sábado, 19 de abril de 2014

Falando de estratégias e táticas

A palavra strategia, em grego antigo, significa a qualidade e a habilidade do general. A palavra vem do grego: stratègós: de stratos (exército) e ago (liderança). Este líder, o general no caso original, passou a se posicionar mais à distância, no alto das colinas, de onde podia observar o campo, adquirindo um maior potencial para selecionar a melhor posição e o melhor conjunto de manobras (do grego tatike – tática) para vencer a batalha e, mais provavelmente, a guerra.

Em termos bem gerais, estratégia é onde queremos chegar e tática é como devemos fazer para chegar. Por falar em pastoral, quando nos referimos à estratégia, ou seja, liderar (agos) este exército (stratos), ou os grupos que nos são confiados, estamos falando em planejamento estratégico.


Uma boa estratégia não se prende a uma única tática. Deve ter várias, algumas simultâneas, mas todas integradas entre si. As táticas não são ações que devem durar muito tempo. A estratégia pode até ter um prazo mais longo e é geral. As táticas, porém, são específicas.

Em termos práticos e pastorais, o que isso significa? É só reunir a turma, sentar e escrever as estratégias (onde quer chegar) e as táticas (como fazê-las) para avançar? Não é bem assim. Precisamos de mais clareza. Você está na sua realidade local (paróquia, diocese, grupo) e tem problemas genéricos batendo a sua porta. Há incêndios a todo o momento aparecendo e você acha que a equipe não vai dar conta de apaga-los todos. O que se deve fazer? 

Há problemas gerais e problemas decorrentes. Há problemas urgentes e problemas secundários. A primeira coisa a ser feita é pensar no que é prioritário. Mas nem sempre a prioridade é atacar o problema mais geral. Pode parecer um erro não atacar um grande nó, pois se ele fosse desatado, muitos outros problemas estariam resolvidos. 

A opção por atacar um grande problema está na avaliação correta dos seus recursos. É prioritário realmente atacar o problema ou é possível conviver com ele? Disse Jesus: “Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, será que não vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto o outro rei ainda está longe”. (Lc, 14, 31-32). Ou seja, definir prioridades está dentro daquilo que seus recursos disponibilizam. É mais prudente buscar alternativas do que avançar numa ação inglória.

Imagine que a PJ de determinada diocese definiu que sua prioridade naquele ano seria a nucleação de grupos de jovens. Eles avaliaram se com o pessoal disponível daria conta de acompanhar os novos grupos e ajudar na formação das novas coordenações, se este mesmo pessoal teria a formação e o tempo necessários e acabaram decidindo que aquela era uma necessidade urgente. Qual o próximo passo? Definir estratégias e táticas.

Eles irão dar conta de nuclear grupos em toda diocese? Caso não consigam, por onde irão começar? Pelos lugares com pouca ou nenhuma articulação? Onde conseguem algum apoio? Onde já existem grupos? Onde existem grupos sem identificação com PJ? Uma boa estratégia neste caso leva em conta, por exemplo, as perguntas acima. Respondê-las bem fará com que se defina a melhor estratégia de atuação.

A coordenação diocesana optou por articular as regiões onde já existem grupos pejoteiros. Avaliaram que estes grupos podem contribuir mais de perto no acompanhamento dos demais. Esta é uma primeira tática: sentar com os grupos aliados e contar com a ajuda deles, pontuando onde podem contribuir.

Avaliar onde estão os obstáculos e dificuldades naquela região que poderiam dificultar a nucleação dos novos grupos é outro passo importante no desenho das táticas. Conhecer bem estas realidades pode transformar um problema numa oportunidade. Por exemplo, conheci já diversos padres que não gostavam da PJ por “ouvir falar” mal dela. Quando se é insistente e se demonstra pelos documentos, projetos e ações que aquilo não é bem como eles ouviram, o voto de confiança é dado.

A PJ é conhecida por formar boas lideranças, ou seja, formar gente aguerrida, apaixonada, dedicada, que estuda, discute, reza, pesquisa, debate e se envolve por completo. É uma vantagem estratégica fantástica. Corre-se, no entanto, a tentação de adotar práticas que não correspondem à identidade pastoral para que os resultados possam aparecer num curto prazo.

Para se evitar isto, é preciso que se tenha muito claro que antes das prioridades, antes das estratégias, antes das táticas pastorais, somos gente de princípios. Princípios humanos, cristãos, éticos, pastorais e pejoteiros. Na ação pastoral, muita coisa é possível negociar. O que não se pode abrir mão são justamente dos valores que nos identificam e dos princípios que nos norteiam.

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