segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O caminho a ser percorrido

No texto anterior, tratou-se aqui dos propósitos e conversas que cercam os momentos anteriores ao pensar a assembleia. Foram discussões válidas e importantes, pois estávamos no momento de avaliar o terreno. Não se tratava de prepará-lo para o plantio, cultivo e colheita. Esta etapa começa agora.

Vamos falar da metodologia da assembleia. Antes de qualquer coisa, olhemos para a palavra método. Sua origem é grega, methodos. Ela é uma palavra composta por outras duas: meta (através de, por meio) e hodos (via, caminho). Quando estamos usando um método, pensamos no caminho, trilha, trajeto ordenado pelo qual um objetivo pode ser alcançado. E quando pensamos em caminho ordenado, pensamos em processos, etapas. Um método bom é aquele que é construído em comum e no qual todos os caminhantes podem crescer e colher os frutos que estão lá adiante, no objetivo.

Contudo, para que ele seja alcançado, os caminhos podem ser vários. Uns podem ser trilhas estreitas, onde poucos passam, outros podem ser avenidas largas, porém perigosas. De qualquer forma é preciso ter uma meta, senão, como nos lembra Alice, aquela do País das Maravilhas, “quando a gente não sabe para aonde vai, qualquer caminho serve”. Já se tratou disso aqui, no texto do Caminho da Vaca, lembra?


Mais do que indicativos de como preparar uma metodologia para uma assembleia de PJ, eu queria deixar aqui perguntas. Como foi colocado no primeiro texto, estas atividades podem ter os mais diferentes formatos. Não é minha intenção abarcar a todos, mas deixar dicas que possam servir a um maior número de jovens e assessorias.

Os primeiros passos para situar este “melhor caminho” é o de se pensar a realidade dessa assembleia num contexto mais amplo.  Este é um evento que deve contribuir com a vida recente da pastoral, no campo das suas ações e das suas relações, observando o contexto eclesial em que se vive. Além disso, para contribuir, ela também precisa levar em conta como anda o relacionamento orgânico com outras pastorais, movimentos e/ou entidades.

Por que este olhar é importante? Porque não vivemos isolados. Não sei quais são os frutos que a sua assembleia quer colher lá adiante, mas sei que sozinhos terão boas e grandes dificuldades. Por isso eu disse que para ser produtiva, é importante que se pense na organização interna da pastoral em vista de sua missão, bem como a atuação orgânica com outras pastorais, no campo interno da Igreja e com entidades parceiras no campo externo.

E como se pode colocar este olhar em prática? Para ser um espaço de discussões e encaminhamentos relevantes, a assembleia precisa falar da vida e ter o que dizer de significativo para ela. No desenho do caminho, da metodologia da assembleia, é preciso responder a pergunta básica: estamos partindo da vida, da realidade vivida pelos jovens ou partindo da doutrina ou dos nossos desejos?

Partir da doutrina apontaria para uma assembleia com o indicativo de falar o que é o certo e o errado, o bem e o mal. Neste sentido, a realidade deveria se encaixar na doutrina e não a doutrina ajudar a iluminar a realidade. Não creio que seja um jeito bom de começar a caminhada.

Partir dos sonhos, do desejo traz um sério risco de dar mais valor ao fruto e ao destino do que ao processo e à caminhada. Em nossa vida pastoral, sabemos que o crescimento das pessoas e da ação está mais voltada ao dia a dia do que ao objetivo final. Ou seja, os meios conduzem ao fim e não o fim que justifica os meios.

Ao partir da vida, fazemos a caminhada como se deve. Se quisermos chegar a qualquer destino, primeiro saímos do nosso chão. E ao fazê-lo, também nos perguntamos: Tratamos da realidade de uma juventude como participante, destinatária e protagonista da ação pastoral? 

Esta decisão é marca da nossa atuação pastoral e deve estar refletida na assembleia. Já vi várias delas em que a juventude não tinha espaço para partilhar. Era tratada como somente como ouvinte. Outros é que diziam o que ela vivia e em que conjuntura social e eclesial estava. Claro que precisamos de especialistas para clarear a realidade, mas precisamos também ouvir o que os jovens representantes de suas comunidades de origem também têm a dizer. Isso alarga os horizontes.

Além de falar de suas vidas e experiências, a assembleia também é lugar de motivação. Já foi dito aqui que uma grande tentação ao falar da realidade que vivemos é de fortalecer o aspecto negativo. Está tudo difícil. E se focarmos basicamente nisto, como nos animarmos para transformar? Como conseguir abrir um olhar para ir além? E motivar a caminhada? E inspirar-se a continuar?

Um bom roteiro de caminhada, uma boa metodologia dispõe de momentos em que estas reflexões são trazidas a tona. Afinal não somos herdeiros de uma utopia barata. Somos seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré e isso já diz muita coisa. Além disso, temos também uma longa história de gente que fez opção pela vida, dentro da pastoral e ao longo da caminhada da Igreja. Isto tudo ajuda a animar.

Mas uma assembleia tem que ser prática também. Há algumas que tem o caráter de avaliação, outras mais de planejamento, outras o lado eletivo se sobressai. Este é o formato. O importante não é ele, mas a missão pastoral que está por trás. Pensou no fruto que falamos no começo? Aqui ele começa a tomar corpo, volume e sabor.

E este também é o momento em que disputas e conflitos podem acontecer, seja pela defesa de posições, seja pela ignorância de processos pastorais. Quem pensa a metodologia não pode ignorar esta característica, muito menos pensar em formas de impedir que se manifestem. O que deve favorecer é que a disputa se dê no campo das propostas em vista da missão. Conflitos são importantes para o crescimento. Há em nossa história pastoral vários deles e foi por causa deles que chegamos onde estamos.

Em linhas gerais, as dicas que apresento para a metodologia seguem este desenrolar: partir da vida da juventude, suas relações dentro da conjuntura social e eclesial, animar-nos com o testemunho e proposta de Jesus, bem como o de seus seguidores e focarmos na missão da pastoral. E, como um acréscimo, a partir disto tudo, pensar na melhor forma de nos organizarmos para cumprir esta missão.

É no passo da organização para a missão que fechamos o ciclo aberto no começo do texto. A organização precisa ser aberta a parcerias, seja com outras experiências pastorais, seja com organizações e movimentos extra eclesiais. O Reino de Deus não é exclusivo nosso. É feito por muitas mãos. 

Para ajudar mais neste assunto, lembro de dois textos já publicados aqui. Um tratava da metodologia de maneira geral para a Pastoral da Juventude, e outro falava justamente destas parcerias. São duas dicas de leitura para aprofundar. 

No próximo texto, alguns olhares sobre o tema que dá suporte a todos os demais temas relacionados à assembleia: infra-estrutura. Vai ser um bom papo.

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