terça-feira, 15 de julho de 2014

Fragmentos de uma utopia

Era 12 de julho. Dia de sol. De manhã eu me encontrara com muitos amigos, companheiros de caminhada. Rimos, comemos, bebemos juntos. Depois do almoço, cada um foi para o seu canto. Ia ter jogo da seleção. Era o último jogo do Brasil naquela Copa do Mundo. Muita gente ligada. Eu, pessoalmente, não me importava muito com o resultado.

Mas era o Brasil em campo. De um lado a seleção local. Do outro uma finalista da última copa do mundo. Países de tradição. Muita rivalidade. O último encontro entre os times havia sido marcante, mas não dera ao vencedor o título daquela Copa.

Como eu disse, eu tinha outras preocupações. Nem mesmo a derrota do Brasil por três a zero me abalaram. Eu havia feito uma longa viagem. Saíra de casa no dia anterior. Almoçara numa cidade e estava agora ali, comendo um churrasco com gente que eu acabara de conhecer, na periferia de um município que eu nunca havia pisado antes. Parece que foi por estes dias. Mas isto aconteceu há 16 anos.


Era 12 de junho de 1998. Eu estava em Penápolis, depois de ter festejado com tantos e tantas jovens deste Brasil a abertura do III Concílio de Jovens em Lins. A expectativa era tamanha pelos dias que seguiram que eu não me importara que o Brasil houvesse perdido para a França a final da Copa do Mundo daquele ano. E nem que o placar tivesse sido tão elástico.

Eventos de massa não são tão bem vistos pela turma da PJ, mas não há como não falar sobre os impactos que provocam e as marcas que deixam. O risco de você se tornar massa, estatística é grande. No entanto é possível que isto não aconteça, ainda mais se o evento for bem pensado, se tiver uma metodologia que conte com a contribuição e o aprendizado pessoal e se contar com uma grande rede de colaboradores antenados com a proposta.

Foi o que aconteceu lá e foi esta uma das boas lições que eu trouxe para minha vida. Todos os jovens conciliares foram esparramados pela diocese de Lins, por diversas paróquias, obras, ocupações e comunidades, nas mais diversas cidades.

Naquele momento eu era membro da coordenação diocesana da PJ de São Miguel Paulista. É curioso pensar que nestes dias eu estava no meio de jovens do país inteiro, podendo aprender e compartilhar conhecimento, afetos, piadas e curiosidades. Três anos antes eu nem sabia como a diocese se organizava. Dois anos antes eu havia participado de minha primeira assembleia estadual. Tudo ainda era novidade. Tudo me encantava. Tudo ainda me encanta.

Eu tinha 25 anos “de sonho e de sangue e de América do Sul”. Penápolis foi a minha primeira experiência de missão jovem. Talvez tenha sido a primeira vez de muitos que estavam ali também. As missões eram uma novidade recente no trabalho pastoral. E como era bom rezar com as famílias, ouvir suas histórias, rir um pouco, comer e beber com eles (nunca tomei tanto cafezinho). E as atividades paroquiais pela noite foram todas bem marcantes.

Voltamos todos para Lins depois de quatro dias de missão. Lá, teríamos dois dias de formação, uma pela manhã e outra pela tarde. De novo fomos reorganizados pelas paróquias e comunidades. Eu não me lembro de ter me cansado, mas me lembro da alegria de reencontrar minha turma e podermos partilhar tudo o que ocorrera naqueles dias anteriores.

Numa das noites, a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida chegou ao ginásio. Vinda da Basílica Nacional, ela estava lá para acompanhar a IV Romaria Estadual da PJ do Sul 1, evento que fecharia o Concílio. Tivemos a missa no domingo e depois um show de Sá e Guarabyra.

Uma semana. Imersos numa outra realidade que adotamos como nossa, voltamos revigorados para nossas aldeias. De volta ao nosso chão, quisemos colocar em prática o desejo de querer a utopia, tudo e mais; de querer a alegria e muita gente feliz e de ver a justiça reinando em nosso país. Cantamos muito o Coração Civil. Um dos muitos hinos escolhidos para aqueles dias.

Sim, foi um evento. Ele poderia ter se tornado vento e passado, sem que ninguém mais se recordasse dele. Mas marcou a atuação pastoral, minha e de tanta gente boa por aí. É chão percorrido e letra rubra e forte no livro da vida. Enquanto existir gente teimosa que queira recordar a história, a história resiste. Enquanto houver gente disposta a ouvir a história, a história cativa. E enquanto existirem histórias, a história se transforma. Graças a Deus.

Um comentário:

  1. Eu estava lá. Hoje sou padre no Maranhão e trago no meu coração muito daquele tempo. Rogério, obrigado por ter trazido à memória aqueles dias fantásticos.
    ....pois na vida davgente o que importa é o amor....

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