1. Onde estamos? Quais possibilidades nós temos? Não há como não se assustar com a realidade? Não há como não se empolgar com ela também. Bem vindos à nossa terra. Semeando ousadia e profecia.

Outra ponta se fecha. Como não tratar daquilo que nos motiva e nos inspira. Maristela nos trouxe a Boa Nova retrabalhada. Um dos pilares da nossa espiritualidade foi refletida, meditada e contemplada. Fizemos a leitura orante sobre a passagem: Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua Justiça. O Reino não se espera, o Reino se busca. Ele não está nos Céus. Os sinais dele devem ser vividos aqui.  A justiça não está na lei, mas no acolhimento e no fortalecimento dos mais indefesos. Assim como fez aquele galileu moreno, um tal Jesus.

Ser seguidor de Jesus e ser Igreja. São tantas dores no meio caminho com embates aqui e ali que alguns pejoteiros pensam em desanimar. A figura e a palavra do Papa vêm nos animar. Há esperança, nos relembra o Pe. Edgar. Pode-se construir algo novo e bom. Nossa história já apontou isso. São mais de quarenta anos de experiência feita de erros e acertos. Temos coisas bonitas para contar. Sabemos que temos características próprias e devemos valorizá-las. No entanto, não é hora de fixarmos o olhar nas diferenças, mas naquilo que nos une por um propósito maior. Já temos inimigos demais. Não é hora de caçar outros. É hora de seguir fazendo a história e semeando a Civilização do Amor. Obrigado por sempre nos lembrar disso, Roberta.

Tantos encontros, tantos presentes. Não há como não se emocionar quando se vê a história toda passar diante dos próprios olhos. Não há como não ficar com um sorriso nos lábios com relatos que se ouve, com histórias bonitas de vida e de doação, de protagonismo juvenil e feminino. De ver a irmã Nádia conduzindo a celebração, de podermos comer no chão, lado a lado com companheiros que conhecemos há pouco tempo, mas que a identificação nos faz crer que temos tanto em comum.

Sim, priorizamos. É esta nossa hora e o tempo é pra nós. Priorizamos o pé dentro e o pé fora. Que chegue em todo canto a nossa voz. A PJ no estado todo quer incentivar a formação e as parcerias e diálogos com movimentos e pastorais sociais. Não queremos ser só intra, mas não também não somos só extra. Nós nos formamos e semeamos as canções no vento.

Nossa organização, atividades e planejamentos são elementos estratégicos para alcançar as nossas prioridades. Foram momentos de muita conversa, conduzidos e animados pela Sylene, companheira e assessora nestes três anos junto comigo e pelo Eder, “novo” companheiro de caminhada. 

Toda essa discussão que avançou noite adentro, foi um ganho enorme, no meu modo de ver. Mas o maior avanço foi que todas as nossas subs saíram da assembleia numa mesma pegada, numa mesma linguagem e com conversas dentro da mesma perspectiva já avançadas. Dá para fazer mais. Mas para isso é preciso firmeza de não se deixar engolir pelo cotidiano e pelo ativismo.

Ah, como é bom celebrar. Foi bom ter notícias do mundo de lá, daqui e de tantos cantos. Bom saber que partimos, mas que ficam pessoas melhores. Bom dar e receber abraços, apertados, pejoteiros. Bom chegar, bom partir, seja com, seja sem planos. Bom saber que as portas estão abertas. Bom é saber que “o trem que chega é o mesmo trem da partida e que a hora do encontro é também despedida”. E que a plataforma desta estação, desta pastoral, destes anos de história é a vida deste meu lugar. 

Obrigado aos antigos e novos coordenadores regionais. Obrigado por me proporcionarem este crescimento e este aprendizado. Obrigado a toda turma do regional Sul 1. Obrigado pelas palavras de ânimo, pela confiança na conversa e pelos ouvidos e olhos atentos. Obrigado e seja bendita a nova comissão regional de assessores. Que vocês sejam gente que chega pra ficar. 

Volto para minha casa, minha família, meu chão. Volto livre e feliz. Não carrego comigo o sabor amargo de uma cerveja quente e vencida, mas o sabor adocicado e juvenil de um milk shake de morango com chocolate. Novos projetos se abrem e novos sonhos e desafios pintam no horizonte. E é para lá que eu vou! De sandália no pé, com o embornal do lado, lançando as sementes e cuidando da terra. Para novos encontros. A gente se vê na luta.

4 comentários:

  1. Gesiane, pode aproveitar do blog como quiser. Imprimir, compartilhar, citar. Obrigado pelas palavras. Coragem aí! Abraço

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  2. Texto Incrível, parabéns pela linda historia de doação e luta!
    Forte abraço!

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  3. a Rogerio , nem nos conhecemos pessoalmente mais queria te agradecer de cara,e de coração a sua caminhada e serviço prestados a PJ meu rei, pode ter certeza ela ecoa e reflete para mim e muitos como exemplos de perseverança , exemplos de doação exemplo de Entendimento, amor e Alegria de servir a Causa do reino por meio dessa Paixão que se chama Pastoral da Juventude.
    Não sou muito bom com adjetivos e nossa nem se comente as concordâncias kkkk, más acompanho suas publicações a muito tempo a ponto..sempre se esforçando para refletir e entender o que se passa com nossa juventude.
    Nesse ano de 2014 você encerra um grande ciclo e eu estou retornando um aqui em Sorocaba na qual sei que você é sempre bem querido!!!! kkkk espero Que Deus Continue Iluminando você e sua família e que ele possa nessa caminhada ai fazer com que nós encontremos kkkkk abraços #aquiláemqulaquerlugar

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